Letra e Música: Alexandre Paredes
quinta-feira, 16 de dezembro de 2021
Novos Tempos
E que é tempo de se renovar
E que é tempo de se renovar
terça-feira, 2 de novembro de 2021
Finados
Poema de: Alexandre Paredes
A morte não é o fim, então não existe finado
Não existe a morte, mas apenas transformação
Quem se foi, não está longe; continua ao teu lado
Ele permanece vivo, porém em outra dimensão
Eleva o teu pensamento a Deus e faze uma prece
Endereça ao ente querido a flor do teu sentimento
Dá-lhe o maior presente: o amor que não se esquece
Não existe maior homenagem, maior monumento
Aquele que retornou para a verdadeira vida
A vida espiritual, a vida do espírito imortal
Não será tocado por nenhuma palavra vazia
Nem por objetos ou coisas do mundo material
Mas, sim, pela lembrança, pela boa saudade
Aquela que lembra do outro com alegria
E não aquela saudade inconformada, sofrida
Que o prende e não o deixa voar com liberdade
Quando te lembras de quem se foi com aflição
E tua aflição se transforma em revolta e torpor
Envolves o ser amado com tua angústia e dor
Fazendo dele um prisioneiro do teu coração
Transforma as tuas lágrimas de dor em esperança
Transmuta o teu adeus em apenas um até breve
Renova em ti a fé em Deus, e na vida a confiança
Para que teu luto neste mundo se faça mais leve
sexta-feira, 8 de outubro de 2021
Bem Aventurados os Puros de Coração
Poema de: Alexandre Paredes
Bem aventurados os puros de coração pois eles verão a Deus
Porque é no coração que estão os olhos e os sentidos da alma
Essas palavras de Jesus contidas no capítulo quinto de Mateus
São o caminho para a verdadeira paz, a serenidade e a calma
Se Deus é imaterial, não será percebido pelos olhos do corpo
É preciso desenvolver as qualidades adormecidas no espírito
O que não será possível enquanto o indivíduo estiver absorto
Em todas as coisas que brilham no exterior, no mundo físico
Quando o coração se entorpece com as ilusões do orgulho
Distorce a razão, que cria sistemas de engano, negação e fuga
Será como um vaso que está cheio de poeira, lixo e entulho
Que recebe a água pura e a transforma em lama e água suja
Não é grande coisa quando alguém é apenas rico de intelecto
Enquanto ele for por dentro pobre de amor e de boa vontade
Terá eloquência, belas palavras, e de teorias estará repleto
Mas lhe faltará a pura
alegria que só provém da simplicidade
As duas asas da evolução
espiritual são a sabedoria e o amor
Mas o que ama está
sempre acima daquele que apenas sabe
A sabedoria decifra
enigmas, aponta caminhos, alivia a dor
Mas o amor é em si fonte
inesgotável de harmonia e felicidade
Quando o coração está fechado nas escamas do egoísmo
Obscurece a janela que conecta o interior do ser ao Infinito
Assim, seu olhar se volta somente para o seu próprio abismo
E se perde em si mesmo e de tudo o que há em si de divino
Apenas há real pureza de coração quando é puro o pensamento
E para isso é necessário combater o mal no início, em sua raiz
De nada adianta combater o mal que vem de fora, se por dentro
Permanece a origem de tudo aquilo que torna a pessoa infeliz
Se o ser humano sufoca a criança que habita em seu coração
Adornando-se de falsas virtudes, apenas cultiva a hipocrisia
Mentindo para si mesmo e querendo do mundo a admiração
Enquanto de si permanece distante e sua vida se torna vazia
A simplicidade leva-nos a perceber a nossa própria pequenez
Mas isto está longe de ser motivo de desânimo ou tristeza
Pois há grande satisfação em ser parte de tudo o que Deus fez
E não precisar viver sob o peso de máscaras traz grande leveza
Ninguém se torna alguém melhor fugindo de si, de sua verdade
Ser puro e aceitar-se, amar-se como se é, eis o nosso maior ativo
Somente o olhar para dentro do coração com total honestidade
Pode tornar-nos seres melhores e levar-nos ao nosso real destino
Só quem vê a vida, a si e aos outros com a pureza de um menino
Consegue ver por trás de cada ato de maldade apenas uma criança
Que sente, que sofre, e que na falsa grandeza é apenas pequenino
Vê o Deus que há em cada ser, e por isso jamais perde a esperança
sábado, 21 de agosto de 2021
Positividade Tóxica
Poema de: Alexandre Paredes
A positividade é uma ideia muito difundida na atualidade
Nossa sociedade, na busca de encontrar novas receitas de bolo
Soluções fáceis para antigos e complexos males da humanidade
Encontra caminhos mágicos que por vezes podem ser um engodo
Enquanto existe a positividade sadia, há também a sua caricatura
A positividade sadia aceita e acolhe a tristeza, aprendendo com ela
Positividade tóxica é falta de contato consigo mesmo, falta de leitura
Da dor que cada um traz em si e do ensinamento que ela encerra
Sempre é um bem quando escolhemos reprogramar a mente viciada
Pois nossa vida é reflexo de nossas crenças, pensamentos e emoções
Nossas aflições decorrem, em grande medida, da palavra habituada
A fixar-se no que é negativo, a julgar, criticar e a fazer reclamações
Porém, é bom lembrar que a vida carrega um grande contingente
De situações que fogem totalmente à nossa capacidade de controlar
Na positividade distorcida, tudo o que nos ocorre depende só da mente
Que atrairia para si o sucesso ou fracasso, todo o bem ou mal estar
A positividade mal compreendida procura manipular a
realidade
Todos os acontecimentos da vida seriam, desse modo,
apenas resultado
Daquilo que sintonizamos, que determinaria nossa
ruína ou prosperidade
Assim, se algo não vai bem ou deu errado em sua
vida, você é o culpado
Esse pensamento leva o ser humano a não aceitar que
toda tribulação
É parte natural do processo de aprendizado, e não
necessariamente
O resultado daquilo que semeamos ao nosso redor, como
ação e reação
