sábado, 23 de agosto de 2025

Vencer na Vida

Texto de: Alexandre Paredes 









“Meu filho, para vencer na vida é preciso estudar”, “se esforçar”, “para vencer na vida é preciso muito suor, muito sacrifício”, “para vencer na vida, faça como eu fiz; veja como estou agora, veja o que consegui”.

 

Muitos de nós já devemos ter ouvido alguma fórmula ou algum velho conselho sobre como “vencer na vida”, seja de nossos pais, avós, seja da parte de pessoas que se veem como bem-sucedidas na nossa sociedade, seja de oradores ou de escritores de livros de autoajuda. Mas o que significa, exatamente, “vencer na vida”?

 

Numa visão simplista, aquele que venceu na vida seria o que galgou os melhores postos na sociedade, que alcançou seus objetivos, que atingiu um patamar de vida que tantos almejam, seja no âmbito material, afetivo, seja no campo acadêmico, esportivo, a depender das aspirações que cada um carrega consigo.

 

A primeira pergunta que devemos fazer é: A vida é para ser vencida? O que ganhamos quando a vida é vencida? E quando não vencemos na vida, somos o quê? Perdedores?

 

Boa parte de nós estabelece metas a cumprir, desejos a satisfazer, sonhos a realizar. Muitas vezes, quando alcançamos determinados objetivos, nós os substituímos imediatamente por outros, novas metas, que estão sempre além.

 

E, assim, tendo sempre novos desejos a realizar, mal saboreamos as pequenas realizações que conseguimos, porque, agora, a vitória é aquela montanha lá na frente, e não mais aquele morrinho que ficou para trás. Entre uma vitória e a próxima, somos apenas seres desejantes e insatisfeitos.

 

Mas não é só isso. As realizações que conseguimos nem sempre vêm acompanhadas de satisfação ou felicidade, porque os acontecimentos exteriores nem sempre andam alinhados com o que acontece em nosso mundo interior.

 

Michael Phelps, ex-nadador americano, maior medalhista em Olimpíadas da história, revelou que, no auge da sua carreira, ele quis se suicidar. Não queria mais estar no esporte, não queria mais estar vivo. Passou por um processo de depressão grave. Hoje ele se dedica a causas relacionadas à saúde mental.

 

Esse exemplo nos fala da complexidade do ser humano e de como a vida que sonhamos nem sempre é a vida dos sonhos. Enquanto o mundo aplaudia efusivamente os feitos fantásticos de um grande desportista, que ganhava uma medalha após outra, batia novos recordes a cada nova final, subia, enfim, nos pódios da vida, que talvez muitos de nós almejassem, sua vida interior dizia outra coisa. Uma batalha interior, mais difícil, se travava dentro dele mesmo, enquanto vencia exteriormente.

 

E muitos de nós, pessoas comuns, esquecemos de estar presentes nos momentos mais simples da vida, porque acreditamos não fazerem parte de grandes acontecimentos, grandes vitórias ou realizações. Muitas vezes, vivemos momentos aparentemente sem grande importância, mas que com o passar dos anos, são os que mais valorizamos: a refeição em família, os primeiros passos do bebê, as flores desabrochando com suas cores e perfumes, os momentos em que paramos para assistir um belo pôr do sol, as conversas com aquelas pessoas que não estão mais conosco.

 

Porém, em meio a essas pequenas belezas da vida comum, muitos de nós guardamos frustrações pelas vitórias não alcançadas, os planos desfeitos, as dores de cada dia que cobram seu preço, os desejos não realizados. E entre um desejo e outro, um plano frustrado e outro, em meio às ambições que se sucedem, a vida acontece, com seu cortejo de alegrias, prazeres, conquistas, e também de aflições que parecem nos atingir por um golpe do destino.

 

É muito comum pessoas não muito bem-sucedidas, frustradas, deleitarem-se com o declínio e os tropeços das pessoas famosas, aquelas que, aos olhos do mundo, seriam vistas como as que “venceram na vida”. Citemos o caso de Whitney Houston, famosa cantora americana que teve seu auge artístico na década de 1990. A cantora viveu um casamento conturbado e problemas com drogas.

 

Para muitos, o fracasso na vida pessoal de pessoas famosas é quase um motivo de dissimulada satisfação, provavelmente porque muitos se sentem fracassados perante a própria vida. E ver que uma pessoa de sucesso tem uma vida pessoal conturbada deve trazer algum senso de conforto para quem a critica. No caso da cantora da icônica canção “I Will Always Love You”, lembro de muitos comentários maldosos, por parte de alguns, dizendo que o problema dessas pessoas famosas que enveredam pelas drogas seria a “falta de Deus”.

