terça-feira, 26 de julho de 2022

Luz

Poema de: Alexandre Paredes


Quando a luz aumenta em nosso ambiente

O cristal reluz, o branco parece mais branco

A mancha no tapete torna-se mais aparente

E se revela aquela sujeira encostada no canto

 

Quando a luz se faz mais viva em nossa vida

A verdade se impõe e se desvanece a ilusão

Nossa dor moral não pode mais ser escondida

E não se pode mais calar a voz do coração

 

Quando o Sol amanhece em nossa caminhada

Mais nítidas ficam as cores e a nossa sombra

A gente vê com clareza os perigos da estrada

E o ponto do caminho onde a gente se encontra

 

Luz não move montanhas nem derruba muros

Mas nos faz ver o que é preciso fazer, como agir

E ao iluminar agora os caminhos antes escuros

Permite-nos melhor escolher a trilha a seguir

 

Luz não é causa de tristeza, nem de alegria

Tão somente retira o véu de nosso interior

Mostra o que há por trás de nossa fantasia

Que nos afasta da Unidade e do puro amor

 

Quando acendemos a luz que existe dentro

Não precisamos mais usar nenhum disfarce

Pois vendo-nos como somos, cem por cento

O que é real erige-se e o que é mito desfaz-se

 

Luz no intelecto é olhar para si e para a vida

Em toda sua totalidade, em toda a sua beleza

É ver os obstáculos que entravam a nossa lida

E redescobrir onde está nossa maior riqueza

 

Luz no coração é sentir em si e na realidade

Além da névoa escura de orgulho e egoísmo

A fonte inesgotável de amor e de bondade

Que banha o jardim e o fundo do abismo

 

Luz na alma é encontrarmos nossa essência

A que existe além do mundo da aparência

Que traz em si a semente, a força motriz

Da nossa capacidade de se doar e ser feliz

 


terça-feira, 28 de junho de 2022

Comparações

Artigo de: Alexandre Paredes 

Comparações fazem parte do nosso quotidiano, especialmente num mundo tão competitivo como o nosso, em que, muitas vezes, o valor das pessoas é mensurado com base em atribuição de notas acadêmicas, pontuações curriculares, número de seguidores nas redes sociais, na quantidade de livros vendidos, de visualizações do conteúdo publicado na web, no valor do contracheque ou no tamanho do patrimônio. Mas é justamente essa cultura de comparação que nos leva a não evoluirmos como pessoas, nem ajuda muito a tornar melhor a nossa sociedade.

 

A inteligência, por exemplo, é uma capacidade do sujeito de aprender, de compreender, de absorver e sintetizar ou produzir o conhecimento, de resolver problemas novos. Mas são muitas as formas de inteligência. A inteligência de um Albert Einstein é muito diferente da de um Pelé ou da inteligência de um Ludwig Van Bethoven.  Ainda que Pelé não conseguisse compor uma Nona Sinfonia, talvez Bethoven não teria sido tão bom com a bola nos pés. E mesmo que Einstein tenha sido tão brilhante em decifrar os enigmas da Física, talvez ele não tivesse uma habilidade tão grande para escrever um poema ou para criar uma coreografia.

 

Falta de inteligência seria uma limitação dessa capacidade. Mas há muitas pessoas inteligentes em algumas áreas que apresentam uma desinteligência em outras. É o exemplo de pessoas com grande inteligência para resolverem problemas matemáticos ou lógicos, mas com grande dificuldade para lidar com as próprias emoções.

 

O mesmo se pode falar sobre conhecimento e ignorância. Todos sabemos muitas coisas e ignoramos outras. Há quem conheça as leis que regem o Universo, as partículas subatômicas, que saiba como ocorrem o nascimento e a morte das estrelas, mas ignore como se pesca um peixe. Não há nenhum problema nem ofensa em ser ignorante em alguma coisa. O problema está em não reconhecer a própria ignorância.

 

Não deveríamos nos sentir ofendidos por nos considerarem ignorantes, porque o que sabemos é sempre um saber limitado, um saber relacionado à nossa experiência de vida, acadêmica ou restrita ao que lemos ou estudamos. Todos conhecemos algumas ou muitas coisas e desconhecemos muito mais.

 

Então, comparações são sempre deficientes e inoportunas, porque toda a avaliação do que somos dependeria de uma referência externa. Somos limitados? Inteligentes? Sábios? Ignorantes? Mas qual a referência? Sempre haverá alguém mais inteligente ou menos inteligente do que nós; sempre haverá alguém mais sábio ou menos sábio do que nós; mais belo ou mais feio, e assim por diante.

 

Se um grande músico erudito apresentasse sua mais bela composição diante de uma plateia de metaleiros, sua música seria considerada entediante ou um sonífero. Seria motivo de hostilidades e de ridicularização. E se uma grande banda de Heavy Metal tocasse diante de intelectuais eruditos, essa plateia provavelmente abandonaria o local. Que música é a melhor e qual a pior? Não podemos dar essa resposta, porque o referencial estético é subjetivo.

