domingo, 2 de janeiro de 2022

Meio Ambiente

Artigo de: Alexandre Paredes


 







Não é novidade que vivemos uma crise global sem precedentes. A interferência do ser humano na natureza, no seu meio ambiente, tornou-se de tal modo nociva, que tem sido causa da extinção de várias espécies de animais e vegetais em escala assustadora, e ameaça sua própria sobrevivência como espécie.

 

Parece que grande parte das nações e das pessoas concordam que são necessárias mudanças drásticas na forma como nos relacionamos com o nosso planeta, a fim de frear o aquecimento global e as catástrofes decorrentes da ação do homem na natureza. Mas por que tem sido tão difícil efetivar essas mudanças? Quais seriam as causas mais profundas desse problema tão grave? É o que tentaremos compreender aqui.

 

O egoísmo é, sem dúvida, a causa principal de todos os desastres ambientais provocados pela ação do homem. Que importa se vai acabar a Floresta Amazônica, o Cerrado ou a Mata Atlântica contanto que eu lucre bastante com a madeira derrubada, com o garimpo ilegal, com a transformação da mata em pasto ou com qualquer atividade econômica não sustentável? De que me interessa se os ursos polares serão extintos com o derretimento das calotas polares, se isto não afeta direta e imediatamente a minha vida? Pelo menos, assim pensa o egoísta.

 

Para fazer frente ao egoísmo, é comum ouvir dos ativistas em defesa do meio ambiente argumentos que tentem sensibilizar o egoísta, como, por exemplo, no sentido de que o desmatamento de florestas afeta a nós mesmos, na medida em que destrói nascentes, causa o assoreamento dos rios, a desertificação de nossas terras, as secas prolongadas. Isto implica o racionamento de água, aumento no preço da energia elétrica, desaceleração econômica decorrente da insuficiência de energia elétrica, piora na qualidade do ar devido à queima de carvão para suprir essa insuficiência, prejuízos na agricultura e pecuária em face das estiagens prolongadas, redução da biodiversidade e consequentes desequilíbrios ecológicos que afetarão nossa subsistência.

 

São tantas as consequências desastrosas decorrentes da atividade não sustentável do homem na natureza, que qualquer pessoa minimamente inteligente entenderia que a destruição do meio ambiente é um verdadeiro tiro no pé. Porém, para o egoísta que esteja obtendo lucro imediato, nenhum argumento será válido, porque não lhe faz diferença se as gerações futuras terão um mundo destruído ou se sua atividade predatória prejudica uma sociedade inteira. Enquanto o egoísta estiver se dando bem, para ele isto é o que importa.

 

Assim, poderíamos pensar que, diante da ação do egoísmo, somente a lei poderia frear sua ação nociva no meio ambiente. Mas há que se considerar que as leis são estabelecidas por homens e, na maioria das ocasiões, por homens poderosos, donos de capital, que influenciam ou corrompem políticos, ou que são eles mesmos os próprios políticos. Então, muitas das leis são estabelecidas pelo próprio homem egoísta que se beneficia da sua atividade nociva ao meio ambiente. E do mesmo modo que existe o egoísmo individual de cada ser humano, existe o egoísmo de grupos, de classes, de corporações, de nações. Esse cenário dificulta bastante o estabelecimento e a fiscalização de leis que impeçam a ação dos egoístas em detrimento do bem da coletividade.

 

Quando toda uma coletividade, um grupo, um município, um país se beneficia de uma atividade que gera riquezas, empregos, movimenta a economia, mas destrói a natureza e que não permite que ela se recupere, ocorre um consentimento tácito para as ações prejudiciais, já que a atividade econômica é um bem mais imediato e perceptível pela população, pois gera empregos e riqueza a curto prazo, enquanto a destruição do meio ambiente ocorre ao longo de décadas, não sendo tão sensível a uma só geração.

 

Não se trata de desanimar aqueles que pretendem combater o mal com o aperfeiçoamento das leis e melhorias na sua aplicação, ou seja, fiscalização e punição de culpados. Mas fato é que leis não são suficientes para coibir o egoísmo, nem para tornar os seres humanos mais empáticos. Leis podem punir um ser humano que realiza tráfico de animais, por exemplo, podem multá-lo, prendê-lo, mas não conseguem fazer com que ele se sensibilize com o sofrimento dos animais. O mesmo se aplica ao sofrimento de outros seres humanos que são impactados por suas ações destrutivas ou que beneficiem um pequeno grupo em detrimento de toda uma coletividade. Leis não conseguem obrigar o homem a ser mais solidário nem a se importar com o sofrimento do seu próximo.

 

Geralmente, os argumentos utilizados para minimizar a ação danosa do ser humano no meio ambiente têm por finalidade mostrar o quanto suas ações prejudicam o próprio homem, na medida em que ele, destruindo o meio onde vive, escasseia seus meios de sobrevivência. Porém, somente a percepção empática para com os demais seres da natureza é capaz de transformar efetivamente o ser humano.

 

O homem somente deixa de destruir quando se sensibiliza pela dor do animal, quando se entristece por ver um mundo menos verde, quando lhe dói ver a extinção de espécies, ou quando a matança de baleias o comove, quando lhe é caro o canto dos pássaros que ele não mais escuta, quando ele aprecia a beleza da natureza e da vida. Ou seja, somente o amor à natureza pode, efetivamente, tornar o ser humano mais protetor do seu meio.

 

A proteção à natureza, o respeito às outras formas de vida deveria ser um fim em si mesmo, e não somente um meio para o homem, para que ele atinja determinado fim. Não deveríamos compreender a necessidade de preservar o meio ambiente só pelo ponto de vista de nosso interesse pessoal, porque quando o interesse pessoal vem na frente, ele sempre vence. Deveríamos apreciar a vida pelo valor que a vida tem em si mesma, e não só pelo valor que ela pode me oferecer, justamente porque não somos o centro do mundo nem do Universo. E o homem só conseguirá estar em harmonia com o seu meio quando se der conta dessa realidade, quando sentir em seu coração e compreender com o seu intelecto que, de fato, sua vida depende de outras formas de vida e do meio em que se encontra, numa cadeia de relação de interdependência a se perder de vista.