 

Quando alguém diz isso, no fundo ela quer dizer que aquela pessoa famosa criticada tem tudo – dinheiro, fama, beleza, talento –, mas falta-lhe aquilo que eu tenho: Deus. É uma forma dissimulada de dizer que, em alguma medida, sou superior àquela pessoa vista pela sociedade como uma vencedora, que agora se torna a vítima da minha fofoca. É somente um mecanismo de fuga do nosso ego ferido. Meu comentário maldoso apenas revela a minha própria dor.

 

Se o problema das aflições que assolam a saúde mental de tantos famosos fosse mesmo a falta de Deus, não faria muito sentido o padre e cantor Fábio de Mello sofrer de depressão e ansiedade. Não é só pelo motivo de ele ser padre é que podemos dizer que ele tem Deus no coração. É porque, de fato, toda a sua obra artística, sua sinceridade ao falar, a sabedoria de suas palavras, sua humanidade em revelar publicamente suas dificuldades emocionais, revelam a beleza de sua alma. E, mesmo assim, com toda a bagagem que possui, também é alguém que luta, como todos nós, para encontrar equilíbrio e saúde mental.

 

É alguém que, mesmo com toda a sua popularidade, com todo o seu sucesso, não teve medo de se colocar no mesmo nível que qualquer outro ser humano, que, mesmo diante do destaque perante o mundo exterior, tem também, como todos nós, suas dificuldades interiores, invisíveis aos olhos do mundo.

 

Certa vez, quando o médium Chico Xavier ainda era uma criança, sua professora pediu para que os alunos escrevessem o que cada um queria ser quando crescesse. Então, o Chico respondeu “Feliz”. A turma disse que ele não havia entendido a pergunta. Provavelmente, imaginavam que a resposta deveria ser algo a respeito da profissão que gostaria de exercer, se gostaria de ser astronauta, jogador de futebol, médico, advogado, coisas desse tipo. Mas o Chico respondeu à sua professora, com sua simplicidade de uma criança de 5 anos, que “eles não haviam entendido a vida”.

 

Nada mais verdadeiro do que essa resposta de Chico Xavier. Quando nos sentimos felizes, não sentimos necessidade de buscar fórmulas para alcançar destaque, sucesso, fama, dinheiro, beleza, porque, afinal, para que precisamos disso tudo? Para sermos felizes. E se nos sentimos felizes, não precisamos de nada disso.

 

Quando nos sentimos felizes, não temos necessidade de postar felicidade nas redes sociais, postar sucesso ou mostrar a aparência de que vencemos na vida, de que vendemos sucesso ou de que estamos num relacionamento romântico perfeito. Geralmente, aquilo que mais buscamos mostrar para o mundo, sobre o que possuímos, conquistamos ou alcançamos, é ainda aquilo que nos falta, ou não temos segurança sobre aquilo que mostramos estar em nossas mãos, ou pode ser uma conquista que vem compensar algo mais profundo que falta em nossa vida.

 

Não sei se é uma regra geral, mas quando o produto está escasso é que mais ouvimos falar dele. Quando falamos demais sobre comida é porque estamos com fome. Quando mais falamos sobre sexo, é porque ele não está muito satisfatório em nossas vidas, ou não está sendo suficiente. Quando precisamos mostrar nas redes sociais que temos uma vida de sucesso, é porque talvez não tenhamos tanta convicção sobre isso. Ou é porque a obsessão pelo sucesso me faz esquecer de carências mais graves que tenho em minha vida.

 

A vida mostrada nas redes sociais é uma vida editada. Ela não mostra os momentos de dúvida, de dores silenciosas, os momentos sem glamour, a rotina, a doença, o hospital, nem mostra as carências que a pessoa sofre em outras áreas de sua vida para que aquela imagem de sucesso pudesse acontecer. Então, sim, aquela pessoa pode estar, realmente, vivendo um momento de vitória, mas a que preço? Pode ser o preço de um esforço e de um trabalho edificante. E esse esforço é muito nobre; é aquele que faz a vida valer a pena. Mas pode ser que aquele post de vida bem-sucedida esconda muita dor e desencanto.

 

Uma vida efetivamente feliz dispensaria conteúdos de influencers, dispensaria livros e palestras de autoajuda, retiros espirituais, gurus, dispensaria ideologias políticas e teorias filosóficas – aliás, que prejuízo para muitos seria se as pessoas fossem felizes! –, porque ao estarmos felizes não precisaríamos buscar nada, porque, afinal, tudo o que buscamos, seja a fama, o sucesso, o dinheiro, a saúde, a vitória, nada mais são do que meios para atingirmos um fim, que seria a felicidade. Ocorre que se continuamos buscando coisas, é porque ainda não a encontramos.