 

A maioria de nós, ao comparar uma bela flor a uma aranha, talvez diga que a flor seria bela, e a aranha, feia. Mas por que motivos teríamos elegido esse animal, que tece uma teia de forma tão espetacular e se movimenta com tanta agilidade, como modelo de algo repugnante? Talvez porque nossa mente associe o belo a algo que nos seja agradável e o feio a algo que nos pareça ameaçador. De qualquer modo, tanto a flor quanto a aranha são dotadas de uma beleza única, incomparável.

 

Ainda que comparemos uma flor com outra flor, ou uma flor com outra da mesma espécie, elas nunca serão iguais, ou seja, são de uma beleza única. Essa questão nos leva a entender que as comparações que fazemos não são úteis, nem são legítimas. A única comparação que nos é legítima é aquela que fazemos de nós para com nós mesmos, quando comparamos o que somos com o que fomos, quando comparo o meu “eu” de hoje com o de ontem, ou quando comparo o que sou com o que eu almejo ser.

 

Quando nos comparamos a alguém, geralmente caímos na armadilha de nos acharmos muito bons em algo, porque isso, de algum modo, excita o nosso ego, traz-nos alguma compensação. O ego se sente confortável em saber que sou melhor do que alguém em algo, mas essa postura apenas cria uma ilusão, pois me faz permanecer de olhos fechados a todas as demais características nas quais aquela pessoa está à minha frente. Essa comparação me faz permanecer acomodado na minha zona de conforto, enquanto a comparação comigo mesmo me faria buscar ser melhor do que já fui, e não melhor do que ninguém.

 

Outra situação destrutiva em nossas vidas é, ao me comparar às demais pessoas, constatar o quanto elas são melhores do que eu, mais belas, mais bem sucedidas, inteligentes e assim por diante. Esse olhar permanente para o outro nos desloca de nós mesmos e esvazia nossa vida, na medida em que nos ausentamos de nós mesmos, de nossa realidade, não nos permitindo valorizar nem vivenciar plenamente as coisas boas que temos ou conquistamos.

 

É uma outra forma de ilusão, pois o que o outro me mostra ou que mostra para o mundo é apenas uma fração de sua vida. Cada ser humano é como nossa Lua, que só mostra uma face para o mundo, mantendo uma face oculta, muitas vezes de dores, conflitos, injunções. Desconhecemos suas lutas íntimas, suas aflições, os sacrifícios que passou para chegar aonde chegou. E como só vemos o lado bom e glamouroso do outro, tendemos a achar nossa vida menos significativa e passamos a alimentar um sentimento de menos valia, que é uma distorção da realidade.

 

Em as Viagens de Gulliver, esse clássico literário de Jonatham Swift, o personagem dessa história encontra um lugar de pessoas pequenas e depois descobre uma terra de gigantes. Na terra de gigantes, ele se sentia um ser minúsculo, enquanto na terra de pequeninos, ele se sentia um gigante. É uma bela metáfora do que nos ocorre quando nos comparamos. Quando o referencial são os outros, temos a tendência a fazer um julgamento distorcido de nós mesmos, porque nos avaliamos com base naqueles que estão ao nosso redor.

 

Por mais virtudes ou qualidades que tenhamos, essa percepção sempre está calcada na referência que temos de pessoas ao nosso redor. Se estamos rodeados de pessoas que têm de sobra essas qualidades, tendemos a nos sentirmos diminuídos, e se estamos rodeados por pessoas com deficiência dessas qualidades, acabamos por nos sentirmos soberbos ou melhores do que os outros. Mas, em essência, não mudamos em nada o que somos; permanecemos sendo as mesmas pessoas. O que mudou foram tão somente os referenciais externos.

 

Quando alguém nos ofende, insultando-nos com adjetivos pejorativos a respeito de nossas capacidades, limitações, características morais ou físicas, geralmente sentimo-nos ofendidos ou diminuídos porque nos fixamos em comparações. Se aprendermos a reconhecer o que temos de bom e único dentro de nós e focamos em desenvolvermos as coisas boas que temos, não sofreríamos por não sermos o que não somos, nem nos ofenderíamos com comparações.

 

Imagine se o grande jogador de futebol Romário se sentisse ofendido porque tivesse sido chamado de péssimo goleiro, zagueiro ou nadador. Ele tinha uma habilidade única diante do gol do adversário, mas provavelmente não teria sido um bom zagueiro, porque não era uma característica sua ser um grande marcador. Isso não diminuiria em nada suas virtudes como jogador de futebol, pois ele tinha mais vocação para ser goleador, e não defensor.

 

Acredito que todas as pessoas têm algo dentro de si único, um potencial latente que a torna especial. Quando nos ocupamos demais em nos comparar com as demais pessoas, caímos no erro de querermos ser como elas e deixamos de fazer brilhar aquilo de especial que há em nós.

 

Talvez o pintor Pablo Picasso tivesse sido considerado um pintor medíocre caso houvesse buscado ser como os demais pintores e pintar conforme o padrão artístico vigente em sua época. O que seria das artes plásticas, por exemplo, sem a excentricidade de um Van Gogh? Se ele tivesse dedicado sua vida a produzir uma arte “normal”, o mundo só teria a perder.