Pode ser só prova para que nossa alma desperte seu
potencial latente
A positividade verdadeira aceita o mal que vem do
mundo exterior
Entende que o que eu faço com o mal que me fazem é
minha escolha
Se não posso evitar que pessoas ou coisas causem em
mim muita dor
Sou responsável pelo dor que causo em outrem e pelo
mal que eu acolha
Mas a positividade pode ser perigosa quando não nos deixa perceber
O lado negativo de alguém que não nos faz bem, um falso amigo
Ou quando, no convívio com quem nos agride, impede-nos de ver
Que tudo não ficará bem, pois se trata de um relacionamento abusivo
Ela pode ser danosa quando vivencio uma perda ou
momento infeliz
E em vez de viver o luto ou rompimento, represo
as lágrimas genuínas
Mostrando uma máscara de alegria, e do sorriso no
rosto apenas o verniz
Para que depois essa dor contida se manifeste nas
coisas mais pequeninas
Quando a pessoa deixa de olhar para a própria
verdade, apenas atua
Em vez de reconhecer que está magoada, ferida, finge que
está tudo bem
Exibe por fora um gesto estoico, e deixa de ver a
sua sombra escura
Que precisa ser reconhecida e tratada, a fim de que
o ser possa ir além
É importante perceber que a nossa mente não é
somente o intelecto
Há em todos nós uma carga de emoções que ficam no
inconsciente
Então não basta reprogramar o pensamento, é preciso
estar aberto
Ao que se traz no coração, para identificar e entender
o que se sente
Mudar a nossa forma de ver a vida e o mundo não é tão
difícil assim
O mais difícil é mudar o que se sente, porque a
gente nem sempre sabe
De onde vem tanta angústia, vazio, raiva ou aquela
tristeza sem fim
O autoconhecimento, então, é o melhor caminho, uma
porta que se abre
Nesse caminho, ser positivo é reconhecer que não
sou sombra, mas luz
Perceber que tudo o que é negativo, imperfeito,
dolorido, é temporário
E que à nossa frente está o infinito, o bem e a
força que nos conduz
Que nos permite renascer a cada dia, e a cada dia,
refazer o itinerário
quarta-feira, 4 de agosto de 2021
Autocuidado
Texto de: Alexandre Paredes
Buscar ajuda não é sinal de fraqueza, nem de fracasso, nem de que “sou
uma pessoa com problemas”. Buscar ajuda é reconhecer que precisamos armazenar
para doar, reter para espraiar, iluminarmo-nos para iluminar; precisamos ter
onde nos apoiar para poder socorrer quem está se afogando, pois ninguém ajuda
uma pessoa que esteja nessa situação se estiver se afogando também.
Então se tratar não é sinônimo de ser um problema, buscar ajuda não é um
fracasso, cuidar de si mesmo não é egoísmo. Muito pelo contrário, ter
autocuidado é cuidar indiretamente daqueles que nos cercam, e a falta de
autocuidado é, geralmente, acarretar problemas ou sobrecargas a quem está ao
nosso lado. Um violino desafinado pode prejudicar toda uma orquestra.
A vida é um processo constante de dar e receber. Ninguém consegue só
doar o tempo todo, dar frutos o tempo todo, ter excelência o tempo todo, estar
bem o tempo todo. Nenhuma árvore dá frutos o ano inteiro, e o fruto leva tempo
para chegar, pois precisa passar por um processo: A planta precisa germinar,
crescer, florescer, para então dar frutos.
A natureza nos dá exemplos dessa troca permanente, desse dar e receber:
As flores abrem-se para o mundo e doam seu pólen, suas cores vibrantes, seu perfume;
as abelhas polinizam as flores; os animais alimentam-se dos vegetais e espalham
suas sementes; estas, por sua vez, precisam da terra, da água e do Sol, para
brotarem e fixarem raízes.
Assim, buscar os recursos da natureza, de profissionais terapeutas, buscar
o auxílio de outras pessoas e instituições que estejam em condições de nos
ajudar, para encontrar mais harmonia, mais autoconhecimento, maior consciência
no viver, mais compreensão das nossas dores e os caminhos que podemos tomar
para amenizá-las, é apenas obedecer a uma lei geral da natureza.
quarta-feira, 28 de julho de 2021
Pensamento e Vida
Poema de: Alexandre Paredes
É sempre uma boa estratégia ver o lado bom de cada situação
Reconhecer que em cada dor há sempre algum aprendizado
Que, por trás de toda tristeza, há um processo de evolução
E que sempre podemos refazer o caminho que se fez errado
Importante perceber que o pensamento é um dínamo pulsante
Que vibra por todo o nosso ser e se irradia ao nosso derredor
Plasmando em nosso interior e à nossa volta, a cada instante
Tudo o que selecionamos, sintonizamos, de melhor ou de pior
Não se trata de crendice, superstição, nem de tolo misticismo
É uma lei da vida, que qualquer observador atento pode atestar
Nossas emoções e pensamentos ocultos se refletem no organismo
Na forma de saúde, doença, sinais da face, dores, tensão muscular
Assim acontece também em relação ao mundo que nos cerca
Tudo o que emitimos reverbera em tudo e retorna para nós no final
Estamos mergulhados num oceano de ondas onde cada um desperta
Cercado daquilo que emitiu para si ou para o outro, de bom ou mau
Em pesquisas realizadas pela respeitada Universidade de Yale
Observou-se que a meditação feita com frequência por um grupo
Afetou não somente a vida dessas pessoas, mas de todo o seu meio
Reduzindo a violência e os crimes na localidade, conforme o estudo
Ou seja, o que acontece dentro de mim, dentro da minha cabeça
Influencia o comportamento de muitos sem que eles se deem conta
Se em cada gesto, palavra, pensamento, eu sou uma chama acesa
Ilumino primeiro a mim e depois a todos os que a luz encontra
Se a paz da nossa mente é capaz de pacificar outras mentes afora
A paz primeiro inunda a própria vida daquele que busca se pacificar
Mas imagine o que acontece com quem reclama, procura desforra
Com quem se ira, cultiva o ressentimento e envenena o olhar!