 

Ainda é utópico falar de felicidade, pelo menos aquela felicidade imperturbável. Nossa vida aqui neste mundo ainda é de total impermanência. Num dia estamos felizes, ou vivemos momentos felizes, em outro somos surpreendidos por um acontecimento triste ou aflitivo: um ente querido que se foi, um transtorno financeiro, um acidente de carro, uma doença inesperada, uma guerra que nos surpreende, uma bala perdida que nos atinge ou a alguém que muito amamos.

 

A felicidade existe. Conseguimos senti-la, lembrá-la, tocá-la, intui-la, mas ela escapa por entre nossos dedos. Tentamos reviver aquele momento feliz, mas a repetição daquele mesmo momento feliz, daquele momento na praia, do frio na barriga de um encontro apaixonado, do sorriso de uma criança nos dando os bracinhos, não acontece outra vez. Pelo menos, não do mesmo jeito. Cada momento é único e inédito, sempre. A gente pode até viver outros momentos semelhantes e felizes, mas serão outros momentos.

 

Como a felicidade é um bem por demais complexo, acabamos por nos atermos àquilo que nos parece mais tangível. Aliás, a felicidade não é somente “um bem”, mas é “o bem” máximo. Quem busca a felicidade, não a procura para conquistar alguma coisa. Não. Ela é o valor máximo, que se basta por si mesmo, e não é um meio para conquistar um fim, mas é o fim para o qual todos os meios que utilizamos convergem. Tudo o que fazemos, enfim, são apenas meios para atingir um fim – a felicidade.

 

Na ausência ou na impermanência da felicidade, buscamos, então, alguns valores menores, que se parecem com felicidade, soam como felicidade, mas são tão somente a aparência de felicidade. Uma aparência que, de vez em quando, chega a convencer até a nós mesmos sobre como, de fato, estamos. E nos colocamos a pensar: “Tenho um bom emprego, uma bela família, um bom salário, tenho saúde, filhos, mas...” nem sempre isso tudo significa que me sinto feliz.

 

E dizer em voz alta que não me sinto feliz soa até como uma blasfêmia. Muitos dirão, e até nossa própria formação moral e religiosa dizem que eu deveria ser grato. Gratidão é uma palavra muito falada no momento. E, de fato, ela tem um grande significado. Ela vem nos dizer que de nada adianta vencer, conquistar, adquirir, se eu não tiver um senso de percepção do que tenho ou consegui, se eu não desfrutar, saborear e celebrar tudo que tenho. Sem gratidão, a gente vence e não percebe que venceu, a gente vence e não celebra a vitória.

 

A gratidão é aguçar a nossa percepção sobre todas as coisas boas que podemos desfrutar nesse momento. Mas não só isso. Há que se ampliar essa percepção não só para as coisas boas, mas também, para todos aqueles acontecimentos ou experiências amargas, os momentos difíceis, os fracassos, os tropeços, que tanto nos ensinam e nos levam a buscarmos o melhor de nós. É muito importante conseguir sentir gratidão também por todos os degraus que me levaram até aqui e o que estão me levando para além do que sou hoje, e não apenas pelas conquistas alcançadas.

 

Pessoas que tiveram uma biografia de sucesso nos falam dos momentos em que duvidaram de si, dos erros, dos fracassos, que lhes ensinaram mais do que os momentos de acertos e que foram eles que proporcionaram chegar aonde chegaram. É muito famosa a forma como Thomas Edison, o grande inventor e empreendedor norte-americano, inventor da lâmpada elétrica, interpretava suas tentativas fracassadas de atingir seu objetivo de realizar um grande invento: "Eu não falhei, apenas descobri 10.000 maneiras que não funcionam".

 

Ou seja, as nossas derrotas não são derrotas. São apenas escolhas em que descobrimos que aquele caminho, aquela direção tomada não foi boa. E se tomamos aquele caminho e aprendemos que ele não foi bom, aprendemos alguma coisa. Aprendemos, pelo menos, um caminho que não devemos mais seguir. E devemos ser gratos por isso também.

 

Mas ser grato por tudo não deve empanar a honestidade emocional que devemos ter para com nós mesmos. Somente um olhar sincero sobre o que me dói, o que me aflige, pode me fazer ter a percepção do que eu preciso fazer para chegar a uma condição melhor. Enquanto eu estiver somente repetindo o mantra “gratidão” em todas as ocasiões, mas não tiver honestidade emocional para admitir as áreas da minha vida ou situações que me infelicitam, que me afligem, não estarei contribuindo para mudar essas situações. Enquanto eu não olhar para o espinho que está doendo e retirá-lo do meu pé, ele continuará a doer.