 

Seguindo esse mesmo raciocínio, talvez não teríamos o brilho da cantora Shakira no mundo Pop caso ela tivesse ficado paralisada pelas críticas que pessoas fizeram à sua voz quando ela começou a cantar, porque, comparavam-na com as demais cantoras e diziam que sua voz parecia com a de um “bode”.

 

Todos temos arestas a aparar, imperfeições a corrigir, deficiências a consertar, porém, em muitas ocasiões, aquilo que parece ser nosso maior defeito pode ser, na realidade, uma virtude, dependendo da perspectiva. E ninguém consegue transformar a si mesmo desvalorizando a si próprio, rejeitando o que se é em nome do que se quer ser; ninguém se torna uma pessoa melhor sem amar a si mesmo com tudo o que é, com tudo o que tem, suas luzes e suas sombras, suas flores e seus espinhos.

 

É necessário, antes de tudo, olhar para si mesmo com amor, porque cada um de nós é um ser único; cada um de nós é uma centelha; cada um traz em si uma semente, que guarda o potencial de uma árvore imensa ou de uma delicada planta com belas flores, ou possuímos várias sementes, de dons, de habilidades, de capacidades únicas e incríveis, que esperam ser descobertas, amadurecidas, desenvolvidas, aguardando de nós o comando do “brilhe vossa luz”. E essa luz não será acionada enquanto permanecermos nos comparando às demais pessoas.

 


quarta-feira, 25 de maio de 2022

Nossa Natureza

Letra e Música: Alexandre Paredes

 


Terra, a nossa casa, está despida

E aquecida pela frieza do coração

Terra, a sua água está poluída

E esquecida pela cegueira da ambição


Vem, me dá tua mão

Vamos mudar

A direção do nosso lar


Quero um lugar de um céu azul

E escutar a ave cantadeira

Quero acordar num véu de luz

E respirar o ar da cachoeira


Vem, vamos mudar a direção

Tomar consciência

Resgatar nossa essência

Fazer parte da solução


Quero acordar o mundo azul

E escutar a voz da natureza


Quero a paz, o bem comum

E resgatar a nossa natureza


Quero acordar, quero lutar

Por um mundo verde

Ver-te eu quero despertar


Vamos mudar, acreditar

Que ser melhor é da nossa natureza

terça-feira, 3 de maio de 2022

Preconceito

Artigo de: Alexandre Paredes 








Como o próprio nome indica, preconceito quer dizer um conceito previamente formado, ou seja, pré-estabelecido mesmo antes de se conhecer aquilo que se apresente para nós ou o que acreditamos conceituar ou conceber. Geralmente, está associado a uma percepção negativa prévia sobre algo ou alguém, que faz com que a pessoa o rejeite antes que possa conhecê-lo de forma mais aprofundada.

 

O preconceito pode ser sobre qualquer coisa: um estilo musical; a aparência exterior de uma pessoa ou de um objeto, que nos leva a julgá-lo mesmo sem conhecê-lo; um produto à venda por determinada marca, que é avaliado, por exemplo, segundo algo que ouvimos falar; pode ser sobre uma determinada cultura, religião ou povo; uma ideologia política; um alimento, que, pela sua aparência ou cheiro, julgamos previamente seu sabor; além das clássicas e mais danosas formas de preconceito, baseadas na cor da pele de uma pessoa, na sua orientação sexual ou seu gênero.

 

Ninguém está a salvo de ser preconceituoso, porque, de modo geral, todos temos crenças, visões de mundo, experiências ou percepções cristalizadas. E quanto mais avançamos na idade, mais difícil se torna reformular conceitos e demolir preconceitos cristalizados, que são como verdades dentro de nós que não ousamos contestar, questionar, porque são, de algum modo, convenientes ou cômodas.

 

Ideias preconcebidas ou preconceituosas não costumam ter uma base racional, simplesmente porque, para se formar um conceito ou estabelecer qualquer julgamento sobre algo ou alguém, são necessários, primeiramente, o conhecimento, a observação e a formulação de argumentos que darão sustentação àquelas ideias.

 

Se tivéssemos o hábito de questionar a nós mesmos, diariamente, sobre o porquê de acreditarmos no que acreditamos, quais os fundamentos racionais que sustentam nossas verdades, nossas crenças, iríamos nos surpreender.

 

Porém, o que ocorre é que a nossa mente prega peças. Não raro, elaboramos sofisticados sistemas de crenças, aparentemente racionais, para justificar nossas paixões, vícios, condutas não muito corretas ou coerentes, e torná-las moralmente aceitáveis aos nossos próprios olhos e aos olhos da sociedade, fazendo com que nos sintamos mais confortáveis em permanecer alimentando as paixões ou vícios aos quais nos entregamos.