 

Mas como um ser humano que se intoxica com o tabaco, destrói a si mesmo com o uso de narcóticos, com o excesso de álcool ou com emoções e pensamentos tóxicos, como uma pessoa que não aprecia a si mesma, usando o próprio corpo como lixeira ou como objeto, poderá apreciar e preservar o mundo que a cerca? Dificilmente, há amor à natureza quando não há amor e respeito a si próprio. O mundo exterior é um espelho de nosso mundo interior. Quando não amamos a nós mesmos, não há meios de amar ao próximo, nem aos animais, nem ao mundo que nos cerca, porque todo o amor nasce do amor à vida. Então a miséria, o lixo por toda parte e a destruição são, na verdade, reflexo da miséria moral de nossa sociedade, do nosso lixo interior e de nosso estado de autodestruição ou de destruição do próximo.

 

Da mesma forma, será praticamente impossível solucionar os problemas dos animais em extinção ou da aniquilação de habitats e ecossistemas enquanto grande parte da população mundial vive à cata de alimentos e passa sufoco para obter o pão de cada dia. O egoísmo do ser humano, a falta de amor ao próximo e de empatia cria, sobretudo, o abismo das desigualdades sociais, a pobreza e a miséria, em que grande parte da população não tem certeza se terá alimento no dia de amanhã ou moradia adequada. Como essa população poderá efetivamente agir em defesa do seu meio se a questão mais urgente em sua vida é sua sobrevivência? Então, em muitas ocasiões, a atividade não sustentável de muitos deriva da própria necessidade de subsistência, sendo eles impelidos a buscar uma atividade que lhe garanta o sustento.

 

Assim, somente uma sociedade justa entre os humanos poderá ser capaz de, efetivamente, moldar um mundo mais equilibrado ecologicamente, porque, enquanto faltar o necessário a grande parte da população, não há como esperar desta uma preocupação que vá além da sua autopreservação.

 

Outro aspecto que pode ser considerado uma das causas principais da destruição do meio ambiente é o pensamento imediatista do ser humano. Que importa para o homem se amanhã não haverá planeta se para ele não haverá amanhã, ou se amanhã ele não estará aqui? Quando o pensamento vigente na sociedade é a visão materialista, isto é, de que nossa vida acaba com a matéria, e o de que nossa existência se limita a esses breves anos que passamos pela vida física, dificilmente haverá interesse real nos destinos das gerações futuras, que herdarão um mundo com menos vida, menos condições de habitabilidade, menos abundância e diversidade.

 

Alguns poderão dizer que a maioria da população do planeta é religiosa e acredita que nossas ações, boas ou más, acarretarão consequências correspondentes em nossa vida futura. Ocorre que essa vida futura pregada pelas religiões não será aqui neste planeta, mas num paraíso ou num inferno fora daqui. Desse modo, não há um real sentimento de solidariedade com os futuros habitantes deste planeta, uma vez que o nosso destino estaria traçado para além dele.

 

Quanto às eventuais consequências de nossos maus atos para a vida futura, é provável que haja uma percepção de que a derrubada de madeira para a atividade econômica ou para a transformação da floresta em pasto não seria um crime tão grave aos olhos de Deus, a ponto de conduzir-nos a um inferno eterno. Junte-se a esse aspecto o fato de que, na visão de mundo de muitos religiosos, existe a ideia de que o homem seria o centro da Criação, sendo o protagonista, de modo que os animais e vegetais, a natureza em si, existiriam para servir ao homem.

 

Este é o pensamento de muitas pessoas. Os animais e os vegetais não teriam uma existência por si, para si mesmos. Não haveria um sentido para a vida desses seres senão para servirem às necessidades humanas. É a visão antropocêntrica da Idade Média que ainda vige em muitas cabeças em nossa era. Essa mentalidade faz o homem dispor da natureza como bem entende, mesmo porque este mundo seria apenas uma ponte para o mundo além, para a vida além.

 

Para muitos religiosos, especialmente cristãos de diversos segmentos, há ainda o pensamento apocalíptico, de fim do mundo. Se existe uma mentalidade de que o mundo está fadado, inevitavelmente, por força de um decreto divino, ao seu final, e que este final estaria próximo, qual seria a necessidade de esforço por preservar o mundo material se ele, em breve, será exterminado pelo próprio Criador? Só nos restaria ocupar-nos com a nossa alma, com a conversão de outras pessoas às nossas crenças ou com as práticas da nossa fé religiosa.

 

Por outro lado, na visão reencarnacionista, o ser humano pode retornar a viver neste mundo diversas vezes, a fim de se aprimorar moral e intelectualmente, herdando o mundo que ajudou a construir, seja ele mais justo ou mais injusto, escasso ou abundante em recursos naturais. Nessa forma de ver a vida, o passado, o presente e o futuro se tornam solidários entre si, e cada um de nós recebe do mundo exatamente aquilo que nele semeou. Nesse paradigma, o ser humano tem um maior sentimento de pertencimento ao planeta, que é sua casa, sua escola, em que habita e habitará, provavelmente, durante muitos séculos, durante muitas existências corporais, visando ao seu progresso espiritual.

 

Nos países democráticos, existe, ainda, um círculo vicioso, de difícil correção. Os representantes do povo são eleitos para um mandato de quatro ou cinco anos, que pode ser prorrogado em eventual reeleição. Para agradar à massa de eleitores, ações de longo prazo não angariam muitos votos.

