sábado, 13 de abril de 2024

Desiludidos

Texto de: Alexandre Paredes 








É muito comum ver pessoas descrentes de Deus porque se desiludiram com a religião instituída pelos homens.

 

Sentiram-se enganadas por falsos religiosos que se locupletaram com o dízimo de seus fiéis ou pelas falsas promessas de resolução fácil de seus problemas por meio de barganhas com a Divindade.

 

Há quem aponte, com razão, as inúmeras falhas da sua religião, quando incute em seus seguidores ideias de culpa injustificada, punições divinas para os menores deslizes de suas criaturas, bem como regras de conduta rígidas e draconianas, distantes da esperada misericórdia do Alto.

 

Já ouvimos falar até mesmo que “a Religião é o ópio do povo”, numa clara menção de que as religiões seriam tão somente um engodo articulado e usado por pessoas de má-fé para manipulação do povo, mantendo-o dócil, para que não se levante contra as injustiças daqueles que se beneficiam da ignorância das massas.

 

Muitas pessoas até dizem que a Religião é um dos males da humanidade a ser combatido, haja vista as guerras religiosas, o fanatismo, a hipocrisia e os conflitos psicológicos que, supostamente, seriam fruto do ensino religioso.

 

Ora, há que se separar a Religião dos religiosos de toda espécie; há que se separar o que é de essência divina e o que é erro humano.

 

Culpar a Religião pelos desatinos dos religiosos é o mesmo que culpar a Medicina pelos erros dos médicos negligentes, mercenários ou daqueles que abusaram de seus pacientes.

 

Negar a Religião pelos desvios da essência de seus ensinamentos pelos homens é o mesmo que negar a Educação por conta dos desvios de educadores que se utilizam da escola para praticar violência contra crianças ou para disseminar ideias torpes.

 

Condenar a Religião pelas guerras religiosas ou pelo extremismo de alguns fanáticos terroristas não é muito diferente de condenar a Filosofia porque alguns filósofos disseminaram ideias que fomentaram o suicídio ou o genocídio.

 

Da mesma forma, encontramos os desenganados com a Política, porque acreditam ser ela uma fonte de corrupção, lugar de pessoas interesseiras e palco de todo tipo de homens que se utilizam da credulidade do povo para obterem benefício próprio.

 

O mesmo se dá com a Ciência, quando homens do meio científico dedicam seus esforços, sua inteligência e talento para criar armas de destruição em massa.

 

Mas não é porque alguns homens usam a Ciência, a Política, a Filosofia, a Educação, a Medicina e até mesmo a Religião para praticar o mal, que estas sejam más em sua essência.

 

Cada ramo da atividade humana é realizado por seres humanos, falíveis, inclusive a própria Religião. Mas em toda instituição do mundo que visa o progresso do ser humano encontramos traços da presença de Deus.

 

A Ciência vem nos descortinar a grandeza da obra de Deus, quando nos mostra a vastidão do Universo, suas leis, suas galáxias, bem como a grandeza das pequenas coisas, como os átomos, onde repousam os maiores mistérios a serem desvendados.

 

A Política, por inspiração do Alto, vai, pouco a pouco, se tornando uma instituição a serviço do próprio homem, mesmo que o egoísmo e o interesse próprio ainda dominem o panorama geral.

 

A Filosofia inspira o homem a pensar sem as amarras das paixões e dos dogmas, e a buscar a verdade pela razão iluminada, em que pese haver aqueles filósofos que se entregam a uma Filosofia carregada de orgulho, vaidade e prepotência.

 

A Educação tem sido fonte de progresso, à medida que transforma a realidade das pessoas, dando-lhes oportunidades que lhes possibilitem estar inseridos na sociedade e serem novos agentes de transformação, apesar de haver educadores descompromissados com tão nobre finalidade.

 

A Medicina vem, numa velocidade vertiginosa, se tornando uma ferramenta de cura e de alívio para os sofrimentos da humanidade, sendo um instrumento da misericórdia do Criador para minimizar as aflições humanas, embora o enriquecimento às custas do sofrimento alheio ainda seja um valor tão visado entre as pessoas que labutam nessa área.

 

E na Religião, encontramos o “faça ao outro o que deseja que o outro faça a você mesmo”, “o amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Se os homens perdessem todos os seus livros sagrados e se esquecessem de todos os seus cultos e rituais exteriores, mas se lembrasse tão somente de praticar essas máximas, o mundo seria outro.