 

Assim, os nossos sistemas de crenças, que parecem tão lógicos e racionais, geralmente são subvertidos pelas nossas paixões, nossos fracassos, traumas, medos, experiências psicológicas não bem digeridas e coisas que nos ensinaram quando éramos crianças. É como um iceberg: nossos sistemas racionais estão, na verdade, apoiados em uma montanha que fica submersa, e que é bem maior que a parte emersa. Essa parte de nós escondida, em grande medida influencia ou comanda nossos raciocínios.

 

O preconceito, então, tem origem muito mais em aspectos psicológicos e emocionais do que em bases racionais. Por isso que é tão difícil mudar sistemas de crenças e preconceitos, porque eles estão apoiados em questões subjetivas do ser humano. Podemos citar o exemplo do preconceito de raça. Não há uma base lógica para sustentar que uma determinada raça seja superior a outra.

 

Em primeiro lugar, porque do ponto de vista genético, não existem propriamente “raças”. Uma pessoa de aparência caucasiana, seja ela de qualquer lugar do mundo, terá genes de diversas etnias. Pessoas de diversos locais do planeta, quando submetidas a um mapeamento genético, descobrem, invariavelmente, que são o resultado do cruzamento de diversas “raças”, ou seja, possuem ancestrais de diversas etnias, mesmo aqueles que se consideram raças “puras”.

 

Desse modo, aquilo que consideramos “raças” são apenas aparências exteriores, que geralmente não condizem com a realidade genética de cada ser humano. Uma pessoa nascida na Europa, por exemplo, será invariavelmente descendente de várias etnias que se entrecruzaram durante séculos no continente, como os Mouros, os Visigodos, os Ostrogodos, Anglos, Saxões, Celtas, Gauleses, Vândalos e daí por diante.

 

Em segundo lugar, porque os argumentos utilizados para validar a tese de que determinadas raças ou determinados povos seriam superiores a outros parece desprezar o aspecto histórico e cultural. Os povos europeus, de modo geral, alimentaram, durante muito tempo, a ideia de superioridade em relação a outros povos, mas essa pretensa superioridade somente se deu pela ação da força militar, da violência, da subjugação. Os povos vencidos nas guerras eram escravizados e, naturalmente, não puderam se desenvolver tanto quanto os povos vencedores.

 

Os romanos venceram os gregos no século III antes de Cristo, de modo que se tornaram escravos na sociedade romana, mas isto não significa que os gregos eram ou sejam inferiores. Basta lembrarmos das conquistas de Alexandre, o Grande, da Macedônia, que expandiu a cultura grega por grande parte da Europa, Ásia Menor e África. Por razões históricas, em um dado momento, os gregos foram sobrepujados pelos romanos, pela força, mas sua cultura permaneceu influenciando o mundo romano, assim como nos influencia até hoje. O mesmo se deu com o povo hebreu, que foi subjugado pelos romanos, e até hoje estudamos a Bíblia, que é um dos seus legados.

 

Roma poderia ter diversas virtudes, como o impulso civilizatório, os avanços na engenharia e as ideias de justiça, porém trazia também características execráveis, como a violência e a escravização de seres humanos, que foi uma das mais perversas da história da humanidade.

 

Então, se os povos indígenas e africanos foram sobrepujados pela força, isto não indica inferioridade desses povos em relação aos europeus. O que ocorreu foi a dominação de um povo sobre outro por meio da violência, seja ela explícita, como a imposição pelas armas, seja ela um pouco mais velada, que é a imposição cultural. E a violência, por mais que seja generalizada no mundo, deve ser vista como uma característica negativa de um povo, e não como uma boa qualidade. Ocorre que a história que estudamos foi contada pelos vencedores, ou seja, pelos mais violentos ou aqueles que conseguiram superioridade tecnológica-militar para vencer e escravizar outros povos.

 

Mas tanto a cultura indígena quanto a africana influenciam-nos até hoje. Sem a contribuição indígena, não conheceríamos, por exemplo, as riquezas da nossa flora para uso medicinal ou para alimentação. O hábito de tomar banho diariamente é também um legado dos povos indígenas brasileiros. Ainda hoje, temos muito a aprender com os indígenas sobre sua relação com a natureza, uma vez que nossa cultura ocidental tem ocasionado a destruição do planeta.

 

Sem a contribuição africana, provavelmente não teria nascido o Rock, certamente o Pop não teria surgido como o conhecemos, não teríamos conhecido o Hip Hop, o Street Dance nem o Break Dance. Sem o legado dos afro-americanos no Brasil, certamente não teríamos conhecido o Samba e nossa cultura seria infinitamente mais pobre e menos alegre; teríamos, também, muito menos riqueza na área da espiritualidade.

 

Diante dessas questões, por que, então, existe o racismo? Basicamente, o racismo é ensinado, passado de pai para filho por meio da educação, ou deseducação neste caso. Mas ele nasce, e se fixa, principalmente da necessidade do ser humano de se sentir superior a outro ser humano, ou seja, nasce da exaltação do ego, do orgulho em suma.

 

Para se sentir melhor que as demais pessoas, criam-se ideias de que minha cidade é melhor do que a sua, meu país é melhor do que o do outro, a raça ou cor de pele a que pertenço é melhor do que a do outro, assim como o time de futebol que elegi para torcer é melhor do que o seu.