 

Por esse motivo, dificilmente os representantes eleitos pelo povo aplicam-se na solução de problemas como o saneamento básico, por exemplo, que não trazem resultados imediatos e perceptíveis para a grande parte da população. Desse modo, apesar de ser um problema tão capital para tantas pessoas e para o meio ambiente, trata-se de uma questão que não traz muito retorno político aos representantes eleitos. Raramente, vemos grandes exemplos de projetos de longo prazo bem aplicados em países democráticos, como, por exemplo, educar a população. Mas há algumas belas exceções, como é o caso da Finlândia, que fez uma verdadeira revolução na educação.

 

O que acarreta mais retorno aos políticos é a execução de obras que sejam realizadas dentro do mandato de quatro anos e medidas que lhes deem popularidade, como a concessão de benefícios assistencialistas, por exemplo, que socorrem a população e angaria votos, mas pouco contribui para o desenvolvimento efetivo do país, embora louvável e necessário à população que vive na miséria. Isto sem falar nos políticos que ocupam o poder apenas em causa própria, buscando enriquecer-se à custa da miséria da população, mas este aspecto já foi abordado aqui quando discorremos sobre o egoísmo.

 

Ademais, de modo geral, nos países democráticos ocorre, ainda, uma alternância de poder entre projetos distintos, concorrentes, contraditórios, de partidos ou frentes políticas que se antagonizam permanentemente. Nesse contexto, é muito comum observarmos, por exemplo, um governante, assim que assume o poder, desfazer todas as grandes ações iniciadas pelo governante anterior. Essa descontinuidade é um grande entrave para as soluções que exigem muito tempo de investimento, preparo, ajustes e insistência para que se colham frutos reais.

 

O ser humano, por natureza, busca sempre uma vida melhor, mais conforto, mais comodidades, desenvolvimento social. Mas sabe-se, hoje, que se todas as nações do mundo conseguissem reproduzir o modo de vida dos países mais desenvolvidos, precisaríamos de cerca de quatro planetas Terra para dar conta de suportar a demanda por matéria-prima para possibilitar aos demais habitantes as mesmas condições. Dessa realidade só podemos chegar à conclusão de que é necessário repensar o modo de vida dos países mais desenvolvidos ou em desenvolvimento, e a forma como eles dispõem das riquezas naturais.

 

Não há como todos reproduzirem o mesmo modo de vida dos países desenvolvidos, porque os recursos naturais são finitos, o planeta é um só. Não haverá planeta se as atividades econômicas não forem sustentáveis. Não há riqueza com mineração se ela vier acompanhada da destruição de todo um ecossistema, em razão do derramamento de rejeitos. Não há crescimento econômico sustentável se houver destruição das florestas, e com ela, a destruição de nascentes, de fontes de água que sustentam a agropecuária, as usinas hidroelétricas, a vida em suma. Não haverá peixes para pescar no futuro se a pesca não respeitar os limites impostos pela própria natureza, se não permitirmos que os peixes se reproduzam e se perpetuem como espécie.

 

O modo de vida Capitalista gera riquezas, produz valor para a sociedade, gera comodidades, progresso científico, intelectual, material, tecnológico, porém produz, também, alguns efeitos colaterais, como o consumismo exagerado e um ser humano extremamente desejante e competitivo.

 

Como o sistema Capitalista é movido pela necessidade de que o consumidor continue consumindo cada vez mais, para que haja o escoamento da produção, de modo que o dono do capital tenha sempre mais lucro e vença seus concorrentes, a sociedade é estimulada a ter, comprar cada vez mais, consumir cada vez mais, sendo estimulada, inclusive, a ter necessidades de consumo que não são necessidades reais.

 

Essa lógica traz como consequência um ser humano excessivamente estimulado a buscar o supérfluo, a ostentação, o luxo, enquanto muitos padecem de fome e das necessidades reais. A multidão dos menos afortunados vê no modo de vida do rico o seu objeto de desejo. Não importa se o que já se tem é o suficiente; ele buscará sempre mais e mais, mesmo porque isso é da natureza humana. Ocorre que mesmo os que já têm muito além do supérfluo também sempre querem uma vida melhor, buscando sempre no objeto de consumo que ainda não possuem a razão da sua felicidade.

 

Como resultado, o ser humano da atualidade vive ansioso por ter sempre mais, inclusive aqueles que já ostentam o luxo diante da multidão dos menos privilegiados. Esse quadro não nos permite pensar no que é bom para a humanidade enquanto coletivo. A sociedade competitiva busca não exatamente uma vida boa, mas uma vida melhor do que a do outro, do que a do seu colega de trabalho, do que a do país vizinho, do que seu concorrente e assim por diante. E nessa corrida insana por mais e mais, custe o que custar, o planeta sente os reflexos no esgotamento dos recursos, no excesso de lixo produzido, no excesso de gases na atmosfera que causam o aquecimento global.

 

Desse modo, ainda que a maioria dos discursos esteja alinhada quanto à necessidade de mudarmos nossa relação com o planeta, na prática a sociedade em geral não está muito disposta a renunciar a seu projeto de melhoria econômica, individual ou coletiva, em benefício da ecologia. Em primeiro lugar, geralmente vem o meu ou o nosso bem-estar; a conta desse desajuste com o ecossistema fica para ser paga pelas gerações futuras.


O modo de vida capitalista gera uma inversão entre as necessidades reais dos seres humanos e as necessidades dos donos de capital. Se sou fabricante de carros, por exemplo, o meu interesse é vender o maior número de carros possível, ainda que nossas cidades fiquem abarrotadas de carros. Se a cidade vive da fábrica de carros, os empregos dependem disso, maior é o interesse em gerar mais riqueza. Se uma nação depende dessa atividade, mais interesses estão em jogo.

 

O consumidor, desejante, por sua vez, quer ter um carro, para dar-lhe liberdade, autonomia. Entretanto é muito comum vermos as pessoas presas, em nossas grandes cidades, em imensos engarrafamentos de carros, geralmente quase vazios, pouco ocupados, enquanto as ruas ficam sobrecarregadas de veículos e nosso ar sobrecarregado de gases que causam o efeito estufa. Se todas as pessoas do mundo tivessem acesso ao automóvel, se todos tivessem poder aquisitivo para tal, nossas ruas não comportariam tamanho volume de veículos.

