sábado, 13 de abril de 2024

Desiludidos

Texto de: Alexandre Paredes 








É muito comum ver pessoas descrentes de Deus porque se desiludiram com a religião instituída pelos homens.

 

Sentiram-se enganadas por falsos religiosos que se locupletaram com o dízimo de seus fiéis ou pelas falsas promessas de resolução fácil de seus problemas por meio de barganhas com a Divindade.

 

Há quem aponte, com razão, as inúmeras falhas da sua religião, quando incute em seus seguidores ideias de culpa injustificada, punições divinas para os menores deslizes de suas criaturas, bem como regras de conduta rígidas e draconianas, distantes da esperada misericórdia do Alto.

 

Já ouvimos falar até mesmo que “a Religião é o ópio do povo”, numa clara menção de que as religiões seriam tão somente um engodo articulado e usado por pessoas de má-fé para manipulação do povo, mantendo-o dócil, para que não se levante contra as injustiças daqueles que se beneficiam da ignorância das massas.

 

Muitas pessoas até dizem que a Religião é um dos males da humanidade a ser combatido, haja vista as guerras religiosas, o fanatismo, a hipocrisia e os conflitos psicológicos que, supostamente, seriam fruto do ensino religioso.

 

Ora, há que se separar a Religião dos religiosos de toda espécie; há que se separar o que é de essência divina e o que é erro humano.

 

Culpar a Religião pelos desatinos dos religiosos é o mesmo que culpar a Medicina pelos erros dos médicos negligentes, mercenários ou daqueles que abusaram de seus pacientes.

 

Negar a Religião pelos desvios da essência de seus ensinamentos pelos homens é o mesmo que negar a Educação por conta dos desvios de educadores que se utilizam da escola para praticar violência contra crianças ou para disseminar ideias torpes.

 

Condenar a Religião pelas guerras religiosas ou pelo extremismo de alguns fanáticos terroristas não é muito diferente de condenar a Filosofia porque alguns filósofos disseminaram ideias que fomentaram o suicídio ou o genocídio.

 

Da mesma forma, encontramos os desenganados com a Política, porque acreditam ser ela uma fonte de corrupção, lugar de pessoas interesseiras e palco de todo tipo de homens que se utilizam da credulidade do povo para obterem benefício próprio.

 

O mesmo se dá com a Ciência, quando homens do meio científico dedicam seus esforços, sua inteligência e talento para criar armas de destruição em massa.

 

Mas não é porque alguns homens usam a Ciência, a Política, a Filosofia, a Educação, a Medicina e até mesmo a Religião para praticar o mal, que estas sejam más em sua essência.

 

Cada ramo da atividade humana é realizado por seres humanos, falíveis, inclusive a própria Religião. Mas em toda instituição do mundo que visa o progresso do ser humano encontramos traços da presença de Deus.

 

A Ciência vem nos descortinar a grandeza da obra de Deus, quando nos mostra a vastidão do Universo, suas leis, suas galáxias, bem como a grandeza das pequenas coisas, como os átomos, onde repousam os maiores mistérios a serem desvendados.

 

A Política, por inspiração do Alto, vai, pouco a pouco, se tornando uma instituição a serviço do próprio homem, mesmo que o egoísmo e o interesse próprio ainda dominem o panorama geral.

 

A Filosofia inspira o homem a pensar sem as amarras das paixões e dos dogmas, e a buscar a verdade pela razão iluminada, em que pese haver aqueles filósofos que se entregam a uma Filosofia carregada de orgulho, vaidade e prepotência.

 

A Educação tem sido fonte de progresso, à medida que transforma a realidade das pessoas, dando-lhes oportunidades que lhes possibilitem estar inseridos na sociedade e serem novos agentes de transformação, apesar de haver educadores descompromissados com tão nobre finalidade.

 

A Medicina vem, numa velocidade vertiginosa, se tornando uma ferramenta de cura e de alívio para os sofrimentos da humanidade, sendo um instrumento da misericórdia do Criador para minimizar as aflições humanas, embora o enriquecimento às custas do sofrimento alheio ainda seja um valor tão visado entre as pessoas que labutam nessa área.

 

E na Religião, encontramos o “faça ao outro o que deseja que o outro faça a você mesmo”, “o amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”. Se os homens perdessem todos os seus livros sagrados e se esquecessem de todos os seus cultos e rituais exteriores, mas se lembrasse tão somente de praticar essas máximas, o mundo seria outro.

 

E quando chegar esse dia, a Religião será desnecessária, e todas as atividades humanas serão mais fortemente iluminadas pela presença de Deus, e Ele será encontrado não somente nos templos, mas no coração de cada um de nós.