 

Trata-se do mesmo mecanismo que nos faz pensar que eu sou melhor que alguém porque tenho um carro sofisticado ou porque uso uma roupa de marca, ou porque tenho uma bela casa, que sou melhor do que os outros porque pertenço a uma classe social superior. Se participo de classe social inferior, eu ressalto que não sou como essas pessoas de nariz empinado, ou seja, que supero esses que se sentem superiores a mim devido à minha “humildade”. Na verdade, esse tipo de humildade é só mais uma forma de orgulho camuflado.

 

Não há nada de prévio que possa determinar que uma pessoa seja melhor do que a outra. Sua cor de pele, seu status, a roupa que veste, seu sotaque, sua religião, sua ideologia política, seu grau de escolaridade, seu país, sua cidade de nascimento, seu vocabulário, nada disso torna uma pessoa, a priori, melhor do que ninguém. São as nossas atitudes que nos definem, independentemente da embalagem por meio da qual nós nos apresentemos.

 

    O preconceito de raça nasce, também, da falsa percepção de que o outro pode ser uma ameaça para mim. Se é diferente de mim, se vem de fora, é alguém que não faz parte da “minha” comunidade. Esse tipo de preconceito é facilmente ilustrado pela xenofobia, a aversão ao estrangeiro, que é visto como alguém ou um grupo que pode tirar nossos empregos, subverter nossos valores, tornar nossa sociedade pior ou deturpar nossa identidade.

 

Quando ocorrem ataques terroristas, por exemplo, essa xenofobia se torna mais clara e evidente. Se nosso país é atacado por pessoas que se dizem islâmicas, passamos a alimentar o preconceito contra pessoas que usam burca ou leem o Alcorão, ainda que essas pessoas nada tenham a ver com o terrorismo e ainda que a religião islâmica não endosse atitudes violentas.

 

Às vezes, esse sentimento de ameaça vem de dentro. Nos Estados Unidos, após a Guerra da Secessão e abolição da escravidão, algumas comunidades de afro-americanos daquele país começaram a prosperar, a ter algum poder aquisitivo e se tornaram uma população numerosa. Essa população começou a reivindicar os mesmos direitos dos demais cidadãos. Assim, aquela parcela da população que ainda alimentava ideias escravocratas, sentindo-se ameaçada, patrocinou chacinas a afrodescendentes e criou leis discriminatórias e de segregação racial, que somente ao custo de muitas lutas, perseguições e vidas perdidas, foram sendo derrubadas ao longo de várias décadas.

 

No Brasil, não houve uma guerra da secessão, não houve, exatamente, uma segregação de maneira formal, mas eles foram segregados de forma cultural. A discriminação e o preconceito foram naturalizados. Os próprios brasileiros acreditavam que não havia preconceito racial no Brasil, afinal não se jogam cascas de bananas nos estádios e Pelé foi e ainda é o maior ídolo do país.

 

Sempre se acreditou na fantasia de que os negros e os mestiços sempre foram bem tratados no Brasil, assim como na fantasia de que, na época da escravidão, os escravos viviam bem, servindo aos seus senhores, que eram humanos e gentis. Essa realidade mudou quando pessoas com cor de pele escura passaram a conseguir, com muito custo e muita luta, ascender socialmente.

 

Enquanto o negro permanecer na senzala ou, traduzindo para os dias atuais, nos empregos de menor expressão social ou de subserviência, os preconceituosos não se sentem ameaçados e permanecem silenciosos, dando a sensação de que eles nunca existiram por estas bandas. Entretanto, basta que os afrodescendentes conquistem postos na sociedade e empoderem-se, para que os racistas se sintam ameaçados, saiam de sua situação de conforto, e apareçam para atacar e mostrar suas garras.

 

Pessoas racistas têm problemas com sua própria autoestima. Podem até parecer que são bem resolvidas consigo mesmas, com sua aparência, com sua vida, com seu emprego, mas têm necessidade de ficarem se autoafirmando, precisam dizer ou mostrar para o mundo que têm bens, que são bem-sucedidas, que são superiores, que são melhores do que outros, que têm um belo corpo ou que são muito inteligentes. Quando não têm nada disso, maior é o motivo de se autoafirmarem por meio da falsa ideia de que sua cor de pele é superior à cor da pele do outro. É um mecanismo de compensação. Sempre que precisamos mostrar, de forma exagerada, algo para o mundo, repetir, é porque não nos sentimos seguros se somos tão bons mesmo quanto a propaganda que fazemos de nós mesmos.

 

Isto explica a atitude de uma pessoa que humilha outra em público por conta de sua cor de pele. É uma necessidade de autoafirmação. No fundo, ela precisa humilhar a outra pessoa, ressaltando aquilo que ela crê ser um motivo de inferioridade – no caso, a cor da pele – porque tem necessidade de se sentir superior, e só tem necessidade de se sentir superior quem se sente inferiorizado por algum motivo, ou quem tem dúvidas quanto às próprias virtudes, qualidades, quanto à própria capacidade de ser atraente, interessante, somente por conta de suas características morais ou físicas.