Somos todos, assim, os artífices da nossa própria
realidade
Construímos, incessantemente, a cada hora e a cada
segundo
Nossas aflições e venturas, nossos limites e nossa
identidade
A partir de como pensamos e percebemos a vida lá no
fundo
Porque é no pensamento que nascem as belas obras de
cada dia
Bem como dele partem as guerras, os homicídios e a
destruição
Por isso Jesus adverte no Evangelho, dizendo: “ora
e vigia”
Para que não cedamos e não sejamos vítimas da
tentação
quarta-feira, 7 de julho de 2021
Bem Aventurados os Brandos e Pacíficos
Poema de: Alexandre Paredes
Bem aventurados os brandos porque herdarão a Terra
Porque este mundo é como uma grande e verdadeira escola
E aqueles que não aprenderem a lição que nela se encerra,
Os que não conquistarem a mansidão, terão de ir embora
Serão encaminhados para outros orbes educandários
Onde passarão por novas provas, em novas reencarnações
Ainda em mundos pela civilização menos iluminados
Para que possam corrigir a senda sob o toque dos aguilhões
Somente serão autorizados a viver e a renascer aqui
Naquele Reino por Jesus prometido em sua Boa Nova
Aquelas almas que já semearam, cultivaram dentro de si
A brandura que espalha a paz por esse mundo afora
Bem aventurados os pacíficos, os que vivem a paz
Porque serão eles chamados filhos de Deus
E um mundo que se queira pacífico somente se faz
Quando as armas e as guerras se tornem peças de museus
Somente há paz no mundo quando há paz no coração
Quando cessa em nós o ímpeto de vencer o outro
Porque o inimigo de nós mesmos não está senão
Dentro de nós, onde está também nosso maior tesouro
A maior alegria do espírito é a conquista de si mesmo
É poder deitar com a cabeça tranquila ao travesseiro
Porque é preferível ser prejudicado a ser quem prejudica
E a violência é sempre um pior mal para quem a pratica
Pois a Lei de Deus se encarrega de devolver a quem violentou
A colheita do sofrimento que ele um dia no outro semeou
Esse código divino foi pelo Cristo nessas palavras resumido
Dizendo a Pedro: “Quem com ferro ferir, com ferro será ferido”
Mas Jesus disse também “Perdoai para que Deus vos perdoe”
Ou seja, a criatura que praticou o mal tem sempre uma opção
De continuar na senda do mal e permanecer do jeito que foi
Ou se libertar do passado, curar a ferida, abrir-se ao perdão
Ser pacífico não é ser
passivo, é ser ativo, mas paciente
Cruzar os braços não é
paciência, mas apenas preguiça
Retribuir com o bem o mal
que se faz não é ser indiferente
Mas é contribuir para
que no mundo haja menos injustiça
Devolver o insulto com outro insulto apenas revela
Que aquele que se sentiu
ofendido ao ofensor dá razão
Porque quando a ofensa é
falsa, o ofendido não vê nela
Motivos para abandonar a
própria paz que traz no coração
Quando uma pessoa nos
agride, é porque ela quer briga
O que ela fala de nós diz
muito mais sobre ela mesma
E quando a gente se ofende,
morde a isca, cai na intriga
Procura se autoafirmar e
precisa que todo mundo veja
Quem vive em paz consigo
mesmo não precisa de plateia
Não busca senão a aprovação da própria consciência
E quem pacificou a própria alma às vezes nem faz ideia
Que está mudando o
mundo apenas com a sua existência
segunda-feira, 14 de junho de 2021
Vida Além
Letra e Música: Alexandre Paredes
Este é um videoclipe da minha música VIDA ALÉM, que está no YouTube.
A música estará disponível nas plataformas digitais a partir de 6 de julho de 2021.
O vídeo foi gravado entre abril e maio de 2021, em Brasília, no Parque da Cidade e no Parque Península.
Meu agradecimento especial a: Sílvio Sodré, Cinthia Castro, João Mendonça, Raul Marques e Rodrigo Silva.
terça-feira, 8 de junho de 2021
Amor Acima de Tudo
Texto de: Alexandre Paredes
O egoísmo ergue muros.
O amor constrói pontes.
O orgulho compara-nos ao outro.
O amor coloca-nos no lugar do outro.
A justiça pune e repara.
O amor resgata e redime.
A ética movimenta-se na direção do bem.
O amor é o bem em movimento.
A moral cria leis e códigos de conduta.
O amor dispensa-os.
A Filosofia busca o sentido.
O amor é o próprio sentido da vida e de tudo.
A sabedoria sabe, descobre, ensina.
O amor sente, vive e ensina a amar.
segunda-feira, 31 de maio de 2021
Ciência e Ser Humano
Artigo de: Alexandre Paredes
Existe uma tendência no pensamento do homem
contemporâneo em considerar os conhecimentos obtidos por meio da Ciência como
sendo os únicos válidos ou que tenham uma supremacia em relação aos demais
saberes. Para muitos, essa é até uma questão lógica, que nem caberia ser
debatida, mas não é bem assim.
Se é certo que a Ciência apresenta uma forma segura de
obtenção do conhecimento, não podemos esquecer que aquilo o que a Ciência, hoje,
consegue abarcar ainda é um pequeno universo. Nos dizeres de Isaac Newton, cientista
que formulou as leis da Gravitação Universal: “O que sabemos é uma gota; o que
desconhecemos é um oceano”.
Então, se o único saber a ser considerado válido for
o obtido por meio da Ciência positiva, teremos que, necessariamente, reconhecer
nossa ignorância na maioria dos assuntos a que nos aventuramos conhecer.
E mesmo aquilo que, hoje, a Ciência já pôde
comprovar por meio da observação, um dia foi somente teoria, especulação,
intuição. Quando Albert Einstein teorizou, em 1916, sobre a existência de ondas
gravitacionais, aquela teoria somente ganhou o status de verdade científica em
2016, quando um grupo de cientistas detectou o fenômeno. Ou seja, aquilo que
Einstein já havia percebido pela intuição – e não pela observação, como se
possa crer – já era verdade em 1916, e era verdade desde sempre. O que ocorreu
em 2016 foi apenas a comprovação dessa verdade por meio da observação.
A existência do átomo foi teorizada pela primeira
vez pelo filósofo grego Demócrito, 2.400 anos atrás. Naquela época, não existia
a Ciência tal como a concebemos hoje, porque não havia meios de verificação e
comprovação, e também porque a utilização do método experimental, que envolve a
realização de experimentos manuais, além da utilização da matemática e
instrumentos de observação para a comprovação de teorias, surgiu somente a
partir de Galileu Galilei, no século XVII.
Até a Idade Média, o conhecimento obtido pela razão
pura, pelo pensamento abstrato, era visto como superior, até porque a
realização de trabalhos manuais, como exige a Ciência, era tida como uma atividade
inferior, realizada por escravos. Com isso podemos notar que a Ciência, nos
moldes como a conhecemos atualmente, é uma atividade bem recente na história da
humanidade.
