Poema de: Alexandre Paredes
Perdão, Mãe Natureza! Perdão!
A ti pedimos perdão pela nossa insanidade
Porque a ti queimamos sem nenhuma piedade
E enquanto a Terra arde, frio está nosso coração
Morrem a Amazônia, o Cerrado, a Mata Atlântica e o Pantanal
E apesar de heróis-bombeiros lutarem em meio a tanto caos
Alguns se articulam para poder fazer “passar a boiada”
Já outros assistem, indiferentes, à vida ser exterminada
Assustados e sedentos, animais batem em retirada
E quando retornam não encontram quase nada
Daquilo que um dia, outrora, foi seu verde abrigo
Perambulam pelo antigo lar, desorientados e famintos
Ainda ouvimos o grito da quase extinta Mariana
Que foi sufocado pelos rejeitos de um mar de lama
De uma barragem que se rompeu e tanta dor nos trouxe
E assim destruiu um rio que um dia já foi Doce
Mas esse desastre ambiental não foi suficiente
Foi preciso perder mais vidas humanas, mais gente
Agora o lamento dos peixes e pescadores não está sozinho
Pois, com eles, choram também as famílias de Brumadinho
Mãe Natureza, você é assim destruída em nome de que?
São tantos discursos, mas qual a versão verdadeira?
Será que é preciso sofrer mais para podermos aprender?
Não dá mais para continuar a tapar o Sol com a peneira
Quem acredita nessa estória quase infantil
De que tamanha queimada como nunca antes se viu
Começa com o índio e o caboclo que põem fogo na roça?
O homem sensato e informado dessa piada faz troça
Alguns discursos são apenas cortinas de fumaça
Para desviar da multidão o foco de sua atenção
De modo que não veja o perigo que a todos ameaça
O do empobrecimento do solo e sua desertificação
O perigo do fim das nossas bacias hidrográficas
Que
levam água ao homem do campo e da cidade
Sustentam a agricultura, a pecuária e a biodiversidade
Mas não se recuperam perante mudanças tão drásticas
O público incauto acredita na mentira e na oratória
Que não conseguem ocultar a atividade predatória
Pois se ouvirmos bem os discursos, passarmos a limpo
A intenção é transformar algumas reservas em garimpo
Sob o pretexto de desenvolver a economia
A verdade é que apenas um pequeno grupo se beneficia
Da transformação das nossas florestas também em pasto
E esse benefício será somente o de um lucro imediato
Pois a médio e longo prazo, nunca é bom negócio
Reduzir a nossa terra somente ao agronegócio
Reduzir nossa visão a um estreito projeto de poder
De quem se apóia num grupo para poder se reeleger
Nossos governantes fazem hoje vista grossa
E pelos bastidores, sabotam a fiscalização
Em nome de um falso progresso, promovem a destruição
Enquanto grande parte da população apenas endossa
Muitos são assim coautores, cúmplices de um crime
Omitem-se perante a devastação que oprime
O direito das gerações futuras, que terão por herança
Um mundo com menos vida e uma vida com menos esperança
Mas sei – oh, Natureza! – que você cobrará o seu preço
Não importa nossa preferência política ou ideologia
Tudo o que semeamos no mundo colheremos um dia
E se hoje desprezo a vida, é porque então não a mereço