 

            Às vezes, ocorre também quando a pessoa tem uma bela aparência ou status, e até sabe disso, e fixa-se de forma obsessiva nessas questões exteriores porque se sente insegura quanto às próprias qualidades morais ou intelectuais. Então ataca aqueles que, segundo crê, sejam menos belos ou sejam de classe social inferior, por meio do desprezo, da ironia, do deboche, que nada mais são do que declarações, em alto e bom som, de que tal pessoa só tem isso a que se agarrar, porque crê que lhes faltam as qualidades interiores.

 

Ocorre que o preconceituoso geralmente não se percebe como tal. Ele acredita que suas ideias preconcebidas são uma verdade. Como a verdade do preconceituoso não tem base racional, ela se parece com um dogma religioso, que é uma verdade imposta por uma autoridade, verdade à qual a pessoa se entrega porque lhe traz algum conforto. No caso do racismo, a pessoa está tão identificada com aquela ideia, que sequer pensa na possibilidade de revisá-la, porque ela precisa continuar acreditando no que acredita, por razões emocionais.

 

Em vez de ouvir o contraditório, percebendo o erro em que permanece voluntariamente, o racista procura pessoas como ele, preconceituosas, para reforçar as crenças que nutre, porque lhes trazem algum tipo de compensação; fazem-no crer em sua pretensa superioridade, e rever essa crença seria colocá-lo nu diante de si mesmo. Deparar-se com a verdade do que é, sem ilusões, pode ser algo desagradável, apesar de libertador.

 

Pode ser que seu preconceito tenha nascido daquilo que seus pais ensinaram, que, por sua vez, foi ensinado pelos pais deles. E de algum modo, existe um vínculo emocional entre o preconceituoso e aqueles que lhe ensinaram o preconceito. Repetir aquilo que os pais diziam pode ser algo que, para ele, de algum modo, honre a memória dos seus pais ou educadores. Discordar seria um ato de rebeldia, mas até atos de rebeldia partem de um princípio. Não raro, os filhos que se rebelam contra os pais, contra seus exemplos e ensinamentos, acabam, inconscientemente, repetindo os mesmos erros que os pais cometiam, porque, acima de tudo, os pais são uma referência, são o exemplo, e nós tendemos a seguir muito mais os exemplos do que as palavras.

 

Parece que vivemos um tempo sem precedentes na luta contra o preconceito. Hoje, cenas de injúria racial são filmadas e os responsáveis são criminalizados em alguns casos, com muita luta da sociedade, enquanto, no passado, o racismo não era sequer percebido pelas pessoas, porque as piadas de mau gosto pareciam apenas piadas inocentes, embora não o fossem.

 

Vivemos numa época em que ainda se ofendem minorias, avilta-se a dignidade de alguns grupos, e ainda se praticam violências com base no preconceito, sob as vistas grossas do poder policial ou sob a chancela do poder público, mas essa realidade não está mais sendo tolerada pelo homem do século XXI. E quanto mais os aviltados pelo preconceito se levantam, mais barulho fazem os preconceituosos e racistas, que, antes, se sentiam confortáveis com a discriminação, e agora não podem mais tripudiar o próximo e continuarem saindo ilesos.

 

Esse levante e aparente tolerância zero contra o preconceito, louváveis e necessários, tem gerado um movimento cultural que nem sempre atinge o fim visado. O que se percebe, em grande parte das ocasiões, é uma mudança na linguagem, que se torna mais polida, porém não é capaz de mudar o preconceito que está no coração das pessoas. Se é certo que as palavras mais adequadas podem conduzir as pessoas a ideias mais precisas, mais corretas, mesmo assim parece que o preconceito resiste.

 

Podemos usar como exemplo os termos afro-americanos ou afrodescendentes em substituição a termos pejorativos para designar esse grupo, como negros ou pretos. De fato, a substituição das palavras é adequada, porque ninguém deveria ser definido pela sua cor de pele. Por outro lado, palavras diferentes usadas pela boca de pessoas preconceituosas não mudarão o seu preconceito, assim como não farão com que esses grupos que sofrem o preconceito deixem de se sentir, de algum modo, humilhados, por aquela parcela da sociedade preconceituosa e que teima em se sentir melhor do que os outros. Ou seja, mudam-se os nomes, os termos, e o preconceito acompanha os novos termos. Os novos termos se desgastam e é preciso criar novos termos.

 

É muito comum, por exemplo, pessoas que solicitam benefício para invalidez perante a Previdência Pública sentirem-se ofendidas porque elas não são, de fato, “inválidas” no sentido de que não tenham valor. Então o termo é ofensivo. Ocorre que esse é ainda o termo que vige na legislação brasileira. Mas não deixa de ser um estigma ser aposentado por “invalidez” (para o trabalho), porque esse termo afeta a dignidade humana.

 

Porém, altere-se o termo para um outro mais adequado e as pessoas que se sentem inferiorizadas por terem essa condição continuarão a se sentirem inferiorizadas enquanto a sociedade tratá-las como inferiores, não lhes dando oportunidades. É muito triste, por exemplo, ter um filho amado que tenha alguma condição incapacitante e seja taxado de inválido pela sociedade.

