domingo, 29 de junho de 2025

Sob as Lentes das Paixões

Texto de; Alexandre Paredes










Em meio a pessoas tolas e irascíveis, mal resolvidas consigo mesmas, não levar desaforo para casa é considerado uma virtude.

 

Onde a violência tornou-se normalizada e banalizada, a vingança, a crueldade e o desprezo pelas vidas alheias podem ser vistos como justiça.

 

Quando o consumismo nos governa, as conquistas materiais e o excesso de bens e recursos financeiros podem ser confundidos com a conquista da felicidade, assim como a ambição desmedida é retratada como pré-requisito para uma vida de sucesso.

 

Entre indivíduos carregados de preconceitos, que sentem a necessidade de diminuir o outro para enaltecer o próprio ego, ou por buscarem autoafirmação, senso de pertencimento ou de comunidade, piadas com ofensas racistas ou xenofóbicas são consideradas apenas uma brincadeira.

 

Quando o individualismo, a egolatria e o orgulho de classe ou de nacionalidade tomam conta de nossas vidas, o menosprezo pela natureza, por outras culturas e povos, ou por outras formas de ver a vida e o mundo é aplaudido e tido por evolução e progresso.

 

Onde o materialismo domina as mentalidades, o senso de espiritualidade ou de religiosidade é visto como atraso social.

 

Em regiões onde impera o fanatismo, o suicídio e o homicídio de várias pessoas podem ser interpretados como heroísmo ou a luta do bem contra o mal.

 

A percepção do bem e do mal é sempre influenciada e distorcida pela lente das paixões que nutrimos, individual ou coletivamente.

 

Cada cultura, cada povo, alimenta paixões que influenciam as pessoas que deles participam. Estes, por sua vez, influenciam a cultura e o povo aos quais pertencem.

 

Mas sempre temos a opção de refletir, questionar, pensar por nós mesmos e agir de forma diferente dos valores que nos foram transmitidos.

 

Em cada pensamento, palavra ou ação, somos sempre instados a fazer algumas perguntas muito simples: “Isto é bom?”; “Isto é verdade?” “Quais são os frutos dessa forma de agir?”; e a mais importante – “E se fosse eu a estar do outro lado, eu gostaria dessa forma de agir ou pensar para comigo mesmo?”.

 

Nesses tempos de tanta relativização e distorção de valores por conta das más paixões que ainda nos dominam, não existe guia mais seguro para nossas ações senão o desejar para o outro, seja ele quem for, aquilo que desejamos para nós, o não fazer ao outro aquilo que não gostaríamos que nos fosse feito.