 

E quando chegar esse dia, a Religião será desnecessária, e todas as atividades humanas serão mais fortemente iluminadas pela presença de Deus, e Ele será encontrado não somente nos templos, mas no coração de cada um de nós.

 


quarta-feira, 17 de janeiro de 2024

Esperança

Poema de: Alexandre Paredes



Noivos se casam esperando que a felicidade nunca termine

E casais se separam esperando encontrar a felicidade também

O semeador semeia esperando que um dia a semente germine

Pais educam os filhos esperando que eles sejam pessoas de bem

 

O atleta se esforça porque espera alcançar a glória da medalha

A bailarina suporta dores nos pés esperando alcançar a perfeição

Os oprimidos e os injustiçados esperam a justiça que nunca falha

E os desesperados esperam o milagre que lhes traga a salvação

 

Há quem infrinja dor a si mesmo esperando aliviar a dor moral

Há também quem fuja da dor esperando não mais encontrá-la

Mesmo sem esperança, espera o fim da dor após o golpe final

E há ainda quem espere a morte visando à libertação almejada

 

Quantos há que esperam a vida inteira sem nada fazer por ela

E há quem trabalhe uma vida inteira esperando uma vida plena

Há quem diga que esperança é só ilusão que detém quem espera

Outro diz que a esperança é virtude que torna a vida mais amena

 

Sem esperança, nada se constrói, nada se intenta, nada se começa

A falta de esperança gera o vazio do nada, do nada que nada gera

A desesperança leva à apatia, ao torpor e à dor que não se expressa

Onde não há esperança, a inconsciência, a anestesia na vida impera

 

Mas, na verdade, a esperança é como o Sol que nunca se aniquila

Ele até pode se esconder de noite, mas sempre brilha durante o dia

A gente pode dar as costas para a esperança, escurecendo o nosso ser

Mas ela sempre ressurgirá no horizonte, fazendo um novo amanhecer

 


quinta-feira, 12 de outubro de 2023

Pregações

Poema de: Alexandre Paredes 









Não tente converter ninguém à sua fé

Se a palavra esclarece, ela também afasta

Quando recomenda ser o que você não é

E se a palavra convence, o exemplo arrasta

 

Em vez disso, viva conforme o que se prega

Só o bem convence alguém a se modificar

E para a pessoa que quer permanecer cega

Somente o tempo e dor trarão o despertar

 

Como quem crê num Deus de infinita bondade

No Pai Nosso que faz nascer o Sol para todos

Poderá fazer alguém crer nesse Deus de verdade

Se ele trata como irmãos apenas uns poucos?

 

Se alguém prega simplicidade e desprendimento

O desapego aos bens terrenos, à beleza e à fama

Mas vive em função do corpo e do carro do momento

Sua pregação é sem proveito e a si mesmo se engana

 

Como alguém que prega o amor ao semelhante

Ao ponto de amar o inimigo e perdoar toda maldade

Pode ao mesmo tempo ser tão hostil e intolerante

Com quem tem outra crença ou diferente sexualidade?

 

É possível acreditar nas palavras que falam da paz

Ao mesmo tempo em que defendem a pena de morte

Incitam as armas e enaltecem toda violência que se faz

Em nome da religião, citando versículos de toda sorte?

 

Mas a palavra pode ser também semeadura divina

Quando parte de um coração arrebatado pelo amor

Se é aliada às mãos que operam, é fogo que ilumina

E aproxima o homem do homem, e do seu Criador

 


segunda-feira, 15 de maio de 2023

Gênese das Doenças e Cura

Texto de: Alexandre Paredes


 









A raiz de nossas doenças encontra-se em nossas emoções, crenças, sentimentos, condutas e padrões de comportamento.

 

O caminho da doença é de dentro para fora. Então, a cura real de nossos males também só pode acontecer de dentro para fora.

 

Sentimento de culpa, medos persistentes, inflexibilidade, ressentimentos, raiva guardada por muito tempo, descrença na capacidade de ser feliz, falta de alegria de viver, auto-rejeição, baixa autoestima, traumas ou experiências não bem digeridas e tantos outros comportamentos ou estados negativos são a “fôrma"; a doença é só a “fórma".

 

Os agentes patológicos somente se instalam onde encontram “alimento”. Pouco adianta, por exemplo, dedetizar uma casa cheia de baratas se essa casa não for devidamente higienizada todos os dias. Matam-se as baratas, mas se deixamos alimento espalhado pela casa, novas baratas aparecem.