Essas questões nos levam a pensar que deve existir
uma infinidade de saberes apreendidos pela intuição humana e que, por
insuficiência dos meios de verificação e comprovação, ainda não puderam ganhar
o status de verdades científicas. Mas é claro, também, que existe uma série de
interpretações da realidade, teorias e intuições que não correspondem à
verdade.
Assim, o fato de a Ciência não ter comprovado
determinada ideia, teoria ou percepção da realidade não significa,
necessariamente, que tal saber seja equivocado ou falso. Como dizia Carl Sagan,
o grande astrofísico americano: “Ausência de evidência não é o mesmo que
evidência de ausência”.
Ele quis dizer com isso, por exemplo, que a ausência
ou insuficiência de evidências quanto à existência de uma alma independente do
corpo não é o mesmo que dizer que há evidências de que a alma não existe. O
mesmo poderia ser aplicado à existência ou não de Deus, de civilizações
extraterrestres, de vida após a morte, reencarnação ou qualquer outro tema que seja
rejeitado pela cosmovisão predominante em nosso tempo.
O máximo que os verdadeiros representantes da
Ciência podem dizer a respeito de temas assim é que não haveria evidências
científicas suficientes para comprovar tais ideias, mas que também não haveria
evidências suficientes para refutá-las.
Desse modo, quando observamos ateus ou materialistas
convictos, às vezes militantes, daqueles que estão plenamente convencidos de
que não existe nada além da matéria, fica evidente que eles não percebem que
apenas trocaram um sistema de dogmas por outro sistema de dogmas.
Porque se a Ciência não pode, de fato, afirmar a
inexistência de algo sem a devida comprovação dessa inexistência, quando o ateu
ou o materialista afirma, muitas vezes em nome da Ciência, que Deus não existe
ou que não existe vida após a morte, ele está se pautando em seu sistema de
crenças, e não em evidência de ausência, e muito menos em Ciência.
Tanto o sistema de crenças daqueles que são chamados
de crédulos, homens de fé, quanto o sistema de crenças daqueles que não creem
em nada que vá além da percepção dos cinco sentidos são, ambos, sistemas de
crenças. E como tais, podem conter percepções verdadeiras ou falsas da
realidade.
Não é raro encontrarmos pessoas que se dizem
incrédulas ou céticas terem uma percepção de que se libertaram de dogmas,
superstições ou crendices, como se houvesse uma superioridade de sua “não
crença” em relação à crença daqueles que acreditam em coisas que ainda não são
passíveis de verificação ou comprovação por meio do método científico.
Como o que a Ciência sabe com certeza é apenas uma
gota e o que a Ciência desconhece é um oceano, as lacunas daquilo que não se
sabe são preenchidas por crenças e especulações. Por exemplo, como a Ciência
não tem meios, de acordo com a tecnologia atual, de visitar todos os bilhões de
mundos existentes em nossa galáxia, assim como os bilhões de mundos existentes
em cada uma das bilhões de galáxias existentes, não tem como afirmar se a vida
e a vida inteligente são abundantes ou raras no Universo.
Essa lacuna, então, é preenchida por nossas crenças.
Alguns não conseguem crer que um Universo tão grande e tão diverso tenha
reservado a vida somente para este pequeno planeta azul. Outros preferem
somente crer quando verem, mas, enquanto não vejam um fato patente, alimentam,
queiram ou não, uma crença interior: a de que existe ou não existe vida
inteligente em outros mundos.
O ceticismo como postura rigorosa diante dos fatos,
uma forma metódica de não se deixar levar pelo entusiasmo pelas próprias
crenças, e de somente aceitar como fato aquilo que possa ser verificado e
comprovado pela observação é uma atitude louvável e recomendável àquele que
busca a verdade. É uma forma de não cair na armadilha de procurar em tudo o que
vê uma forma de confirmação das próprias crenças, em vez de estar aberto à
verdade como ela se mostra pelos fatos, pela verificação dos fenômenos como
eles se mostram.
Porém, à parte esse ceticismo como método de
investigação, existe um tipo de ceticismo que se caracteriza mais pela negação
de determinadas possibilidades de realidade que vão de encontro ao sistema de
crenças do que se intitula cético. Trata-se do cético materialista ou com uma
visão de mundo preconcebida, que, mesmo diante de evidências robustas sobre a
existência de uma consciência que independe do corpo físico – como as
Experiências de Quase Morte (EQM), as lembranças espontâneas de vidas passadas,
as comunicações de espíritos e as experiências de projeção astral – prefere
dar, sistematicamente, outro tipo de explicação que seja mais “racional”, como
se a explicação de que existe uma alma independente do corpo material não fosse
uma explicação racional e natural.
Além de dar uma explicação improvável, é
característico a esse tipo de pessoa não se aprofundar nas evidências
levantadas por pesquisadores sérios, daqueles que se dedicaram uma vida inteira
ao estudo do fenômeno. É como se abeirassem do oceano e apenas colocando um pé
na água do mar, pudessem se julgar conhecedores do oceano, emitindo parecer
sobre aquilo que não estudaram. São pessoas assim que, embora conhecendo o
assunto apenas superficialmente, dão seu parecer final, com opiniões do tipo de
que todos os relatos são produzidos por charlatanismo, ilusões ou mentes
supersticiosas.
Esse tipo de ceticismo se parece muito mais com o
dogmatismo do religioso, que se cristalizou na sua visão de mundo definida
pelos parâmetros dos livros sagrados ou dos grupamentos religiosos
constituídos. Em vez de adequar ou rever seu sistema de crenças com base nas
evidências e nas observações, prefere encontrar as explicações mais
estapafúrdias para os fenômenos cuja explicação mais simples é vista por ele
como sobrenatural, e por isso passível de descrédito. Na verdade, o que é tido
por sobrenatural é apenas o natural que não tem explicação dentro do paradigma
vigente.
Nos casos de projeção astral, encontramos estudos
documentados de pessoas que, embora sentadas numa cadeira ou deitada numa cama
e um estado alterado de consciência, sentem-se saindo do próprio corpo, visitam
e descrevem lugares que nunca tinham visto ou estado anteriormente. Há relatos,
por exemplo, de pessoas em estado de coma, que dizem ter caminhado ou flutuado
pelo hospital e descrevem detalhes precisos de situações que ocorreram do lado
de fora do hospital.
