Artigo de: Alexandre Paredes
Não vamos
misturar os conceitos.
Hoje se comemora a Independência do Brasil, que deixou de ser uma
colônia de Portugal e passou a ser um país independente politicamente a partir
de 7 de setembro de 1822.
Mas independência não significa prosperidade, nem independência
econômica, nem garantia de liberdades, nem respeito aos direitos dos cidadãos,
nem mesmo uma sociedade justa ou menos desigual.
Há países independentes e pobres, como é o caso de diversos países da
América Latina e da África.
Há países independentes politicamente, mas dependentes economicamente
de outros países, como é o caso de todos os países do mundo, pois todos dependem,
em alguma medida, em algum grau, de outros países, com os quais estabelecem
relações de comércio.
Há países independentes e com grandes riquezas, mas profundamente desiguais, como é o
caso do Brasil. Nosso país é pródigo em terras férteis, em riquezas minerais,
petróleo, bacias hidrográficas, pecuária, produção de energia, mas com grande
parte da população vivendo na pobreza ou na miséria.
Há países independentes e que suprimem as liberdades de seus cidadãos,
por meio de ditaduras ou autocracias disfarçadas de democracias, como é o caso
da Venezuela, Belarus, Cuba, Rússia, Afeganistão, Coréia do Norte, China, entre
outros.
É muito justo, muito legítimo, usar a data da Independência do País
para fazer reivindicações e realizar manifestações por um Brasil melhor. Mas entendo
ser inadequado dizer que ainda não conquistamos a “verdadeira independência”.
Creio que não conquistamos, ainda, uma sociedade próspera, menos
desigual; não resolvemos o problema da fome, e nossa democracia anda meio
bamba, sob ataques, inclusive daqueles que acreditam defender a “verdadeira
independência”.
Ainda vivemos num País com sérias dificuldades para lidar com seus
problemas domésticos, como educação, emprego e saúde, mas nem por isso deixamos
de ser um país independente.
Quando o filho sai de casa e conquista sua independência, isto não quer
dizer que, dali por diante, tudo serão flores. Ele passará por dificuldades,
tropeços, cometerá erros e poderá até passar fome. Isso decorre do uso que ele
fará de sua liberdade para decidir os rumos de sua vida. Ninguém disse que a
liberdade seria fácil.
Parece que esse discurso de que “ainda não conquistamos a verdadeira
independência” traz uma espécie de terceirização tácita da nossa
responsabilidade, a responsabilidade por ditarmos o nosso destino, a de decidirmos
o nosso futuro.
É como o filho que saiu de casa, conquistou sua liberdade, sua
independência dos pais, mas, diante dos problemas e dificuldades, ele culpa os
seus pais. Ele tem sua independência, tem sua liberdade, mas, como a liberdade
é difícil, prefere responsabilizar alguém por seus fracassos.
Somos um país independente. Ponto. Se não conquistamos prosperidade, se
não garantimos as liberdades, não solucionamos o problema da fome, se ainda há
muitos excluídos em nossa sociedade, tudo isso são problemas que nós, enquanto
sociedade, enquanto povo, temos que resolver, juntos, unidos, e não ficar
aguardando que alguém dê mais um Grito do Ipiranga, e de uma hora para outra,
resolva todos os problemas da nação, como um salvador, um messias, que magicamente
inaugure um novo período de “verdadeira independência”.
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