 

Nosso corpo físico é nossa casa. O alimento das doenças são os padrões emocionais e mentais negativos. Quando dizemos que nossa imunidade está frágil, a raiz dessa fragilidade está na mente e nas emoções. Matam-se as bactérias, os vírus, cura-se o corpo, mas se não atuamos na raiz, novas doenças surgem.

 

Não estamos, com isso, desprezando os fatores ambientais e físicos que impactam a saúde, como alimentação, sono, desgaste, contaminação, hábitos de vida, saneamento básico. Porém, os fatores preponderantes na gênese das doenças estão na mente e nas emoções.

 

Até mesmo nossos vícios, como excesso de bebidas alcoólicas, fumar demasiadamente, abusar de drogas ilícitas, vício por jogos, entre outros, somente se instalam quando há uma predisposição psicológica que os sustentem.

 

Essas afirmações parecem estranhas quando vemos doenças genéticas, doenças que se instalam desde a infância ou de nascença. Mas isso ocorre porque não começamos a existir quando nascemos neste corpo físico da vida atual. Já vivemos antes, tivemos outras existências físicas, e herdamos um passado de padrões emocionais e condutas cujas consequências se refletem na vida atual. Da mesma forma, padrões emocionais, mentais e condutas da vida atual se refletirão nesta e em vidas futuras.

 

Entendendo essa lei da vida, compreendemos melhor que não estamos submetidos às leis do acaso ou de um efeito randômico, que escolhe aletoriamente as pessoas que ficarão doentes. A doença é sempre um convite para reflexão, para um olhar para dentro. Mas pode ser também somente uma prova escolhida por nós mesmos antes de nascermos, porque entendíamos que ela teria um papel educativo e necessário para nossa alma.

 

Enquanto a medicina terrestre olhar somente para matéria, estará olhando somente para a ponta do iceberg. Embora a medicina convencional, consiga combater doenças, com os seus mais variados nomes e classificações no Código Internacional de Doenças, o ser humano continua doente. E enquanto houver doentes, haverá doenças.

 

Somente haverá cura real quando houver a cura do ser humano naquilo que ele tem de mais profundo.


quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Porta Estreita

Texto de: Alexandre Paredes



Não é sobre o que a vida fez com você. É o que você faz com o que a vida fez com você.

 

Se fôssemos simplesmente produto do meio, o meio seria produto de quem? Se a sociedade nos corrompeu, quem corrompeu a sociedade?

 

Não importa se somos influenciados pela sociedade, pela educação, pela família, pela religião, pela nossa herança genética, pelas nossas condições sócio-culturais, pelas condições ambientais, pelos astros, enfim: Sempre somos capazes de dizer sim ou não, de pensar e fazer diferente, ainda que nossas escolhas nos custem caro.

 

Afinal, dentro de cada um de nós existe uma sentinela chamada consciência. E ela sempre avisa quando o caminho que resolvemos tomar não é bom, ainda que esse caminho seja o mais frequentado pela multidão.

 

Nadar contra a corrente é sempre mais difícil. Porém, seguir o fluxo da corrente, seguir o fluxo da maioria, seguir o fluxo das más paixões é, na maioria das vezes, calar a nossa própria consciência e semear a colheita indesejada obrigatória do porvir. E isso, a longo prazo, é bem mais penoso.

 

Por isso é que Jesus nos alertava de que “a porta é estreita” e “quão apertado é o caminho”, porque é preciso fazer grandes esforços para não se deixar levar pela corrente e ouvir a própria consciência.

 


quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

O Bem e o Mal

Poema de: Alexandre Paredes










O mal é sempre temporário, por mais longo que pareça

Porque, intimamente, todos querem a paz e a felicidade

Todos caminham para o bem, ainda que a alma adoeça

Ainda que leve muitas vidas, fragmentos da eternidade

 

Mesmo que a alma se perca durante várias reencarnações

Na prática do mal, adquirindo débitos perante a Lei Maior

Novas chances lhes serão dadas para reparar as más ações

Para aperfeiçoar-se cada vez mais e tornar-se alguém melhor

 

Pois não faz sentido que um Deus de suprema sabedoria

De infinita misericórdia e justiça, pleno de amor e bondade

Possa relegar suas criaturas à eterna perdição de dor e agonia

Sem lhes oferecer um novo recomeço em nova oportunidade

 