 

Se vendo petróleo, por exemplo, importa que eu venda o máximo de barris, com o maior preço possível. Não será do meu interesse, neste caso, que o mundo comece a usar carro elétrico, ainda que seja mais benéfico para o mundo inteiro. E se os produtores de petróleo são grandes donos de capital, é possível imaginar porque implantar tal inovação é tão difícil, além das questões técnicas envolvidas.

 

Os governantes dos países, os políticos em todos os níveis, geralmente têm uma relação de subserviência aos grandes donos de capital. Então, por mais que os discursos de políticos do mundo inteiro se alinhem no sentido de defender o planeta, no fim das contas, quem decide ou quem mais influencia na tomada de decisões são os donos de capital. Assim, o que mais ocorre em encontros de grandes países em defesa do clima são promessas e acordos que não se cumprem, ou que não se pretende cumprir, ou se cumprem de forma tímida, porque muitos desses acordos não são interessantes aos maiores donos de capital.

 

Um outro aspecto interessante que ocorre no Capitalismo é o fenômeno da alienação. Nesse sistema, o produto do trabalho do trabalhador lhe é algo estranho, porque ele é contratado para prestar serviços em determinada fatia de todo o processo que gera o produto ou os produtos finais. Desse modo, o trabalhador não se sente diretamente responsável pelo resultado final do seu trabalho; em outras palavras, ele é alienado do produto final do trabalho.

 

Esse processo de alienação é reproduzido em outros aspectos da nossa sociedade. Ocorre, também, com o lixo que produzimos. Quando observamos o problema das toneladas de plásticos que vão parar no mar e acabam por matar tartarugas marinhas, que pensam que o plástico é um alimento, ou se decompõem em microplásticos que contaminam os peixes, e que, por sua vez, contaminam os seres humanos que se alimentam deles, não há um sentimento de que somos responsáveis ou corresponsáveis por esse desastre. Para grande parte das pessoas, o problema é do governo, das empresas que fabricam o plástico ou dos supermercados que nos fornecem o material.

 

A mentalidade ainda vigente em grande parte das pessoas é a de que, depois que joguei meu lixo fora da minha casa ou do meu ambiente de trabalho, ele já não me pertence, já não é mais problema meu. Muitos dirão que é um absurdo a morte de animais marinhos devido aos canudos plásticos lançados no mar diariamente, e até dirão que é preciso fazer alguma coisa, mas não se sentem parte do problema quando acabaram de usar um canudo plástico e o jogaram na lixeira.

 

Parece que, a partir daquele momento em que o canudo foi para a lixeira, o problema já não é mais dele. Ocorre que as empresas que fabricam canudos só os fabricam porque existem consumidores, e porque existem empresas de alimentos que os fornecerão aos clientes. O mesmo ocorre com sacolas plásticas, embalagens e materiais descartáveis em geral.

 

Com a Revolução Industrial e grande parte dos seres humanos passando a viver nas grandes cidades, houve um distanciamento do homem em relação à natureza. Para muitas pessoas, a água vem do sistema de encanamento, o leite vem da caixinha, o alimento vem do mercado, a carne vem do açougue. Para a criança que sempre viveu na cidade, não há uma percepção clara de que a carne que ele come é a de um animal abatido, que a água da torneira ou do filtro vem de uma fonte finita, que o alimento à mesa precisou ser cultivado em terras férteis, e que essas terras férteis precisaram de água, adubo e cuidados do homem do campo.

 

Esse distanciamento da natureza prejudica a percepção de que nossa vida depende efetivamente de outras vidas e do equilíbrio do ecossistema. Tudo o que o ser humano precisa hoje está disponível em alguma prateleira, foi processado por alguma indústria, passou por um intermediário. Nós vemos só aquela parte final do processo, quando compramos o de que necessitamos, mas não tomamos conhecimento se aquele produto que adquirimos foi produzido de uma forma não sustentável, que destrói a natureza de modo que ela não tenha como se recuperar. Ou seja, essa forma de vida alienou-nos também em relação à própria natureza, que nos parece distante, fora do nosso alcance, e que, portanto, há um sentimento de pouco podemos fazer a respeito.

 

As grandes metrópoles se afiguram para nós como um mundo grande demais para que sejamos capazes de fazer alguma coisa. Nossa vida tornou-se atomizada, isto é, vivemos com pouco senso de comunidade, vivemos nossas vidas de forma individualista, cada um buscando qualidade de vida ao seu modo, e nos sentimos impotentes para mudar algo tão complexo e tão grande como o mundo, que nos parece responsabilidade somente das autoridades, das empesas, dos legisladores.

 

Essa falta de sentimento de pertencimento à comunidade e falta de sentimento de que as coisas públicas também nos pertencem e merecem nossos cuidados são o que fazem com que um banheiro público seja sempre imundo, porque não o cuidamos como o cuidaríamos se fosse o banheiro de nossa casa, apesar de que muitos não cuidam sequer dos banheiros de suas casas. Não há uma ideia de que a coisa pública é algo de todos, mas, sim, algo de ninguém.

 

Essa percepção só muda quando é a própria comunidade que cuida de uma determinada horta comunitária ou se fosse o próprio cidadão comum que lavasse o banheiro público, quando os moradores de uma localidade se juntam em mutirão para plantar árvores, limpar um terreno e zelar pela sua limpeza. Como sempre existem terceiros que limpam o vaso sanitário, realizam a limpeza pública, plantam e cortam árvores, os cidadãos não têm uma relação afetiva com o meio ambiente e não sentem que aquele espaço público também é seu e também depende de seus cuidados.