 

Há algum tempo, as empregadas domésticas sentiam-se estigmatizadas por serem chamadas de “empregadas”, porque o termo remetia à ideia de uma pessoa que tinha um emprego visto pela sociedade como de menor relevância ou menos digno. Ocorre que o termo empregada ou empregado é adequado, e todo emprego é digno. Podemos ser empregados de uma empresa, assim como podemos ser empregados de um patrão só ou uma patroa.

 

Então, muda-se o termo para “doméstica”, “ajudante” ou “secretária do lar”, para não diminuir a dignidade da pessoa. Mas não é o termo que diminui ninguém; é o preconceito que existe na sociedade e na própria pessoa que se sente estigmatizada. Mudam-se os nomes e o preconceito continua, porque o orgulho daqueles que se sentem superiores permanece, ou, muitas vezes, permanece o orgulho ferido de quem se sente inferiorizado com sua condição social.

 

Se é difícil mudar o preconceito do preconceituoso, não menos árdua é curar as feridas de quem foi ou é vítima do preconceito. Quando uma pessoa foi ferida ou aviltada na sua dignidade, oprimida pelo preconceito durante toda a sua vida, é comum tornar-se um militante da causa antirracista, porque ela sentiu e sente na pele a violência moral e psicológica que é ser vítima de tratamento diferenciado, opressivo, discriminatório gerado pelo preconceito, que se manifesta quase sempre de forma velada, disfarçada.

 

A causa antirracista e antipreconceito é sempre muito digna e muito justa, mas às vezes a militância esbarra em algumas dificuldades. Comumente, a pessoa ferida pelo preconceito pode ter uma visão distorcida dos fatos e dos acontecimentos que a ferem. Uma pessoa com um nervo exposto tende a sentir dor mesmo quando esbarre em algum objeto inerte e inofensivo. Alguém que tenha sofrido preconceito durante toda a sua vida ou, pelo menos, na fase de infância e adolescência, tende a enxergar no tratamento ríspido ou menos respeitoso do outro sempre um ato de preconceito, ainda quando não o seja de fato.

 

Neste caso, muitas vezes, a pessoa vítima da situação desrespeitosa coloca-se como vítima do preconceito racial mesmo quando não seja o caso, situação que acaba por ocasionar um desserviço à causa que defende.

 

A militância antirracista, para fazer frente à parcela da população que é racista, preconceituosa e discriminatória, acaba por reforçar, justamente, aquilo que pretende combater, que é o pré-julgamento de qualquer pessoa em razão de sua cor da pele. Para corrigir as injustiças históricas contra a população de afro-americanos, é comum, por parte de alguns, por exemplo, a reinvindicação de ações políticas que, de algum modo, favoreçam pessoas com determinada cor de pele em detrimento de outras.

 

Essa questão é bastante complexa e delicada. Se aqueles que são vítimas do preconceito não ocupam um lugar de fala na sociedade e não reforçam o orgulho que têm por serem como são, por pertencerem ao grupo a que pertencem, e se não denunciam a violência, se não a expõem e não a retiram da condição de violência velada para colocá-la à luz do dia, quem o fará?

 

Por outro lado, a militância pode incorrer no erro, especialmente quando se trata de uma pessoa emocionalmente ferida, de tratar com preconceito pessoas que, por questões de nascimento, tenham o aspecto exterior aparentemente privilegiado. Se é certo que pessoas de cor de pele clara e olhos claros não são vítimas do preconceito de raça, avaliá-las como pessoas privilegiadas é uma forma de julgamento pré-concebido – ou seja, uma forma de preconceito – pois desconhecemos as dificuldades e sofrimentos pelos quais essa pessoa passou durante toda a sua vida.

 

Desse modo, voltamos à questão inicial, de que ninguém deve ser avaliado pela sua embalagem, mas pelo seu conteúdo. Ninguém pode ser julgado a priori, nem por ter pele escura, nem por ter pele clara, nem por seu gênero, sua orientação sexual, sua religião, sua condição ou aparência física, seu sotaque, sua classe social, seu vocabulário, nem por seu discurso.

 

Ninguém pode ser considerado uma pessoa boa, nem ruim, apenas por ser antirracista, feminista, defensor das pessoas LGBTQIA+, defensor dos animais, por ser vegano, por ter esta ou aquela preferência política, ou por ser militante da causa antipreconceito. A causa que a pessoa defende, por si só, não indica que ela seja uma pessoa boa nem má; são suas ações, sua conduta perante a sociedade que a definirão. E se suas ações não são boas ou não são coerentes, a causa que defende fica prejudicada.

 

O mesmo já não se pode dizer com relação a pessoas que defendem ideias ou posturas que causem sofrimento ou firam a dignidade de outrem. Alguém que nutre ideias preconceituosas que causam opressão a outras pessoas não pode ser boa, por mais que, seja uma pessoa bem posicionada socialmente, que seja, perante a sociedade, aparentemente gentil, educada ou até religiosa.