Também não haveria lógica o Pai ter-nos criado para o nada

Porque seria um grande desperdício a alma existir para morrer

Adquirir amor, sabedoria, virtudes e dons, para ser destinada

Ao vazio da não existência, para então perecer, deixar de viver

 

Somente com a imortalidade da alma se concebe a Criação

Pois Deus não teria criado tão grande obra para ninguém ver

O Universo não é um amontoado de poeiras sem destinação

Pois tem nos seres inteligentes da Criação a sua razão de ser

 

E apenas a destinação da alma para o bem e plena felicidade

Condiz com a grandeza da Obra do Pai, porque do contrário

Seria crer que de um Ser Perfeito pudesse surgir a maldade

E que um inferno eterno fosse para muitos o fim do itinerário

 

O mal é somente etapa de aprendizado, fruto da liberdade

Que a criatura tem de escolher a cada passo da sua existência

Porém, a escolha do mal conduz sempre à dor e à infelicidade

Enquanto o bem é a voz que ressoa no interior da consciência

 

O aguilhão da dor adverte a criatura de que precisa se corrigir

De que é necessário aprender algo que ainda não foi aprendido

De que precisa mudar seu rumo para semear um melhor porvir

E que para não mais sofrer, deve escutar a voz do Amor Infinito

 

O bem supremo é, então, a finalidade de tudo que Deus criou

Desde o simples átomo à vida, e do pequeno verme ao Anjo

Desde o animal ao ser humano, e deste Àquele que mais amou

Tudo caminha para o Pai, a cada vida, a cada degrau, a cada ano

 

O roteiro foi traçado por um carpinteiro dois mil anos atrás

Conforme as páginas inolvidáveis do Evangelho do Cristo Jesus

Quem segue o Caminho a Verdade e a Vida encontra a paz

E quem vive esse roteiro de amor descobre Deus em si e Sua luz

terça-feira, 15 de novembro de 2022

Palestra Saúde e Espiritualidade



 





Live gravada no meu Facebook em 15/11/2022

Pena que esqueci de liberar a rotação do celular. Por isso, a gravação não ficou na posição horizontal. Peço desculpas.

Link abaixo:

https://www.facebook.com/100001506464889/videos/499625112211773/



sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Caridade

Poema de: Alexandre Paredes

 









Um prato de comida não é somente um prato de comida

Pode ser o socorro na hora certa a quem está desesperado

Que, em meio a grande aflição, pensa em tirar a própria vida

Ao ver a mesa vazia e a fome que atormenta o filho amado

 

O agasalho e o cobertor não são somente o aquecimento

A singela doação pode ir além daquele ato despercebido

Não protege o sofredor apenas das intempéries do tempo

É o sol da esperança que aquece ao toque do gesto amigo

 

Uma visita ao doente na hora amarga não é só uma visita

Aquele tempo despendido no pequeno gesto de consolar

Pode ser um farol na existência da pessoa enferma e aflita

Que se recordará do bem diante de novas lutas a enfrentar

 

A moeda nunca é pequena demais a quem não tem nada

Pode ser um grande alívio para quem teve um dia difícil

Notar que alguém se importa o incentiva a seguir a estrada

E a se levantar da cama outra vez para tentar um novo início

 

Às vezes, aquilo que lhe parece pouco pode ser o bastante

Para tirar o outro do lamaçal e ajudá-lo a seguir em frente

Ou para fazê-lo se lembrar que Deus existe por um instante

Dando-lhe outro impulso para viver e acreditar novamente

 

Nem sempre temos condições de dar o que o outro precisa

Mas nunca nos faltará a oportunidade de abrir nosso coração

De escutar a dor do outro ou de oferecer-lhe a palavra amiga

De tratar o próximo com respeito e de abraçá-lo como irmão

 

A caridade é praticada de mil modos, que vão além da doação

Mas ela só é verdadeira quando realizada sem pensar em si

Quando não exige do outro pagamento de tributos de gratidão

E somente quando não se imagina que o beneficiado irá retribuir

 

Caridade é, sobretudo doar a si mesmo, é amor em movimento

É oferecer a outra face àqueles que nos ferem ou fazem sofrer

É endereçar a quem chora uma prece ou um bom pensamento

Mas também exercitar a paciência e vivenciar a alegria de viver

 