 

Esse quadro gera os cidadãos inconscientes, que jogam seu lixo pela janela dos carros, descartam sua bituca de cigarro em qualquer lugar, usam o banheiro público como se nunca mais fossem precisar dele ou pouco se importando se o próximo usuário encontrará um lugar imundo. É essa mesma inconsciência que faz com que o ser humano não tenha nenhum apreço por uma árvore, pela mata, por uma nascente ou um lugar florido. Então, é esse tipo de pessoa que, para limpar seu terreno, produz uma queimada que se torna um incêndio florestal. Para ele, não importa muito se sua queimada causou tanta destruição, contanto que seu terreno fique limpo.

 

Creio que esse tipo de pessoa ainda é a minoria. O problema é que a destruição é algo que se faz de maneira muito mais fácil. Basta uma pessoa inconsciente e inconsequente acender um fósforo para destruir uma floresta, enquanto o replantio de árvores é um processo de décadas. Basta ver o exemplo do fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado, que plantou milhões de árvores em Minas Gerais e, com isso, recuperou nascentes, animais desaparecidos ressurgiram e todo um habitat foi recuperado.

 

Somente uma educação conscientizadora será capaz de transformar esse quadro. Mas o modelo de educação da nossa civilização atual ainda é o da transmissão de conhecimentos aos filhos para que eles possam reproduzir o nosso modo de vida atual, e não para repensar nosso modo de vida, refletir sobre ele e transformá-lo. As escolas procuram preparar o aluno para que encontrem, futuramente, espaço no mercado de trabalho. Ocorre que a velocidade com que o mundo tem mudado, nem mesmo para o mercado de trabalho as escolas estão dando conta de preparar, porque assim que uma pessoa completa sua formação, em pouco tempo seu conhecimento já estará defasado ou obsoleto.

 

Junte-se a isso o fato de que o conhecimento transmitido pela educação formal é fragmentado. Encontramos especialistas em diversas áreas do conhecimento, tais como engenharia, medicina, matemática, comunicação, biologia, psicologia, química e assim por diante. Mas parece que nos faltam conhecimentos que conectem todos os conhecimentos.

 

Falta-nos transmitir o conhecimento ligado à sabedoria de viver e a de viver bem em sociedade; do contrário, estaremos criando nossas crianças como se fossem apenas um amontoado de peças soltas para se encaixarem numa grande máquina que seria a nossa sociedade. Ora, se essa máquina já não está funcionando muito bem e está em constante mutação, aquela peça preparada desde a infância para compô-la e fazê-la funcionar estará deslocada quando chegar a sua hora de fazer parte do mercado de trabalho, porque a máquina já mudou, o mundo mudou, o mercado de trabalho mudou. Ou seja, a máquina de hoje já não se parece muito com a máquina de ontem, mas continuamos educando nossos filhos do mesmo jeito há décadas.

 

Acreditamos, erroneamente, que a ecologia é um problema a ser pensado somente pelos biólogos, mas pudemos perceber, em breves reflexões, que o problema ecológico que hoje enfrentamos tem causas em diversas dimensões do ser humano, como economia, ética, modo de produção, crenças, questões psicológicas, falta de consciência e compreensão dos processos naturais, questões morais, vida em sociedade. Enquanto nossa educação apresentar uma visão de mundo fragmentada, não conseguiremos ter êxito na solução de problemas que requerem uma visão global, e não apenas uma visão cartesiana do mundo e da vida.

 

Não existe outro caminho a percorrer senão o da conscientização de cada ser humano a respeito de sua relação com o outro e com o seu meio; da conscientização de que cada ação sua impacta o mundo ao seu redor. E não existe outra forma de isso acontecer senão por meio da educação e da autoeducação.

 

 Não é só nas escolas que podemos aprender ou ensinar alguma coisa. Nunca me esqueço do exemplo dos japoneses nos estádios brasileiros na Copa do Mundo de 2014 recolhendo o lixo ao final de cada partida, dando não somente uma lição de educação, mas de consciência do que é viver em comunidade e harmonia com o meio ambiente.

 

A nossa educação precisa extrapolar as escolas; precisamos ensinar e aprender ética em pequenas atitudes como essa dos japoneses, mas também como o exemplo da população de cidades litorâneas do Nordeste brasileiro quando se uniu para limpar a sujeira decorrente de um derramamento de petróleo misterioso em 2019, que poluiu o litoral. Ações concretas são o melhor meio de educar e de se autoeducar, de inspirar e mobilizar pessoas para o bem coletivo.

 

O mundo é muito grande, mas podemos fazer alguma coisa por ele cuidando do nosso quintal, cuidando da nossa relação com nossos vizinhos, com nosso próximo, lutando por proteger as nascentes, os animais, as florestas, os mangues. Podemos fazer a nossa parte e ser parte da solução, e não do problema. São as nossas pequenas ações que poderão fazer a diferença no mundo, como fazer a separação do nosso lixo para a coleta seletiva, reduzir o consumo de plásticos, consumir a água de forma racional, usar, dentro do possível, fontes de energia renováveis e não poluentes.

 

Eu, particularmente, só acredito em mudanças reais quando a mudança vem de dentro, quando vem do exemplo. E esse exemplo não pode ser só o da proteção dos habitats, dos animais, dos ecossistemas, desconsiderando o ser humano, suas misérias, pois somos nós, os humanos, os responsáveis pelas mudanças climáticas e pela extinção em massa de várias espécies.

 

As mudanças climáticas decorrentes do efeito estufa podem se nos apresentar como um desafio e tanto para a nossa e para as gerações futuras. Por outro lado, é esse grande grito de alerta da comunidade científica e da natureza que tem, de alguma forma, nos unido enquanto humanidade. Sempre lutamos uns contra os outros, nações contra nações, para conquistar uma supremacia, seja econômica, militar ou cultural, mas é justamente essa grande crise que se tem mostrado como uma grande oportunidade de nos mostrar o quanto somos frágeis e o quanto precisamos nos unir para continuarmos a termos um lar e um futuro.


quinta-feira, 16 de dezembro de 2021

Novos Tempos

Letra e Música: Alexandre Paredes


Voz: Alexandre Paredes
Violão Nylon: Alexandre Paredes
Violão Aço: Rodrigo Rocha
Piano: Mariano Júnior
Violoncelo: Nícolas Madalena
Acordeon: Wanderson Santos
Baixo: Rafael de Sousa Lima
Bateria: Iago dos Santos
Back Vocal: Maboh e Josué Calebe
Gravado no Estúdio Hertz




NOVOS TEMPOS


Soa a hora

Contrastes, verdade e ilusão

Desperta tua consciência

O mundo espera a transformação


Não te entregues

A dor é um chamamento

O amor é uma chama acesa

E de que o mundo precisa então?