Há centenas de relatos documentados, estudados por
muitos pesquisadores, de crianças que se lembram de sua vida passada. Em um
desses relatos, por exemplo, encontramos o caso de uma criança que dizia o nome
e o sobrenome que tinha na outra vida; informa os nomes dos companheiros que
lutaram com ele na guerra, o nome do porta-aviões e a marca do avião que ele
pilotou e que foi abatido por um avião japonês. A criança, de apenas três anos
de idade, descreve o ângulo que o avião foi alvejado pelo inimigo e
circunstâncias detalhadas de sua morte.
Neste caso, os pais pesquisaram na internet e,
posteriormente, num museu, e constataram, com surpresa, que todas as
informações de que o menino se recordava e relatava correspondiam aos fatos. Os
pais dessa criança chegaram a visitar a irmã daquele militar americano cuja
vida e morte a criança se recordava como sendo ela mesma em sua vida anterior. A
irmã, já bem idosa, recebeu os pais e a criança e, após algumas horas de
conversa, ela disse acreditar que, de fato, aquele menino era o seu irmão
reencarnado.
A explicação mais provável – digo provável porque em
se tratando da mente humana, não há como a Ciência ter uma resposta com certeza
absoluta – é a de que aquela criança estava realmente se recordando de uma
experiência vivida numa existência passada. Porém, é comum, nesses casos, ouvir
dos céticos de sistema, quer dizer, os céticos com uma cosmovisão preconcebida,
que “deve haver uma explicação racional para isso”. Ocorre que a explicação de
que a criança está rememorando outras vidas é uma explicação racional, porém
não é uma explicação que confirma a visão de mundo daqueles que querem uma
explicação “racional”, isto é, outra explicação, porque simplesmente a
explicação mais simples não é aceita.
Interessante que, geralmente, os céticos de sistema
utilizam o argumento de que somente acreditam naquilo que veem ou que é
percebido pelos sentidos. Se os nossos sentidos são confiáveis, então por que
não confiar nos sentidos daqueles que afirmam ver pessoas que já morreram e que
conversam com elas da mesma forma com que conversam com uma pessoa viva? Neste
caso, a explicação mais “racional” aventada pelo cético de sistema é qualquer
uma que não seja a de que o médium esteja, de fato, vendo e conversando com um
espírito desencarnado.
Para esse tipo de fenômeno, encontramos algumas
explicações interessantes, como, por exemplo, a de uma ilusão ou delírio. É
curioso explicar o fenômeno como delírio. Primeiro porque ninguém sabe o que é
exatamente um delírio, qual a sua natureza, que condições o produzem, apesar de
que a hipótese de delírio não pode ser afastada. É explicar algo que não se
conhece por outro fenômeno que também não se conhece muito bem. Segundo, e
principalmente, porque há muitos relatos de fenômenos de encontro com espíritos
em que várias pessoas veem o fenômeno ao mesmo tempo. Não é uma explicação
muito racional a de que todos juntos tiveram um delírio coletivo.
É contraditório que, para esse tipo de cético, os
sentidos seriam uma fonte confiável de conhecimento, porque é comum ouvir
afirmações do tipo “só acredito vendo”. Porém, se os sentidos daquele que
testemunhou um fato não são confiáveis, de modo que a explicação mais racional
seria a do delírio coletivo, como o cético pode confiar plenamente na própria
experiência sensorial ou no próprio testemunho, quando este ocorrer? É por esse
motivo que tal tipo de pessoa, ao se deparar com o fenômeno que ele próprio
testemunha, continua negando, porque – acredita ele – sabe que é impossível. Ou
seja, para a aceitação de determinadas realidades, não basta ver, é preciso
compreender e estar aberto a outras formas de enxergar o mundo e interpretar a
vida.
A postura do cético de sistema é a da negação, e não
a da busca da melhor explicação para o fenômeno, ainda que ela vá de encontro
às suas próprias crenças. Nesse ponto é que tal comportamento é muito
semelhante ao do dogmático, que simplesmente nega determinadas explicações
porque vão de encontro aos dogmas estabelecidos pela sua religião.
De modo não muito diferente ocorre com o cético de
sistema. Diante de fenômenos que fogem ao seu paradigma de visão de mudo, ele
busca explicações improváveis, simplesmente porque determinadas verdades não
lhe entram na cabeça. É comum, por exemplo, diante de inúmeros relatos de
aparições de objetos voadores não identificados, a explicação mais “racional”
para o cético é a de que se trata de um fenômeno atmosférico, um meteoro, um
balão, uma invenção ou uma ilusão, ainda que os relatos indiquem que os objetos
faziam revoluções, andavam em zigue-zague, acompanhavam o avião, paravam no ar
e aceleravam a uma velocidade que seria impossível diante das leis físicas
conhecidas; ainda que o evento tenha sido testemunhado por inúmeras pessoas,
detectado por radares, e o objeto tenha sido perseguido por pilotos da força
aérea.
Como a Ciência deve estar aberta à verdade, não deve
descartar nenhuma explicação nem assumir uma única explicação para determinado
fenômeno, exceto quando as observações dos fatos assim o permitam. Ocorre que
muitas explicações para determinados fenômenos, principalmente os que seriam
enquadrados como paranormais ou sobrenaturais, são muitas vezes descartadas
pelo senso comum, porque são erroneamente entendidos como fatos fora das leis
da natureza ou tidos como fantásticos.
Não raro, aqueles que estudam tais fenômenos como
Ciência são ridicularizados ou vistos com desconfiança pela sociedade, como é o
caso dos ufólogos, dos pesquisadores de EQM ou de relatos de memórias sobre
vidas passadas, como se tais pesquisas não fossem Ciência, como se não fossem
sérias. Sobre essa questão, as palavras de Artur Schopenhauer, filósofo do
século XIX, são muito pertinentes: “Toda verdade passa por três estágios. No
primeiro, ela é ridicularizada. No segundo, é rejeitada com violência. No
terceiro, é aceita como evidente por si própria”.
O que o senso comum entende por Ciência nem sempre
corresponde ao que é Ciência de fato, e o que as pessoas dizem que a Ciência diz
nem sempre é o que a Ciência diz. O modelo que vem à cabeça das pessoas quando
se fala em Ciência é o das Ciências Exatas: Física, Química, Astrofísica,
Astronomia, Geologia. Mas existem outros ramos do conhecimento que também são
Ciência, embora não possam utilizar dos mesmos métodos e não sejam tão passíveis
de verificação e comprovação como ocorre nas Ciências vinculadas a fenômenos
exclusivamente materiais.