Há grande caridade quando alguém silencia diante da ofensa

Quando a gente conserva o olhar distante do infeliz julgamento

E exerce o serviço com humildade sem desejar recompensa

E quando a gente vigia a palavra e conserva puro o sentimento

 

A caridade bem compreendida é fazer o bem sem humilhar

É ajudar o próximo e, ainda assim, sentir-se o beneficiado

Porque quem socorre sabe que aquele momento irá passar

E amanhã qualquer um de nós poderá estar do outro lado

 

A caridade bem sentida é saber se colocar no lugar do outro

Fazendo a todos aquilo o que gostaríamos que nos fizessem

Demonstrar sincera compaixão, empatia, amor nunca é pouco

São esses pequenos gestos que as pessoas jamais esquecem

 

Mas não existe uma caridade mais sublime do que o perdão

Não é à toa que a palavra perdoar significa “doar por inteiro”

Porque aquele que perdoa ilumina tudo e deixa a maior lição

De libertação, bondade, fraternidade pura e amor verdadeiro


domingo, 9 de outubro de 2022

Imagine

Poema de: Alexandre Paredes 









Imagine só se, um dia, pudesse a gente

Aportar num imenso país, de repente

Numa época futura de grande tribulação

Onde as pessoas se reunissem em manifestação

Não para reivindicarem mais pão ou liberdade

Nem para melhores condições de sua sociedade

Mas, vestindo as cores da sua bandeira, fossem à rua

Estampar cartazes pedindo a volta da funesta ditadura

 

Imagine só que, nesse futuro imaginado,

De norte a sul, o mundo inteiro tivesse sido assolado

Por uma grande epidemia, que trouxe muita dor e agonia

E nesse país, onde quase 700 mil pereceram na pandemia

O povo tenha sido incitado a visitar hospitais e suas UTIs

Não para prestar solidariedade, mas, com desejos vis

De desmascarar a imaginária farsa criada pela imprensa

Que teria inventado a grande crise causada pela nova doença

 

Imagine só, nesse futuro sem sentido, bastaria ao presidente

Na sua condição de maior autoridade e de modo mais eficiente

Ter ele mesmo visitado os hospitais para constatar eventual embuste

Mas nessa distopia da minha imaginação, não importa o quanto custe

É necessário semear a desconfiança a respeito de qualquer informação

Para que toda a verdade seja relativizada e, assim, manipulada a população

Nessa estória sem pé nem cabeça, a imprensa livre é chamada de lixo

Os repórteres são sistematicamente agredidos, tratados pior do que bicho

 

Imagine um país em que o seu presidente, querendo fazer pouco caso

Da terrível pandemia, imite um paciente adoentado, quase asfixiado

Sob aplausos e risadas de uma claque orquestrada para banalizar a dor

Para que não se manche a figura de messias do presidente salvador

Que chamou a enfermidade que assolou o mundo de simples gripezinha

Só pra não ter que enfrentar o problema, sob pretexto de salvar a economia

Como se não bastasse, ainda por cima, fez campanha contra a vacina

E insistiu em defender aos quatro cantos desse lugar a ineficaz cloroquina

 

Imagine quantos terão morrido vítimas do tratamento não científico

E enquanto o presidente dizia que a vacina causava AIDS, de modo cínico

Quando viu que a vacina foi a salvadora, quis assumir para si os louros

Diante dos esquecidos eleitores, que foram mentindo para si aos poucos

Fingindo que ele não disse que quem se vacinasse poderia virar jacaré

Nem teria mentido dizendo que as vacinas eram experimentais, usando de má-fé

No fim, vale tudo para poder ganhar mais votos, até manter a narrativa falaciosa

De que o país somente teve ampla vacinação graças à sua ação vitoriosa

 

Imagine só, que esse país em luto parece ter voltado à Idade das Trevas

Quando, por conta de crenças religiosas, se realizaram as piores guerras

Em que se usava o nome de Jesus para promover a Cruzada e a Inquisição

Nesse país imaginado, o nome do Nazareno também é utilizado em vão

O Cristo pregou o amor e a compaixão, e ensinou a amar até o inimigo

E disse, ainda, que “aquele que com ferro fere com o ferro será ferido”

Mas o presidente e seus seguidores têm um fetiche por balas e fuzis

Dizendo que, em vez do feijão, as armas são o que o povo sempre quis

 

Nesse futuro, o lema “Pátria acima de tudo, Deus acima de todos”