 

Pessoas com ideias machistas, racistas, homofóbicas podem até ter um verniz de educação, mas suas ideias e posturas, por mais inofensivas que pareçam, são o combustível que gera a opressão e a violência social para com alguns grupos, a injustiça, a indiferença dos governantes, a exclusão, a humilhação de muitos e, em última instância, promovem o genocídio, o feminicídio, o bullying, destroem vidas em suma, sendo corresponsáveis pelas violências que outros cometem com base nas ideias que eles alimentam.

 

O preconceituoso, muitas vezes, justifica seus crimes ou os crimes que outros praticaram pelo fato de que a vítima, na verdade, teria o que merece. Para o homofóbico, por exemplo, pessoas da comunidade LGBTQIA+ é que estariam cometendo delitos, apenas por serem o que são, apenas por existirem. Então, os crimes praticados contra essa população, sejam de injúria, agressão ou homicídio, estariam tacitamente perdoados, porque o homofóbico crê que tais pessoas não deveriam participar da sociedade ou que o fato de serem como são se dá por uma escolha pessoal, e que essa escolha pessoal seria um crime aos seus olhos, o que não é o caso. É somente o preconceito que o mantém na ignorância voluntária, a ignorância da real natureza do outro, do diferente de si mesmo, que ele não compreende e não quer compreender.

 

Em países democráticos, vivemos a liberdade de expressão. Mas essa liberdade de expressão vai até o limite em que posso ferir a dignidade ou a integridade de outro ser humano. Uma pessoa tem o direito de acreditar no que quiser, mas não tem o direito de expressar-se no sentido de ferir o direito de outrem, de ameaçar sua dignidade ou sua vida com discursos de ódio, ainda que esses discursos estejam calcados em crenças religiosas.

 

Enquanto houver pessoas que alimentam preconceitos que atentem contra a dignidade de outrem, haverá holocaustos, chacinas praticadas por policiais, ataques físicos ou morais a pessoas que não pensem como eu ou que sejam diferentes de mim; haverá a tirania da maioria sobre a minoria, a tirania dos mais fortes sobre os mais fracos, a opressão social, a injustiça. É uma violência invisível, naturalizada, normalizada, aparentemente inofensiva, mas que é a causa dos maiores desastres da humanidade.

 


domingo, 3 de abril de 2022

Vinde a Mim

Poema de: Alexandre Paredes 










Quando a coragem parece hesitante

Ou se enfrentas a dor que entristece

Recolhe-te, em silêncio, num instante

Busca o refúgio e o abrigo da prece

 

Se o momento te impele à mudança

Trazendo as tempestades da renovação

Entrega-te à Providência com confiança

E faze a tua parte com trabalho e ação

 

Em meio às tribulações em teu caminho

Que roubam a tua serenidade e a tua paz

Faze da pedra em que tropeças teu arrimo

Evita a reclamação e serve ainda mais

 

Pensamentos mil invadem a tua cabeça

Se o amanhã preocupa, e o ontem, desdita

Fixa no que tens e naquilo que te fortaleça

Respira, focaliza no aqui e agora, e medita

 

Quando a mágoa te tornares amargurado

Desapega-te do mal que feriu teu coração

Deseja o bem a quem te tenha prejudicado

Liberta teu viver com a benção do perdão

 

Diante de todas as inquietações da vida

Lembre Daquele que renunciou à sua glória

Para estar conosco, participar da nossa lida

E fez do Calvário e da cruz a sua vitória

 

Se te encontras cansado ou sobrecarregado

Busca nas palavras de Jesus a real consolação

Ele disse que suave é seu jugo, leve o seu fardo

Mas o caminho é a nossa própria evangelização

 

“Vinde a Mim” foi seu convite inolvidável

Conclamando-nos a darmos o primeiro passo

Na direção da sua paz e seu amor irresistível

Deixando para trás o mal com desembaraço

 

Para ir até Ele, é preciso abrir mão, renunciar

Abandonar os desejos egoísticos, mesquinhos

É necessário à vontade do Criador se entregar

Pois Ele não nos ajuda em nossos desatinos

 

Não adianta querer que o mestre Jesus desça

Ao nível das nossas desvairadas ambições

Ele aguarda que a alma de cada um cresça

Na correção de suas próprias imperfeições

 

É inútil tentarmos inverter o ensinamento

Preferindo esperar que Jesus venha até nós

Para dar-nos carro, casa ou feliz casamento

Cabe-nos praticar Sua palavra, ouvir Sua voz

 

A promessa de alívio a quem se está aflito

Cumpre-se quando largamos o peso do apego

Às coisas materiais, às vaidades, ao conflito

Ao orgulho, ao ressentimento, ao desespero

 

Ninguém se eleva aos Céus se permanecer

Preso às inquietações e ilusões do mundo

Impossível encontrar Jesus sem Nele viver

E sem encontrar para Ele um só segundo

 

Que possamos abrir espaço em nosso dia

Para que o Sol do Seu amor possa nos tocar

E transformar nossas aflições em alegria

Habitar o Céu mesmo antes de lá chegar