sábado, 21 de março de 2020

Coronavírus - 10 Lições

Artigo: Alexandre Paredes


O novo Coronavírus, quando surgiu, parecia só mais um novo vírus que iria se restringir a um local ou não representaria uma ameaça assim tão grande. Afinal, o H1N1 foi mais alarde do que um grande perigo.
Mas, entre a perplexidade e o medo, constatamos, numa velocidade espantosa, que ele é um problema que afeta a cada um de nós e que o mundo, certamente, não será mais o mesmo depois dele.
Apesar de toda a dor e angústia em que a humanidade se viu mergulhada, podemos extrair algumas lições interessantes sobre essa pandemia que assola o nosso planeta:

1.   Em meio a um movimento antivacinas crescente neste século, nunca se desejou tanto como agora a descoberta de uma vacina que nos salve.

2.  Vivemos um momento em que muitas pessoas defendem teorias absurdas, medievais, que questionam algumas verdades científicas, como a esfericidade da Terra e a evolução das espécies. Porém, nunca precisamos tanto da Ciência como agora, para nos trazer alguma esperança de cura ou de tratamento; para nos dizer como devemos nos higienizar e nos proteger.

3.    Estamos rodeados de uma pandemia de teorias da conspiração, como a de que a ida do homem à Lua foi uma farsa ou a de que o novo Coronavírus teria sido uma criação da China para se beneficiar economicamente no cenário internacional. Porém, diante da realidade que bate à nossa porta, diante do colapso no sistema de saúde, do sofrimento da população e da recessão econômica mundial iminente, tais idéias não se sustentam. Percebemos que a realidade impõe-se por si mesma, por mais que queiramos negá-la.

4.   Num tempo de redes sociais e de tantas "fake news", em que se brinca com a informação e no qual a opinião pública é manipulada, em que se desdenha da ameaça por meio de falsas perspectivas, em que se atribui a veículos de imprensa a onda de “histeria” em torno do assunto, o Coronavírus chega de forma inquestionável e não deixa dúvidas quanto à gravidade de seus efeitos e à seriedade com que devemos nos portar perante ele. E, por ironia do destino, estamos todos atentos aos veículos de comunicação para obtermos as informações de que precisamos para podermos superar este momento. Nenhuma tentativa de falsear a verdade sobreviverá às aflições que chegam às nossas casas sem nos pedir licença, sem nos perguntar qual a nossa crença ou nossa opinião.

5.  O vírus se dissemina, sem discriminação, entre ricos e pobres, líderes políticos e pessoas anônimas; penetra, sem cerimônia, em países de primeiro ou de terceiro mundo; desconhece fronteiras, não faz distinção de credo, raça, orientação sexual, identidade ideológica ou partidária. Num mundo tão dividido e intolerante, seremos unidos pela mesma dor em comum e teremos de nos unir se quisermos vencer essa batalha que é de todos nós.

6.   Numa escalada recente de tensões entre Estados Unidos e Irã e diante de conflitos que se arrastam em outros países, todos foram ou serão abatidos por um adversário minúsculo, que nos mostra o quão frágil é a vida humana e nos aponta que nada pode ser mais importante do que a saúde e o bem estar dos povos, das pessoas, das nossas famílias e entes queridos.

7.   O homem de hoje não pode parar, a economia global não pode parar, o capital tem de continuar girando, e continuamos reproduzindo nossa forma de vida ignorando ou tapando os olhos para as consequências das ações do homem no planeta: o aquecimento global, a destruição dos habitats e a extinção de espécies em escala jamais vista. Porém agora o homem teve de parar. Pode ser uma parada necessária para pensarmos no que realmente importa, em quais são as nossas necessidades reais.

8.    Os únicos remédios que podem nos auxiliar neste momento são a prevenção, os cuidados de higiene e o isolamento social. Temos vivido, nos últimos tempos, tão ligados aos nossos celulares e tão conectados com o mundo, que nos esquecemos de estar presentes junto aos nossos entes queridos mais próximos. Porém, estes momentos de isolamento têm-nos levado a nos conectarmos mais com nossos familiares, e temos usado a tecnologia para nos conectarmos, de fato, como seres humanos.

9.   Quando o medo da morte, seja nossa ou de nossos entes mais queridos, agora se torna uma aflição inquietante e compartilhada por todos, nunca percebemos tanto como neste momento o valor daqueles a quem amamos e o valor de termos uma fé ou algum tipo de espiritualidade que nos ampare, nos console e nos eleve acima das inquietações do mundo.

10. Tivemos que nos afastar uns dos outros, para estarmos mais próximos; tivemos que não tocar, não abraçar, não beijar, trabalhar em casa, talvez para valorizarmos mais o contato, o olho no olho, a simples presença do outro, talvez para aprendermos a deixar nossas diferenças em quarentena, a fim de que possamos ser um só povo, uma só humanidade.