Novos tempos

Que as tempestades e os trovões

Vêm anunciar

Ao som de uma canção 

E harmonias de uma lei maior


São as vozes do outro lado da vida

A nos dizer que a vida não cessa jamais

E que é tempo de se renovar


São as vozes do outro lado da vida

A nos dizer que a vida não cessa jamais

E que é tempo de se renovar


terça-feira, 2 de novembro de 2021

Finados

Poema de: Alexandre Paredes 










A morte não é o fim, então não existe finado

Não existe a morte, mas apenas transformação

Quem se foi, não está longe; continua ao teu lado

Ele permanece vivo, porém em outra dimensão

 

Eleva o teu pensamento a Deus e faze uma prece

Endereça ao ente querido a flor do teu sentimento

Dá-lhe o maior presente: o amor que não se esquece

Não existe maior homenagem, maior monumento

 

Aquele que retornou para a verdadeira vida

A vida espiritual, a vida do espírito imortal

Não será tocado por nenhuma palavra vazia

Nem por objetos ou coisas do mundo material

 

Mas, sim, pela lembrança, pela boa saudade

Aquela que lembra do outro com alegria

E não aquela saudade inconformada, sofrida

Que o prende e não o deixa voar com liberdade

 

Quando te lembras de quem se foi com aflição

E tua aflição se transforma em revolta e torpor

Envolves o ser amado com tua angústia e dor

Fazendo dele um prisioneiro do teu coração

 

Transforma as tuas lágrimas de dor em esperança

Transmuta o teu adeus em apenas um até breve

Renova em ti a fé em Deus, e na vida a confiança

Para que teu luto neste mundo se faça mais leve

sexta-feira, 8 de outubro de 2021

Bem Aventurados os Puros de Coração

Poema de: Alexandre Paredes


Bem aventurados os puros de coração pois eles verão a Deus

Porque é no coração que estão os olhos e os sentidos da alma

Essas palavras de Jesus contidas no capítulo quinto de Mateus

São o caminho para a verdadeira paz, a serenidade e a calma

 

Se Deus é imaterial, não será percebido pelos olhos do corpo

É preciso desenvolver as qualidades adormecidas no espírito

O que não será possível enquanto o indivíduo estiver absorto

Em todas as coisas que brilham no exterior, no mundo físico

 

Quando o coração se entorpece com as ilusões do orgulho

Distorce a razão, que cria sistemas de engano, negação e fuga

Será como um vaso que está cheio de poeira, lixo e entulho

Que recebe a água pura e a transforma em lama e água suja

 

Não é grande coisa quando alguém é apenas rico de intelecto

Enquanto ele for por dentro pobre de amor e de boa vontade

Terá eloquência, belas palavras, e de teorias estará repleto

Mas lhe faltará a pura alegria que só provém da simplicidade

 

As duas asas da evolução espiritual são a sabedoria e o amor

Mas o que ama está sempre acima daquele que apenas sabe

A sabedoria decifra enigmas, aponta caminhos, alivia a dor

Mas o amor é em si fonte inesgotável de harmonia e felicidade

 

Quando o coração está fechado nas escamas do egoísmo

Obscurece a janela que conecta o interior do ser ao Infinito

Assim, seu olhar se volta somente para o seu próprio abismo

E se perde em si mesmo e de tudo o que há em si de divino

 

Apenas há real pureza de coração quando é puro o pensamento

E para isso é necessário combater o mal no início, em sua raiz

De nada adianta combater o mal que vem de fora, se por dentro

Permanece a origem de tudo aquilo que torna a pessoa infeliz

 

Se o ser humano sufoca a criança que habita em seu coração

Adornando-se de falsas virtudes, apenas cultiva a hipocrisia

Mentindo para si mesmo e querendo do mundo a admiração

Enquanto de si permanece distante e sua vida se torna vazia

 

A simplicidade leva-nos a perceber a nossa própria pequenez

Mas isto está longe de ser motivo de desânimo ou tristeza

Pois há grande satisfação em ser parte de tudo o que Deus fez

E não precisar viver sob o peso de máscaras traz grande leveza

 

Ninguém se torna alguém melhor fugindo de si, de sua verdade

Ser puro e aceitar-se, amar-se como se é, eis o nosso maior ativo

Somente o olhar para dentro do coração com total honestidade

Pode tornar-nos seres melhores e levar-nos ao nosso real destino

 

Só quem vê a vida, a si e aos outros com a pureza de um menino

Consegue ver por trás de cada ato de maldade apenas uma criança

Que sente, que sofre, e que na falsa grandeza é apenas pequenino

Vê o Deus que há em cada ser, e por isso jamais perde a esperança


sábado, 21 de agosto de 2021

Positividade Tóxica

Poema de: Alexandre Paredes



 







A positividade é uma ideia muito difundida na atualidade

Nossa sociedade, na busca de encontrar novas receitas de bolo

Soluções fáceis para antigos e complexos males da humanidade

Encontra caminhos mágicos que por vezes podem ser um engodo

 

Enquanto existe a positividade sadia, há também a sua caricatura

A positividade sadia aceita e acolhe a tristeza, aprendendo com ela

Positividade tóxica é falta de contato consigo mesmo, falta de leitura

Da dor que cada um traz em si e do ensinamento que ela encerra

 