A Psicologia, por exemplo, não deixa de ser uma
Ciência, porque também se pauta na observação empírica dos fatos, embora seja
muito difícil realizar a verificação e comprovação de seus postulados com o
mesmo grau de certeza de como ocorre com a Química ou a Física. Como ter
certeza absoluta, por exemplo, de que “as emoções que reprimimos em nós tendem
a ser fortalecidas, ficam no inconsciente, e são posteriormente liberadas de
outra forma”? É devido a essa imprecisão que, para muitos, a Psicologia não é
considerada Ciência. Aliás, essa linha divisória entre a Ciência e a Não
Ciência não é bem definida.
As Ciências Humanas, como a Ciência Política, a
Sociologia, a Economia e a História têm o componente humano e, por isso mesmo,
carreiam um grau expressivo de subjetividade. Essa subjetividade não tem como
ser eliminada, mas isto não implica que tais Ciências deixem de ser Ciência. O
que ocorre é que os métodos utilizados pelas Ciências Humanas não podem ser os
mesmos que os das Ciências Exatas.
A História, por exemplo, não pesquisa somente fatos,
datas, nomes, ou faz a descrição fria do que aconteceu no passado. Ela tem um
componente de interpretação dos fatos, busca saber por que ocorreram, quais os
fatores que os causaram e as suas consequências. Mas não há como ter uma
certeza absoluta de que uma narrativa sobre determinado momento histórico é
totalmente verdadeira do mesmo modo como se pode afirmar que a molécula da água
é formada de dois átomos de hidrogênio e um de oxigênio.
Com o sucesso das Ciências que estudam os fenômenos
meramente materiais, as quais permitiram ao ser humano ter uma maior
compreensão e domínio da natureza, como o uso da energia elétrica, a invenção
do automóvel, do avião, dos meios de comunicação de massa, das técnicas e
cirurgias para intervenção em saúde e todas as maravilhas da civilização, essas
Ciências passaram a ser vistas como um modelo para as demais Ciências, sendo o
modelo de Ciência melhor percebido pelo senso comum.
Ocorre que cada ramo da Ciência tem suas
especificidades. A Medicina, por exemplo, tem uma característica interessante:
apresenta, ao mesmo tempo, a precisão dos fenômenos químicos, orgânicos,
materiais, e a subjetividade do ser humano. Quando a Medicina enxerga o ser
humano apenas no seu componente material, orgânico, ela se limita a uma visão
reducionista da realidade, pois desconsidera o componente subjetivo do ser
humano, a sua mente e a interação desta com o organismo. Isto fez com que,
durante muito tempo, o ser humano fosse visto pelos médicos apenas como um
corpo, um organismo, uma máquina.
Esse modelo de visão do ser humano como máquina, um
relógio, assim como a visão do Universo como uma grande máquina, em que cada
parte é uma peça de uma grande engrenagem, vem do pensamento do filósofo do
século XVI René Descartes. O pensamento mecanicista cartesiano é, até certa
medida, o modelo ainda replicado pelo pensamento contemporâneo, que separa os
saberes por partes, para melhor compreensão do todo. Para Descartes, o todo
seria dividido em partes para melhor solução dos problemas.
Assim, encontramos na Medicina várias
especialidades, cada uma tendo um grande conhecimento sobre uma parte desse
grande organismo, essa grande máquina na visão cartesiana, que é o corpo
humano. O pneumologista vê os pulmões; o cardiologista vê o sistema
cardiovascular; o gastroenterologista, o sistema digestório; o neurologista, o
sistema nervoso e psicomotor; o psiquiatra e o psicólogo, a mente, o cérebro e
o comportamento. Essa compartimentalização do conhecimento permite que
conheçamos cada parte de forma mais aprofundada, mas falta o conhecimento que permita
unir todos os saberes. Nossa sociedade ocidental carece de saberes que olhem
para o todo e não somente para as partes.
Esse grande todo, que é o ser humano, é muito mais
do que somente a soma das partes do seu organismo. Existe uma interação entre
as partes e uma interação entre mente e corpo que não é devidamente considerada
pela Medicina Ocidental, porque ela se reduziu a ver o ser humano como um
corpo, ou a separar corpo e alma conforme a visão cartesiana. Então, para os
problemas do corpo, busca-se a Medicina; para as questões da alma, busca-se a
religião.
Há uma necessidade de resgatarmos uma visão
holística do ser humano, que não pode ser dissociado de sua natureza biológica,
psicológica, social e espiritual. Qualquer forma de ver que despreze uma dessas
condições é reducionista e, por isso, fadada a não lograr êxito na busca por
melhores condições de saúde.
Essa compartimentalização do conhecimento, sem visão
holística e ecológica da realidade é também uma característica da Ciência. Na
sociedade existem os físicos, biólogos, químicos, médicos, economistas,
cientistas políticos, sociólogos, historiadores, geólogos, psicólogos, cada
qual observando a realidade do ponto de vista da sua parte. Mas carecemos de
pessoas que consigam unir os saberes, tendo uma visão do todo, que não é
somente a soma das partes.
O físico, por exemplo, verá a realidade do ponto de
vista da Física e tentará explicar todos os fenômenos como sendo de natureza
física. Mas nem tudo se pode explicar pela Física. Quando a Física tenta
explicar o porquê de o Universo ter surgido por meio da teoria do Big Bang – a
de que toda a matéria do Universo estava reunida, há 14 bilhões de anos, num só
ponto com massa infinita e, em dado momento, houve uma grande explosão – essa
teoria não estaria explicando o “porquê”, mas o “como”. A explicação do “porquê”
o Universo existir e por que ele é assim e não de outro jeito está além da
Física.
Quando um cientista explica o porquê da chuva, que
ela ocorre devido à evaporação da água e, posteriormente, da condensação das
gotículas de vapor de água nas nuvens, ele não está explicando o “porquê”; está
apenas explicando “como” o fenômeno acontece. O “porquê” é porque Deus quis que
fosse assim, se fôssemos recorrer ao entendimento do religioso. Ou seja, a
explicação da teoria científica do Big Bang e a explicação do “Fiat Lux” (E
Deus disse: “faça-se a luz”, e a luz se fez – Gênesis – 1, 1-3) não existe
grande diferença.