É repetido como um mantra, que esconde um dos maiores engodos

Pois nessa imaginação de mau gosto, Deus parece ter sido esquecido

Enquanto se defendem os valores cristãos, todo mundo vira inimigo

E a Pátria parece ser somente para aqueles que estão do mesmo lado

O que pensa diferente ou não segue a mesma cartilha é mesmo odiado

De repente, o povo passou a odiar grandes países parceiros, como a China

E pelas palavras desrespeitosas do presidente, quase não chegou a vacina

 

Imagine, foi criada a narrativa de que “nós somos o bem e eles são o mal”

Ressuscitando da Guerra Fria o Comunismo e demonizando a Nova Ordem Mundial

Dois inimigos imaginários, criados para fazer o rebanho se unir e se agrupar

E combater o inimigo do presidente, sob pretexto de defender a família e o lar

Se quem pensa diferente é o mal, então vale tudo, até o opositor ser eliminado

Não foi sem razão, que nessa imaginação, briga política acabou em assassinato

Porque quando somos o bem, e os outros, o mal, todo mal que se faz se justifica

E parece um bem para aquele que defende o bem, pelo menos assim ele acredita

 

Nesse meu delírio, as florestas são queimadas e os culpados são os índios

Parte da população fecha os olhos à destruição de suas matas e rios

As imagens de satélites e os institutos de pesquisas são desacreditados

Aqueles que defendem o planeta são combatidos ou ridicularizados

Ou vistos como conspiradores, que cobiçam as riquezas desse país

Sem notarem que um país sem florestas e águas não tem futuro nem diretriz

Nessa louca nação, muitos gritam a plenos pulmões que “é nosso este chão”

Esquecidos de que pouco restará a defender após a grande devastação

 

Imagine que esse presidente, que nunca escondeu defender a ditadura

Depois que assumiu o cargo, perseguiu sistematicamente, na cara dura

Os demais poderes, incitando seguidores a atacar Judiciário e Congresso

Com o intuito de fechá-los, seja de forma velada ou de modo expresso

Chegando ao ponto de chamar um juiz do Superior Tribunal de canalha

Ameaçando descumprir suas decisões, transformando tudo numa batalha

Para manter-se no poder a qualquer custo, inclusive o da própria democracia

Ameaçando agir fora das “quatro linhas” e, assim, instituir uma autocracia

 

A essa altura, a imaginação parece um pesadelo do qual se quer acordar

Esse imenso país, que tem uma das mais belas gentes que se possa imaginar

Agora se divide entre nós e os outros; a festa da democracia vira uma guerra

Pessoas antes amigas agora se odeiam; não há paz nessa grandiosa terra

A mentira é disseminada de forma articulada, por meio de mídias sociais

E uma realidade paralela, fictícia, é construída; debater ninguém quer mais

O que se quer é tão somente lacrar, derrotar a qualquer preço o oponente

Pra se perpetuar no poder e garantir mais um mandato do messias presidente

 

Imagine, enquanto o povo passa fome, e o desemprego é uma grande aflição

O presidente põe em xeque as urnas eletrônicas, temendo perder a eleição

Antevendo a derrota, semeia a desconfiança; desacredita o processo eleitoral

Que nunca antes foi questionado e sempre foi motivo de orgulho nacional

Então, seus fiéis seguidores começaram a imaginar conspiração e fraude

Inventam evidências de fraudes anteriores, e os juízes eleitorais, debalde

Demonstram a segurança da apuração, com base em fatos peremptórios

Mas, diante do fanatismo e interesse, quaisquer esforços se tornam inglórios

 

Imagine só que esse imaginado presidente, por mais que fale mil absurdos

A multidão fiel parece venerá-lo cada vez mais, talvez fazendo-se de surdos

Talvez porque a vontade de acreditar seja maior do que a própria realidade

Talvez porque o desejo de ter esperança seja para o povo a maior necessidade

Pois a decepção e desencanto com políticos anteriores tenha sido enorme

Ou talvez porque o pensar e o sentir dessa multidão esteja apenas conforme

As ideias dissonantes desse pseudo-líder, como a apologia ao golpe e à tortura

Talvez os seus seguidores apenas tenham para com essas ideias afinidade pura

 

Imagine só que esse presidente é então visto como uma boa pessoa por muitos

Porém Jesus nos disse que “uma árvore boa não pode produzir maus frutos”

Agora imagine que essa “boa pessoa” tenha dito a uma mulher deputada colega

Que “jamais estupraria você, porque você não merece”, então como se enxerga

Nessa agressão torpe algum fruto bom? Assim, essa pessoa jamais poderia ser boa

Pois sua triste fala só reflete o que está cheio o coração, e sua voz apenas ressoa

Sua paisagem interior, carregada de misoginia, machismo e de moral deturpada

Será que, em algum contexto, alguma mulher no mundo mereceria ser estuprada?