Sempre é um bem quando escolhemos reprogramar a mente viciada

Pois nossa vida é reflexo de nossas crenças, pensamentos e emoções

Nossas aflições decorrem, em grande medida, da palavra habituada

A fixar-se no que é negativo, a julgar, criticar e a fazer reclamações

 

Porém, é bom lembrar que a vida carrega um grande contingente

De situações que fogem totalmente à nossa capacidade de controlar

Na positividade distorcida, tudo o que nos ocorre depende só da mente

Que atrairia para si o sucesso ou fracasso, todo o bem ou mal estar

 

A positividade mal compreendida procura manipular a realidade

Todos os acontecimentos da vida seriam, desse modo, apenas resultado

Daquilo que sintonizamos, que determinaria nossa ruína ou prosperidade

Assim, se algo não vai bem ou deu errado em sua vida, você é o culpado

 

Esse pensamento leva o ser humano a não aceitar que toda tribulação

É parte natural do processo de aprendizado, e não necessariamente

O resultado daquilo que semeamos ao nosso redor, como ação e reação

Pode ser só prova para que nossa alma desperte seu potencial latente

 

A positividade verdadeira aceita o mal que vem do mundo exterior

Entende que o que eu faço com o mal que me fazem é minha escolha

Se não posso evitar que pessoas ou coisas causem em mim muita dor

Sou responsável pelo dor que causo em outrem e pelo mal que eu acolha

 

Mas a positividade pode ser perigosa quando não nos deixa perceber

O lado negativo de alguém que não nos faz bem, um falso amigo

Ou quando, no convívio com quem nos agride, impede-nos de ver

Que tudo não ficará bem, pois se trata de um relacionamento abusivo

 

Ela pode ser danosa quando vivencio uma perda ou momento infeliz

E em vez de viver o luto ou rompimento, represo as lágrimas genuínas

Mostrando uma máscara de alegria, e do sorriso no rosto apenas o verniz

Para que depois essa dor contida se manifeste nas coisas mais pequeninas

 

Quando a pessoa deixa de olhar para a própria verdade, apenas atua

Em vez de reconhecer que está magoada, ferida, finge que está tudo bem

Exibe por fora um gesto estoico, e deixa de ver a sua sombra escura

Que precisa ser reconhecida e tratada, a fim de que o ser possa ir além

 

É importante perceber que a nossa mente não é somente o intelecto

Há em todos nós uma carga de emoções que ficam no inconsciente

Então não basta reprogramar o pensamento, é preciso estar aberto

Ao que se traz no coração, para identificar e entender o que se sente

 

Mudar a nossa forma de ver a vida e o mundo não é tão difícil assim

O mais difícil é mudar o que se sente, porque a gente nem sempre sabe

De onde vem tanta angústia, vazio, raiva ou aquela tristeza sem fim

O autoconhecimento, então, é o melhor caminho, uma porta que se abre

 

Nesse caminho, ser positivo é reconhecer que não sou sombra, mas luz

Perceber que tudo o que é negativo, imperfeito, dolorido, é temporário

E que à nossa frente está o infinito, o bem e a força que nos conduz

Que nos permite renascer a cada dia, e a cada dia, refazer o itinerário


quarta-feira, 4 de agosto de 2021

Autocuidado

Texto de: Alexandre Paredes 


Buscar ajuda não é sinal de fraqueza, nem de fracasso, nem de que “sou uma pessoa com problemas”. Buscar ajuda é reconhecer que precisamos armazenar para doar, reter para espraiar, iluminarmo-nos para iluminar; precisamos ter onde nos apoiar para poder socorrer quem está se afogando, pois ninguém ajuda uma pessoa que esteja nessa situação se estiver se afogando também.

 

Então se tratar não é sinônimo de ser um problema, buscar ajuda não é um fracasso, cuidar de si mesmo não é egoísmo. Muito pelo contrário, ter autocuidado é cuidar indiretamente daqueles que nos cercam, e a falta de autocuidado é, geralmente, acarretar problemas ou sobrecargas a quem está ao nosso lado. Um violino desafinado pode prejudicar toda uma orquestra.

 

A vida é um processo constante de dar e receber. Ninguém consegue só doar o tempo todo, dar frutos o tempo todo, ter excelência o tempo todo, estar bem o tempo todo. Nenhuma árvore dá frutos o ano inteiro, e o fruto leva tempo para chegar, pois precisa passar por um processo: A planta precisa germinar, crescer, florescer, para então dar frutos.

 

A natureza nos dá exemplos dessa troca permanente, desse dar e receber: As flores abrem-se para o mundo e doam seu pólen, suas cores vibrantes, seu perfume; as abelhas polinizam as flores; os animais alimentam-se dos vegetais e espalham suas sementes; estas, por sua vez, precisam da terra, da água e do Sol, para brotarem e fixarem raízes.

 

Assim, buscar os recursos da natureza, de profissionais terapeutas, buscar o auxílio de outras pessoas e instituições que estejam em condições de nos ajudar, para encontrar mais harmonia, mais autoconhecimento, maior consciência no viver, mais compreensão das nossas dores e os caminhos que podemos tomar para amenizá-las, é apenas obedecer a uma lei geral da natureza.

