domingo, 25 de maio de 2014

Céu e Inferno

Poema de: Alexandre Paredes



Se respondendo a Simão
O mestre ensina o perdão
Não sete vezes somente
Mas setenta vezes sete, sempre
Quanto mais o Pai que está nos céus
Que ama a todos os filhos seus
Indistintamente, infinitamente
Então como imaginar o inferno ardente?

Se os homens ainda imperfeitos como são
Não dão pedra ao filho que lhe pede pão
Sabem dar uma nova oportunidade
Até ao que enveredou pela criminalidade
Será possível que Deus em toda sua majestade
Seja menor que suas próprias criaturas
Não dando a elas outras chances futuras
Pra se arrepender e conhecer a verdade?

Se existisse mesmo um castigo eterno
Que verdadeiro suplício não seria
Viver no paraíso todo dia
Vendo um ser querido queimar no inferno
Será que essa alma bondosa não tentaria
Descer dos cimos para aplacar a dor
Do filho, irmão, seja lá quem for
Daquele objeto maior do seu amor?

E, também, por outro lado
Poderia ser plenamente feliz no céu
Aquele que, levantando o véu
De todos os erros do seu passado
Perceber não ter totalmente expurgado
De sua alma os pequenos males e enganos
Sentir-se-ia merecedor da companhia dos anjos?
Não pediria pra voltar e viver mais alguns anos?

E se a maldade no mundo campeia
Basta ver o noticiário de cada dia
A fila do inferno deve estar cheia
Enquanto a do céu, bem mais vazia
Será que é essa a lógica da Criação?
Separar no além irmão de irmão?
Deixar uns poucos na perene alegria?
E condenar para sempre a maioria?

Se há um Deus justo em nossa crença
E tivermos uma só vida na matéria
Por que uns nascem na miséria
Enquanto outros, na opulência?
Por que uns vivem na favela
E outros, em dourada existência?
Uma criança nasce perfeita e bela
Outra, com defeitos de nascença?

Se houvesse uma só existência
Qual seria então o destino
De quem morre ainda menino
E dos que viveram na demência?
Como entender qual o sentido
Daqueles em estado vegetativo
Que viveram uma vida sem viver
Sem poderem um caminho escolher?

Se são tantas perguntas, em suma
O certo é que, no além, a vida continua
Disso não nos resta dúvida nenhuma
E cada um leva consigo o bem ou mal que semeou
O céu ou o inferno que para si mesmo criou
Mas para compreender num só golpe de vista
Toda a misericórdia de Deus e sua justiça
Conciliando pecado e expiação
Arrependimento e reparação
Felicidade como uma conquista
No aprendizado, trabalho e evolução
A chave é uma só: reencarnação