A única diferença é a de que na visão bíblica, há um
Deus que, por força da ação da sua vontade, fez o Universo, enquanto na visão
científica não há, necessariamente, um Deus que tudo criou. A Ciência, por ser
uma forma de conhecimento que se baseia na experiência sensível, ou seja, que
toca os sentidos, não é capaz de formular um meio de comprovar a existência de
um Ser que esteja além da matéria e além dos sentidos físicos. Daí a grande
dificuldade de se comprovar a existência de Deus pelo método científico, uma
vez que, na concepção teológica, Ele é um ser imaterial.
A explicação de que todo o Universo teria surgido de
um Big Bang apenas descreve uma cena, mas não explica por que o Universo possui
as leis que tem, por que existem essas leis em vez de não existirem ou
existirem de outra forma, nem o que existia antes do Big Bang. É como se, ao
perguntarmos à Ciência por que Jesus morreu (desconsiderando a ressureição), a
resposta fosse “falência múltipla dos órgãos”, e desconsiderasse toda a trama
que levou Jesus à crucificação, a traição de Judas, a conspiração dos fariseus,
a atitude de Pôncio Pilatos e todas as razões que culminaram na sua condenação.
Essas questões que levaram Jesus à cruz estão além
da Física. O mesmo poderia se dizer em relação ao porquê da criação do
Universo. A Física poderá apenas descrever como aconteceu, mas a explicação do
porquê está além da Física, daí a palavra Metafísica (meta – além de; Metafísica
– além da Física). E aquilo que está além da Física não é da alçada da Física
ou das Ciências materiais.
Tais reflexões conduzem-nos, naturalmente, ao pensamento do eminente cientista francês do século XIX Louis Pasteur: “Um pouco de Ciência nos afasta de Deus. Muita, nos aproxima”. Parece que a humanidade ainda se encontra na fase de ter conquistado um pouco de Ciência, o que levou-a, momentaneamente, a se afastar de Deus, da ideia de que todo efeito inteligente é precedido de uma causa inteligente. Mas quanto mais nos aprofundamos acerca do conhecimento sobre o Universo, sobre nosso micro-universo que é o nosso planeta e nosso corpo humano, mais nos apercebemos da necessidade de um Grande Arquiteto do Universo, de uma Causa Primária Inteligente, para tudo o que observamos.
Com o avanço da Ciência, houve uma profusão de
explicações científicas para fenômenos que o senso comum já percebia como
verdade. Por exemplo, minha avó já dizia que amar faz bem, que ter amigos e
bons relacionamentos faz bem para a saúde. A Ciência vem acrescentar que, de
acordo com observações, quando temos uma interação afetiva com alguém, nosso
organismo libera um hormônio chamado ocitocina, que nos daria uma sensação de
bem-estar. Não houve, nessa explicação, um acréscimo significativo à explicação
da minha avó; apenas explicou o “como” o fenômeno acontece e atesta que, de
fato, a minha avó tinha razão.
Mas é comum para aqueles que só enxergam a matéria e
ainda se apegam ao modelo de ser humano como uma máquina entender que o que
produz o amor seja a ocitocina, e não o inverso. Se é certo que esse hormônio
produz uma sensação de bem-estar, o que produz a liberação desse hormônio? O
amor. No paradigma materialista, nosso comportamento seria apenas o resultado
de reações químicas no cérebro, mas o que produz as reações químicas no
cérebro? A mente. Para o materialista, a mente é um produto do cérebro, assim
como o ácido clorídrico é um produto do estômago. Mas não há nenhuma falta de
lógica em pensar que a mente apenas se utiliza do cérebro como um instrumento
de sua manifestação.
A Ciência, diferentemente do que muitas pessoas pensam, não é uma forma
de obtenção de conhecimento estanque, ou seja, não detém uma palavra final
absoluta sobre tudo. À medida que novas observações são realizadas, algumas
teorias precisam ser revisadas, aperfeiçoadas, como é o caso da Teoria da
Evolução das Espécies, que desde Jean Baptiste Lamarck e Charles Darwin já
sofreu algumas revisões com base em observações científicas posteriores.
Isto ocorre porque a Ciência não é o produto do pensamento de um cientista
ou de alguns cientistas de determinada época; é o produto dos estudos de uma
comunidade de cientistas ao longo de séculos. É uma produção humana coletiva,
controlada, sistematizada e verificada por essa coletividade de cientistas.
O método indutivo, utilizado pela Ciência, permite a produção de
conhecimentos novos, a partir da observação de fatos particulares para o
estabelecimento de teorias universais. Por exemplo: 01 corvo é preto; 02 corvos
são pretos; 1.000 corvos observados são pretos; isto leva à conclusão de que os
corvos são pretos. Mas não há nada, do ponto de vista lógico, que garanta que o
corvo observado de número 10.001 seja preto. Pode ser que seja amarelo, o que
leva à necessidade de revisão da teoria ou de considerar a exceção como parte
da regra universal estabelecida.
Para o filósofo escocês do século XVIII David Hume, não há nenhuma
garantia lógica de que o Sol nascerá amanhã. O que ocorre é que, pelo método da
indução, a partir de observações particulares – no caso, o de que o Sol sempre
nasceu no leste e se pôs no oeste – é estabelecida uma lei universal: O Sol
sempre nasce no leste e se põe no oeste. Mas, neste exemplo, poderia existir, numa
hipótese exagerada, algum fenômeno desconhecido, até então, que fizesse com que
o Sol não nascesse no horizonte em algum dia. Com o estudo e conhecimento desse
novo fenômeno, a lei universal é revisada, de modo a contemplar a nova situação
até então desconhecida.
Esse tipo de raciocínio nos leva a entender a humildade com que os
verdadeiros homens de Ciência devem se revestir, porque o conhecimento científico
é sempre passível de aperfeiçoamento, de ajustes, decorrentes de novas
observações. Em algum momento, os conhecimentos científicos atingirão uma
culminância, que permitirá ao ser humano a solução de inúmeros de seus
problemas de ordem material, social, psicológicos ainda insolúveis, bem como a
percepção da realidade de forma mais ampla e verdadeira. Mas a Ciência sozinha,
limitada ao estudo dos fenômenos físicos, não é capaz de dar todas as
respostas.
As Ciências materiais trouxeram-nos conforto
material, avanços na medicina que permitiram curar doenças e postergar a morte,
possibilitou-nos a comunicação com o mundo em tempo real, levou o homem à Lua e
trouxe grandes avanços civilizatórios, mas o ser humano ainda se encontra diante
das mesmas questões fundamentais que o afligem: Existe um sentido na vida? Qual
seria? Por que estamos aqui? De onde viemos? Para onde vamos?