 

Imagine, ainda, que tal presidente seja chamado de mito por seus apoiadores

Enquanto a população padecia nos hospitais, ele parecia insensível às suas dores

Enquanto o povo temia o contágio e a morte, dizia que era feito de “maricas” o país

A Ciência recomendava a máscara, mas ele disseminava o contágio de forma infeliz

Incentivando a aglomeração sem máscara e pondo a vida de milhares em risco

Tudo só para poder continuar conduzindo o seu grande rebanho para o seu aprisco

Talvez seja por tudo isso que, nesse futuro distópico, ele seja, de fato, um mito

Uma lenda, uma estória de fantasia, um conto de mentirinha em algum lugar escrito

 

Porque não pode existir amor à pátria sem o devido cuidado com a população

Não pode haver Deus acima de todos quando não se demonstra compaixão

Não é possível coexistir Cristianismo com a defesa da tortura, do mal em suma

Onde há a agressão verbal e a misoginia, o bem não sobrevive de forma alguma

Mas para a turba com cegueira seletiva, ainda permanece o mito na imaginação

A de que o presidente salvador messias é um exemplo na luta contra a corrupção

Fingindo não ver que a maior operação contra a corrupção dessa nação, a Lava-Jato

Foi por ele encerrada, pois “não havia mais corrupção”, deixando o país estupefato

 

Imagine, esse imaginário herói contra a corrupção decretar sigilo de 100 anos

Sobre o que jamais deveria ser segredo, enquanto a massa prefere passar pano

Afinal, se a maior imagem que se quer passar é de lisura moral e honestidade

Não faz o menor sentido ocultar e encobrir por tanto tempo do povo a verdade

Parece legal destinar 5 bilhões da Saúde e Educação para um Orçamento Secreto?

Nem mesmo funcionários fantasmas poderão se esconder por meio desse decreto

É honesto um presidente que afasta delegados de polícia que investigam sua família

Por práticas ilegais realizadas durante muito tempo, conhecidas como rachadinha?


E pensar que, nessa estória singular, esse presidente que tem por armas fascínio

Em discurso quando era deputado, chegou até a elogiar grupos de extermínio!

Enquanto ele e seus filhos defendem os valores da família e do lar cristão

Adoram fazer pose de arminha, ensinando até criancinhas essa vil abominação

Quem me lê deve estar pensando que minha imaginação foi até longe demais

Que nem o pior dos roteiristas de Holywood poderia escrever absurdos tais

Sob pena de ser considerado escritor de mau gosto ou de inventar puerilidade

Pois então, agora imagine que toda essa estória imaginada aconteceu de verdade!

 

terça-feira, 20 de setembro de 2022

Pessoas de Bem

Texto de: Alexandre Paredes


 

 

Tenho medo das pessoas de bem.

 

São as “pessoas de bem” que, em nome dos valores da família, da moralidade, dos bons costumes e dos valores cristãos, realizam atos de intolerância religiosa, ideológica e política; que defendem os direitos humanos para os humanos direitos e tentam justificar o injustificável.

 

São as “pessoas de bem” que imaginam estar numa luta entre o bem o mal, sendo elas, obviamente, o bem e os outros o mal. Então, tudo e todos que divergem de sua forma de ver o mundo são o mal. Se elas, as pessoas de bem, são o bem, nada mais lógico do que acreditar que todos os demais são o mal, e que devem, portanto, ser combatidos.

 

Os atentados terroristas do 11 de setembro foram realizados por pessoas que acreditavam estar praticando o bem, pois, na visão de mundo deles, os Estados Unidos da América seriam o demônio, o supremo mal, a ser combatido a qualquer custo.

 

O extermínio de judeus por nazistas na Segunda Guerra Mundial foi praticado por pessoas, aparentemente, “de bem”. Eram homens que, durante um dia normal de trabalho, faziam experiências (torturas) com cobaias humanas, levavam velhos, mulheres e crianças para as câmaras de gás, e depois, ao retornarem de um dia ou de uma semana de trabalho, jantavam em família e iam à igreja normalmente. Eram, enfim, cidadãos que cumpriam seus deveres para com o seu país e perante o mundo social.