 


quarta-feira, 28 de julho de 2021

Pensamento e Vida

Poema de: Alexandre Paredes 










É sempre uma boa estratégia ver o lado bom de cada situação

Reconhecer que em cada dor há sempre algum aprendizado

Que, por trás de toda tristeza, há um processo de evolução

E que sempre podemos refazer o caminho que se fez errado

 

Importante perceber que o pensamento é um dínamo pulsante

Que vibra por todo o nosso ser e se irradia ao nosso derredor

Plasmando em nosso interior e à nossa volta, a cada instante

Tudo o que selecionamos, sintonizamos, de melhor ou de pior

 

Não se trata de crendice, superstição, nem de tolo misticismo

É uma lei da vida, que qualquer observador atento pode atestar

Nossas emoções e pensamentos ocultos se refletem no organismo

Na forma de saúde, doença, sinais da face, dores, tensão muscular

 

Assim acontece também em relação ao mundo que nos cerca

Tudo o que emitimos reverbera em tudo e retorna para nós no final

Estamos mergulhados num oceano de ondas onde cada um desperta

Cercado daquilo que emitiu para si ou para o outro, de bom ou mau

 

Em pesquisas realizadas pela respeitada Universidade de Yale

Observou-se que a meditação feita com frequência por um grupo

Afetou não somente a vida dessas pessoas, mas de todo o seu meio

Reduzindo a violência e os crimes na localidade, conforme o estudo

 

Ou seja, o que acontece dentro de mim, dentro da minha cabeça

Influencia o comportamento de muitos sem que eles se deem conta

Se em cada gesto, palavra, pensamento, eu sou uma chama acesa

Ilumino primeiro a mim e depois a todos os que a luz encontra

 

Se a paz da nossa mente é capaz de pacificar outras mentes afora

A paz primeiro inunda a própria vida daquele que busca se pacificar

Mas imagine o que acontece com quem reclama, procura desforra

Com quem se ira, cultiva o ressentimento e envenena o olhar!

 

Somos todos, assim, os artífices da nossa própria realidade

Construímos, incessantemente, a cada hora e a cada segundo

Nossas aflições e venturas, nossos limites e nossa identidade

A partir de como pensamos e percebemos a vida lá no fundo

 

Porque é no pensamento que nascem as belas obras de cada dia

Bem como dele partem as guerras, os homicídios e a destruição

Por isso Jesus adverte no Evangelho, dizendo: “ora e vigia”

Para que não cedamos e não sejamos vítimas da tentação


quarta-feira, 7 de julho de 2021

Bem Aventurados os Brandos e Pacíficos

Poema de: Alexandre Paredes



 








Bem aventurados os brandos porque herdarão a Terra

Porque este mundo é como uma grande e verdadeira escola

E aqueles que não aprenderem a lição que nela se encerra,

Os que não conquistarem a mansidão, terão de ir embora

 

Serão encaminhados para outros orbes educandários

Onde passarão por novas provas, em novas reencarnações

Ainda em mundos pela civilização menos iluminados

Para que possam corrigir a senda sob o toque dos aguilhões

 

Somente serão autorizados a viver e a renascer aqui

Naquele Reino por Jesus prometido em sua Boa Nova

Aquelas almas que já semearam, cultivaram dentro de si

A brandura que espalha a paz por esse mundo afora

 

Bem aventurados os pacíficos, os que vivem a paz

Porque serão eles chamados filhos de Deus

E um mundo que se queira pacífico somente se faz

Quando as armas e as guerras se tornem peças de museus

 

Somente há paz no mundo quando há paz no coração

Quando cessa em nós o ímpeto de vencer o outro

Porque o inimigo de nós mesmos não está senão

Dentro de nós, onde está também nosso maior tesouro

 

A maior alegria do espírito é a conquista de si mesmo

É poder deitar com a cabeça tranquila ao travesseiro

Porque é preferível ser prejudicado a ser quem prejudica

E a violência é sempre um pior mal para quem a pratica

 

Pois a Lei de Deus se encarrega de devolver a quem violentou

A colheita do sofrimento que ele um dia no outro semeou

Esse código divino foi pelo Cristo nessas palavras resumido

Dizendo a Pedro: “Quem com ferro ferir, com ferro será ferido”

 

Mas Jesus disse também “Perdoai para que Deus vos perdoe”

Ou seja, a criatura que praticou o mal tem sempre uma opção

De continuar na senda do mal e permanecer do jeito que foi

Ou se libertar do passado, curar a ferida, abrir-se ao perdão

 

Ser pacífico não é ser passivo, é ser ativo, mas paciente

Cruzar os braços não é paciência, mas apenas preguiça

Retribuir com o bem o mal que se faz não é ser indiferente

Mas é contribuir para que no mundo haja menos injustiça

 

Devolver o insulto com outro insulto apenas revela

Que aquele que se sentiu ofendido ao ofensor dá razão

Porque quando a ofensa é falsa, o ofendido não vê nela

Motivos para abandonar a própria paz que traz no coração

 

Quando uma pessoa nos agride, é porque ela quer briga

O que ela fala de nós diz muito mais sobre ela mesma

E quando a gente se ofende, morde a isca, cai na intriga

Procura se autoafirmar e precisa que todo mundo veja

 

Quem vive em paz consigo mesmo não precisa de plateia

Não busca senão a aprovação da própria consciência

E quem pacificou a própria alma às vezes nem faz ideia

Que está mudando o mundo apenas com a sua existência

 


segunda-feira, 14 de junho de 2021

Vida Além

 Letra e Música: Alexandre Paredes


Este é um videoclipe da minha música VIDA ALÉM, que está no YouTube.


A música estará disponível nas plataformas digitais a partir de 6 de julho de 2021.


O vídeo foi gravado entre abril e maio de 2021, em Brasília, no Parque da Cidade e no Parque Península.


Meu agradecimento especial a: Sílvio Sodré, Cinthia Castro, João Mendonça, Raul Marques e Rodrigo Silva.

terça-feira, 8 de junho de 2021

Amor Acima de Tudo

Texto de: Alexandre Paredes 


O egoísmo ergue muros.

O amor constrói pontes.

 

O orgulho compara-nos ao outro.

O amor coloca-nos no lugar do outro.

 

A justiça pune e repara.

O amor resgata e redime.

 

A ética movimenta-se na direção do bem.

O amor é o bem em movimento.

 

A moral cria leis e códigos de conduta.

O amor dispensa-os.

 

A Filosofia busca o sentido.

O amor é o próprio sentido da vida e de tudo.

 

A sabedoria sabe, descobre, ensina.

O amor sente, vive e ensina a amar.