 

Acredito que a vida seja mais sobre isso. É sobre aprender. Aprender com as minhas dores, derrotas, lutas, lutos, mas também com as minhas alegrias, vitórias, conquistas. É sobre aprender incessantemente, progredir incessantemente. Não somos perfeitos. Ninguém é perfeito, mas somos perfectíveis. Podemos ser melhores a cada dia. Não melhores do que ninguém, mas melhores do que já fomos. Podemos amadurecer com as experiências, aprender com elas, e usar essas experiências a nosso favor, a favor da nossa felicidade.

 

Mais do que vencer na vida, creio que estamos aqui para vencer a nós mesmos – vencer nossos medos, nossas falsas necessidades, nosso ego ferido, nossos ressentimentos, nosso egoísmo e orgulho. E quando falo em vencer a nós mesmos, não penso exatamente numa batalha em que o homem adulto oprime a criança ferida dentro de nós. Mas penso no adulto de hoje que dá a mão à criança de ontem, que ainda vive hoje dentro de nós. Ou seja, vencer a nós mesmos é nos curarmos. Porque a única pessoa que posso, de verdade, modificar para melhor, ou curar, sou eu mesmo.

 

A gente até pode influenciar pessoas, inspirar muitos a seguir caminhos melhores, ajudar outros tantos a se levantarem e a terem uma vida mais feliz, mas o destino do outro dependerá das escolhas dele, e também dos acontecimentos da vida que ninguém escolhe viver.

 

Porém, o que eu posso fazer por mim mesmo para me tornar uma pessoa melhor só cabe a mim mesmo. E por que me tornar uma pessoa melhor? Para ser feliz. Ainda que, perante o mundo, eu pareça uma pessoa derrotada ou insignificante. Porque, na verdade, que importa o que eu pareço ser perante o mundo? Jesus ensinou-nos, de forma, tão cristalina e profunda: “De que adianta ganhar o mundo inteiro, mas perder a sua alma?” (Mateus 16:26).

 

Jesus de Nazaré, ao final de sua vida aqui na matéria, foi preso, açoitado, humilhado, abandonado pela maioria dos apóstolos no momento do suplício, crucificado. Poderíamos pensar nele como um exemplo de pessoa não bem-sucedida ou um derrotado, segundo os padrões do pensamento imediatista e materialista da vida moderna. Mas, ali na cruz, Jesus estava vencendo, dando um ensinamento supremo de perdão, coragem moral, bondade, misericórdia para com a humanidade, deixando-nos um legado imortal. Era a vitória do amor silencioso sobre o ódio barulhento dos homens.

 

Logo em seguida, deu-nos uma demonstração da vitória da vida sobre a morte, mostrando-nos que o nosso maior patrimônio é a imortalidade da alma, que não perece com a morte do corpo físico. Isso muda tudo. Quando o nosso ponto de vista está aprisionado sobre a pequenez da nossa efêmera vida terrestre, tudo tem que acontecer aqui e agora. Tudo tem que ser imediato. Daí o motivo de termos uma sociedade moderna tão imediatista, consumista, materialista.

 

Temos que vencer na vida hoje, porque o amanhã... bem, o amanhã talvez não exista. Esse é o pensamento de quem só enxerga a vida dentro da perspectiva de que não existe uma vida futura, ou se existe, não tem certeza. Então, toda a felicidade possível de ser alcançada, todo o sucesso possível de ser alcançado, precisa acontecer nesses breves anos que vivemos aqui na Terra.

 

Se considerarmos as pessoas que vivem em locais onde a fome e a miséria destroem sonhos e futuros, as que vivem presas a um leito de hospital, porque sofrem de alguma doença incurável, aquelas que passaram por algum acidente que deixou sequelas irreversíveis, ou tantas outras que vivenciaram situações inimagináveis de sofrimento, compreendemos que as fórmulas de sucesso ou de como vencer na vida nem sempre se aplicam a todos. Aquilo que funcionou para você pode não funcionar para outro, porque cada um vive uma experiência única.

 

E se dissermos para essas pessoas que passam por situações de sofrimento tão difíceis, que elas somente têm essa única existência corporal para alcançarem toda a felicidade possível de ser vivida por um ser humano, a perspectiva é bem sombria. A não ser que possamos falar de uma felicidade que independe completamente de circunstâncias exteriores: a felicidade da paz de consciência ou da alegria da superação dos maiores revezes do destino e ser útil.