A primazia das Ciências materiais em relação aos
demais saberes contribuiu para que a humanidade se abeirasse de sua
autodestruição, em decorrência das armas de destruição em massa e da destruição
do meio ambiente em escala jamais vista. Isto porque, com o sucesso que essas
Ciências alcançaram, os demais saberes passaram a ser vistos como de segunda
classe ou Não Ciência.
Como resultado, as nossas escolas ensinam
Matemática, Física, Química, Biologia, História, Gramática, mas não ensinam
como lidarmos com nossas emoções, nossos conflitos interiores, não ensinam a
compreender o quão vital é a nossa interação com o meio ambiente, nem a nos
desenvolvermos na arte da boa convivência, nem a termos pensamento crítico em
relação a tudo o que acontece na nossa vida e ao nosso redor.
Com isso, o ser humano, hoje, está apto a conhecer a
composição química de um mundo situado a 100 anos-luz daqui, mas está cada vez
mais imaturo para lidar consigo mesmo, para desenvolver empatia e respeito; é
imaturo política, social e eticamente. Vivemos numa sociedade tecnológica e
centrada na informação, o que nem sempre corresponde ao que chamamos de
formação e conhecimento.
Atualmente, há uma disponibilidade imensa de
informações, mas falta ao ser humano a capacidade de filtrar essas informações;
falta-lhe formação. A diferença entre informação e a formação pode ser
compreendida na seguinte metáfora. Imagine que você está precisando se submeter
a uma cirurgia e suponhamos que existiram duas opções para a sua realização: A
primeira opção seria realizá-la com um médico formado; a segunda opção seria realizá-la
com uma pessoa que passou anos vendo vídeos do Youtube sobre como realizar
aquela cirurgia. Sem dúvida escolheríamos realizar a cirurgia com o médico.
Ao se deparar com um volume enorme de informações, que
vêm pelas redes sociais, televisão, internet, o ser humano de hoje sente-se apto
a opinar sobre qualquer coisa, porque de tudo já leu um pouco. E mesmo que já
tenha lido muito sobre o assunto ou visto vários vídeos, isto não garante a sua
formação, que é um processo mais elaborado, que lhe permitirá filtrar as
informações.
Some-se a isso o fato de que vivemos em “bolhas” de
conhecimento, que seriam os guetos virtuais, os grupos de redes sociais, em
torno dos quais reúnem-se pessoas com mesmas crenças ou afinidades, de modo que
o que se lê, o que se publica ou o que se compartilha nesses grupos é apenas aquilo
que reforça as próprias crenças das pessoas que deles participam, situação que
contribui para o descolamento da realidade e para o da transformação de
verdades científicas em objeto de opinião.
Daí surge o fenômeno anti-Ciência que podemos perceber
em parcela da sociedade, que a tudo relativiza, tudo tenta politizar, inclusive
a própria Ciência. É por conta desse fenômeno que observamos, em pleno século
XXI, um movimento anti-vacinas, que parece ameaçar uma conquista alcançada pela
humanidade com grande esforço, justamente porque a opinião, no mundo atual,
parece ter tanto peso quanto a própria Ciência, o que é um engodo.
A Ciência continua sendo um farol a iluminar a humanidade
e dela não podemos nos distanciar, para não cairmos na armadilha de achar que
tudo pode ser levado para o terreno da opinião. Por outro lado, temos que
reconhecer que a humanidade está carente de outros saberes, situados entre os extremos
do dogmatismo religioso e do ceticismo de sistema, ou o ceticismo da negação;
de saberes que nos permitam ter uma visão integral do ser humano e sua relação
com o meio ambiente, com o Universo e consigo mesmo.
Porém, sejam quais forem os nossos saberes, é certo que
a razão e a Ciência têm limites. Você pode, por exemplo, saber tudo sobre os
golfinhos, seus hábitos, sua inteligência, suas características, sua linguagem,
mas jamais saberá, por meio da razão ou da Ciência, o que é ser um golfinho de
fato, como é estar na consciência ou na pele de um golfinho.
O mesmo pode ser dito com relação a várias outras
coisas. Uma pessoa pode saber tudo sobre o amor, ter lido vários livros e
realizado estudos sobre o amor, ter entrevistado inúmeras pessoas e até ter
escrito um artigo científico sobre o assunto, mas a sua experiência, sua
vivência em torno do amor é única e é o que definirá sua percepção e concepção sobre
o amor.
Se você foi amado por sua mãe e seu pai na infância,
esse amor será uma referência para a vida toda, pois você sentiu o que é o amor
de algum modo. Automaticamente, quando alguém lhe fala sobre o amor, sua mente
faz alguma analogia com o que você vivenciou, sentiu.
Agora imagine uma criança que nunca foi amada, o pai
foi abusador, a mãe foi indiferente, teve irmãos violentos e desconheceu,
durante sua vida, exemplos de pessoas amorosas ou pessoas que a amassem. A
visão dela sobre o amor será imprecisa, incompleta, distorcida ou inexistente,
por mais que se lhe apresentem teorias, conceitos, explicações.
Assim, a sua capacidade de compreensão do que é o
amor, ou qualquer outro conceito, está vinculada a uma linguagem, e a linguagem
está limitada às suas vivências. Alguém pode lhe falar o que é um cavalo e você
nunca ter visto um cavalo, nem por meio de fotos, nem de filmagens. Ela lhe explicará
que é um animal que corre em quatro patas, poderá descrevê-lo, mas você só
entenderá a explicação se você souber o que é um animal e o que são patas.
Nossa mente faz analogias com coisas que conhecemos e já vivenciamos.
Daí a grande dificuldade de nos entendermos uns aos
outros. Usamos as mesmas palavras para designar as mesmas coisas, sentimentos,
qualidades, mas o significado real de cada palavra que usamos varia de pessoa
para pessoa segundo a vivência de cada um.
É por isso que, para alcançarmos a real sabedoria,
não basta conhecer todas as Ciências, não basta ler todos os livros ou ter
feito todas as experiências possíveis; não basta ter todas as informações
disponíveis na internet ou em pesquisas. Há uma parte do conhecimento que depende
de vivência, e essa vivência nenhuma outra Ciência poderá nos dar senão a
própria Ciência e Arte de viver.