Texto de: Alexandre Paredes
Hoje temos muitas informações disponíveis, e qualquer informação está ao alcance de um clique, mas falta-nos tempo e paciência para ler e refletir, porque a velocidade de nossas vidas comporta somente uma leitura rápida e uma visão superficial das coisas.
A tecnologia possibilitou estarmos conectados com o mundo inteiro em tempo real, mas, de tão concentrados em nossos smartfones, tablets e notebooks, às vezes, nos esquecemos de nos conectar com quem está ao nosso lado.
Dispomos de redes sociais nas quais compartilhamos fotos, imagens, vídeos, palavras de sabedoria e coisas divertidas com nossos amigos virtuais, mas temos dificuldade de compartilhar o nosso tempo com nossos amigos presentes fisicamente na forma de uma boa conversa.
Já pisamos a Lua e planejamos fazer uma viagem tripulada, e sem volta, a Marte; enquanto isso, nosso planeta está sendo destruído, com o lixo que produzimos, o desmatamento de florestas, a emissão de gases na atmosfera que provocam o aquecimento global, a poluição de rios e mares, causando a extinção de inúmeras espécies.
A ciência e a tecnologia trazem, cada vez mais, conforto e comodidades à nossa civilização, mas, também, maior sofisticação nas formas de destruição, com armas tão poderosas que ameaçam todas as formas de vida no planeta.
Nunca estivemos tão globalizados; nunca os problemas do nosso mundo nos afetaram tanto como agora e nunca se percebeu tanto como hoje que os problemas de nosso quintal afetam tanto o nosso mundo, porém, na mesma medida, crescem o individualismo e o distanciamento da vida em comunidade.
As notícias pela TV geralmente nos abalam, mas, de modo geral, permanecemos indiferentes àqueles que estão ao nosso lado passando por verdadeiras calamidades em suas vidas particulares.
Vivemos uma época de supervalorização do novo e desprezo pelo velho, porém, mais rápido do que nunca, o novo fica velho, obsoleto, descartável, o que se reflete em nossos relacionamentos, ideias e modismos, que se tornam descartáveis assim como os produtos que compramos nas lojas.
A liberdade é o valor maior das sociedades democráticas, mas vivemos presos e oprimidos de outra forma: oprimidos pelo medo de ataques terroristas, presos atrás das grades de condomínios de luxo, por medo da violência urbana, que cresce na mesma proporção em que cresce o número dos excluídos da sociedade, que são cativos de suas misérias e de suas necessidades da vida material.
Inventamos o automóvel, que permite nossa locomoção rápida por grandes distâncias, mas nossas ruas estão tão cheias de carros, geralmente quase vazios, que não conseguimos nos locomover, em grandes congestionamentos,
O nosso mundo é movido pelo mercado e, cada vez mais, o mercado cria coisas maravilhosas que, geralmente, atendem às necessidades do mercado; nem sempre às necessidades reais dos seres humanos.
A medicina, com suas novas tecnologias e conhecimentos a serviço da saúde, cura doenças, mas nossa sociedade, como nunca, cria seres humanos doentes, sedentários, neuróticos e reféns das grandes indústrias de alimentos, de bebidas, de medicamentos e de produtos hospitalares, que nem sempre têm nossa saúde como prioridade, mas o lucro.
O culto ao corpo perfeito é uma obsessão da nossa era, o que nem sempre significa mais saúde ou bem estar, mas, por vezes, a coisificação do ser humano, que a tudo transformou em produto, inclusive seu próprio corpo, passível de ser exibido, exposto como numa vitrine, consumível, descartável, que desloca o foco da nossa vida da essência para a aparência.
A sociedade do consumo cria o mito da felicidade com base no “ter” – dinheiro, bens, status, beleza, sucesso – e no “parecer” – ser bem sucedido, realizado, de corpo em forma –, enquanto o verdadeiro “ser” ainda não encontra real satisfação, e como não a encontra, procura preencher o vazio em novas buscas pelo “ter” e pelo “parecer”.
Numa época em que predominam o materialismo e o ceticismo, as religiões crescem como nunca, porém muitas delas se desenvolvem segundo a lógica de mercado e segundo a lógica da busca por poder e dinheiro de seus líderes, mediante a promessa de satisfação dos desejos imediatistas de seus seguidores.
Apesar de tantas coisas que nos fazem descrer da humanidade, a fé permanece intacta, ou melhor, mais viva do que nunca, e até a própria ciência vem ao encontro da fé e da espiritualidade, demonstrando o quanto estas interferem na nossa saúde e determinam nossas vidas.
Em meio a um período histórico de grandes contradições e ambivalências, cabe-nos discernir, refletir, separar o joio do trigo, desconfiar de verdades absolutas e prontas, de visões de mundo unânimes ou hegemônicas. É preciso resgatar o que há de melhor no ser humano: sua humanidade, sua capacidade de ser melhor do que já foi, de escolher ser o que quer ser, de sonhar e alcançar o sonho, de reciclar o velho e recriar o novo.
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