 

Aqueles que, durante a Guerra da Secessão nos Estados Unidos, entre 1861 e 1865, defendiam a manutenção da escravidão de seres humanos, os quais eram privados da liberdade, de sua dignidade, de seus direitos e eram submetidos, dia após dia, a castigos cruéis, abusos, violências, torturas e trabalhos exaustivos, eram os mesmos que defendiam os valores tradicionais da família, da moralidade e dos bons costumes.

 

Os senhores de escravos dos Estados Confederados, escravagistas, alegavam que a vida no campo, onde toda a produção dependia do trabalho escravo, era uma vida pacata e em harmonia, onde a família vivia feliz e ninguém tinha do que reclamar. Em suma, era um estilo de vida onde o “bem” imperava. Obviamente, os oprimidos não reclamavam porque não o podiam, pois, caso contrário, sofreriam maiores humilhações, torturas e violências, enquanto os opressores, que eram os únicos que tinham voz na sociedade, não tinham mesmo do que reclamar.

 

Cerca de um século depois, foram as “pessoas de bem”, que, em nome de uma pretensa supremacia branca e tentando resgatar os valores tradicionais da época da escravidão, criaram movimentos de segregação racial, como a Ku Klux Klan, que organizava atos de terrorismo contra determinados grupos da sociedade.

 

Foram “pessoas de bem”, religiosos conhecedores da Bíblia, que queimaram milhares de homens e mulheres considerados hereges nas fogueiras da Santa Inquisição durante a Idade Média, apenas porque estes pensavam e se posicionavam de forma diferente das verdades estabelecidas pelos cânones da Igreja, sendo, portanto, uma ameaça ao seu poder.

 

Quando Jesus foi interpelado por um jovem que o chamou de bom mestre, o Cristo respondeu: “Por que me chamas bom? Não há bom, senão um só que é Deus” (Mateus 19:16-30). Se Jesus não se considerava bom, quem de nós pode assim se considerar sem faltar com a virtude da verdadeira humildade? E não há como ser bom sem ser humilde.

 

A luta entre o bem o mal se dá dentro de cada um de nós. É o bom combate, do homem novo contra o homem velho que persiste dentro de nós, como bem nos dizia Paulo de Tarso. O Apóstolo dos Gentios conclamava-nos à luta diária contra o verdadeiro mal que há no mundo: nosso orgulho, nosso egoísmo, nossos vícios morais em suma.

 

Porém, em vez do bom combate, o que vemos no mundo de hoje é a luta do mal contra o mal, a luta do intolerante contra quem pensa diferente dele, a luta por converter o outro à minha religião, à minha ideologia, às minhas convicções, como se a verdade pertencesse a mim, como se o bem fosse exclusivo à minha forma de ser e de ver a vida e a realidade. E nessa luta do mal versus o mal, o mal sempre vence.

 

Há uma frase atribuída a Mahatma Gandhi que diz: “Seja você a transformação que você quer para o mundo”. Nada mais profundo e verdadeiro. Enquanto o bem estiver em livros sagrados, em pregações, em debates e teorias, continuará a ser apenas um misto de palavras vazias. Só existe o bem de fato quando ele se converte em exemplos e atitudes para o bem daqueles que estão ao nosso redor.

 

Jesus, nosso modelo e guia, conversava amorosamente com prostitutas e cobradores de impostos, que eram pessoas consideradas de má vida; conversou, também, com a samaritana no poço de Jacó, mesmo os samaritanos sendo considerados um povo estrangeiro e herege pelos judeus. E essa conduta do Cristo incomodava as chamadas “pessoas de bem” de sua época, os doutores da lei, que, embora o perseguissem e tenham sido os principais responsáveis pela sua condenação à cruz, não deixaram de receber de Jesus o ensinamento amoroso, embora duro.

 

Por tudo isso, prefiro pensar que o bem costuma estar do lado de quem percebe que tem muito a melhorar, que tem muito a aprender, que não sabe de tudo. Prefiro acreditar que o bem está naquele que reconhece as suas mazelas morais e procura corrigi-las, e não naqueles que se autointitulam “pessoas de bem”, enquanto espalham o ódio, a violência e a hipocrisia, e apontam o dedo para os erros alheios.