sexta-feira, 4 de novembro de 2022

Caridade

Poema de: Alexandre Paredes

 









Um prato de comida não é somente um prato de comida

Pode ser o socorro na hora certa a quem está desesperado

Que, em meio a grande aflição, pensa em tirar a própria vida

Ao ver a mesa vazia e a fome que atormenta o filho amado

 

O agasalho e o cobertor não são somente o aquecimento

A singela doação pode ir além daquele ato despercebido

Não protege o sofredor apenas das intempéries do tempo

É o sol da esperança que aquece ao toque do gesto amigo

 

Uma visita ao doente na hora amarga não é só uma visita

Aquele tempo despendido no pequeno gesto de consolar

Pode ser um farol na existência da pessoa enferma e aflita

Que se recordará do bem diante de novas lutas a enfrentar

 

A moeda nunca é pequena demais a quem não tem nada

Pode ser um grande alívio para quem teve um dia difícil

Notar que alguém se importa o incentiva a seguir a estrada

E a se levantar da cama outra vez para tentar um novo início

 

Às vezes, aquilo que lhe parece pouco pode ser o bastante

Para tirar o outro do lamaçal e ajudá-lo a seguir em frente

Ou para fazê-lo se lembrar que Deus existe por um instante

Dando-lhe outro impulso para viver e acreditar novamente

 

Nem sempre temos condições de dar o que o outro precisa

Mas nunca nos faltará a oportunidade de abrir nosso coração

De escutar a dor do outro ou de oferecer-lhe a palavra amiga

De tratar o próximo com respeito e de abraçá-lo como irmão

 

A caridade é praticada de mil modos, que vão além da doação

Mas ela só é verdadeira quando realizada sem pensar em si

Quando não exige do outro pagamento de tributos de gratidão

E somente quando não se imagina que o beneficiado irá retribuir

 

Caridade é, sobretudo doar a si mesmo, é amor em movimento

É oferecer a outra face àqueles que nos ferem ou fazem sofrer

É endereçar a quem chora uma prece ou um bom pensamento

Mas também exercitar a paciência e vivenciar a alegria de viver

 

Há grande caridade quando alguém silencia diante da ofensa

Quando a gente conserva o olhar distante do infeliz julgamento

E exerce o serviço com humildade sem desejar recompensa

E quando a gente vigia a palavra e conserva puro o sentimento

 

A caridade bem compreendida é fazer o bem sem humilhar

É ajudar o próximo e, ainda assim, sentir-se o beneficiado

Porque quem socorre sabe que aquele momento irá passar

E amanhã qualquer um de nós poderá estar do outro lado

 

A caridade bem sentida é saber se colocar no lugar do outro

Fazendo a todos aquilo o que gostaríamos que nos fizessem

Demonstrar sincera compaixão, empatia, amor nunca é pouco

São esses pequenos gestos que as pessoas jamais esquecem

 

Mas não existe uma caridade mais sublime do que o perdão

Não é à toa que a palavra perdoar significa “doar por inteiro”

Porque aquele que perdoa ilumina tudo e deixa a maior lição

De libertação, bondade, fraternidade pura e amor verdadeiro


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