 

Neste caso, podemos citar Stephen Hawking, grande físico e cosmólogo britânico, reconhecido por ser uma das mentes mais brilhantes da contemporaneidade, que viveu grande parte de sua vida com uma doença que o manteve preso a uma cadeira de rodas, com quase todos os músculos do seu corpo paralisados. Conseguia comunicar-se com as pessoas por meio de uma tecnologia que captava alguns movimentos da face. O que é mais inspirador em sua história foi o fato de que, apesar de tamanhas dificuldades, ainda assim conseguiu ser brilhante e fazer com que sua vida fosse útil para a humanidade, não só pela sua contribuição à Ciência e ao pensamento, mas, principalmente, por sua disposição em vencer obstáculos que, para muitos de nós, seriam instransponíveis.

 

O mineiro Jerônimo Mendonça, que foi conhecido como o “gigante deitado”, passou por uma doença que o deixou com o corpo imobilizado, preso ao leito desde os seus 20 anos de idade. Mas isso não o impediu de escrever livro e proferir palestras em todo o Brasil, consolando e levando esperança às pessoas. É mais um exemplo de pessoa que venceu na vida, mas de uma forma diferente da que estamos acostumados.

 

Na lápide do túmulo de Allan Kardec, o codificador da Doutrina Espírita que viveu na França do século XIX, encontramos um belo resumo do sentido da nossa existência: “Nascer, viver, morrer, renascer ainda, e progredir sempre, tal é a lei”. Enquanto a visão materialista nos diz que somos meras obras do acaso caminhando em direção ao nada inevitável, a ideia de que estamos aqui neste mundo transitório para aprender algumas lições, realizar algumas coisas e progredir, moral e intelectualmente, de forma infinita, é bastante alentadora.

 

Essa perspectiva não tira de nós o desejo de sermos felizes tanto quanto possível essa existência física nos permitir. Mas ela vem nos dizer também que tudo bem se não está tudo bem. Sempre é tempo para recomeçar, reconstruir e aprender alguma coisa com as lições da vida. Aprender para sermos pessoas mais felizes. Esse é o único objetivo do progresso que adquirimos ao longo de várias reencarnações sucessivas de aprimoramento da nossa alma imortal.

 

Então, voltando às primeiras questões que fizemos no início dessas reflexões: A vida é para ser vencida? Creio que sempre temos coisas a vencer. São nossos desafios. Mas podemos perder e não será nenhuma derrota definitiva, mas tão somente um novo impulso para seguirmos em frente e sermos pessoas melhores. Se não vencemos hoje, recomecemos amanhã. Tentaremos de novo e de novo. Mas a verdadeira vitória não é a vitória sobre o outro, sobre o mundo, é a vitória sobre nós mesmos. Às vezes, aprender a perder pode ser a nossa grande vitória. Uma vitória sobre nosso orgulho, por exemplo.

 

Gosto muito de uma frase de Jonh Lennon: "Tudo vai acabar bem se não acabou bem é porque não foi o final”. Nessa perspectiva de que somos almas imortais, momentaneamente vestindo um corpo, perecível, que adoece, envelhece e morre, vencer na vida talvez seja compreender nosso papel neste momento, qual a lição a ser aprendida, qual o degrau a ser superado, para que possamos chegar ao próximo degrau, qual é, de fato, a vitória que preciso alcançar.

 

Ainda vivemos uma vida imperfeita e longe de ser plena, mas que é exatamente a vida de que necessitamos para nos tornarmos pessoas melhores. Não estamos matriculados nesse curso chamado vida e nessa escola chamada Terra apenas para curtirmos a paisagem ou para termos grandes momentos de sucesso efêmero e passageiro.

 

Nossa grande luta, a grande vitória que precisamos alcançar ainda é a vitória do homem novo sobre o homem velho, o “bom combate”, lembrando Paulo de Tarso. Essa vitória dificilmente obterá os aplausos do mundo, o reconhecimento da multidão, o retorno financeiro, a medalha no peito, mas é para ela que aqui viemos. Todo o resto é ilusão.

 

Podemos alcançar a felicidade ainda neste mundo material, repleto de impermanência, de altos e baixos, de desafios e lutas constantes? Acredito que sim. Mas é mais uma felicidade interior, a felicidade da paz de consciência, a felicidade do bem que se faz, das lágrimas que enxugamos, dos sorrisos que plantamos, da paciência que inspiramos, do amor que fazemos brotar, ou apenas do amor que doamos sem esperar nada em troca.

 

Creio que aquele que chegou a alcançar isso dentro de si encontrou, sem sombra de dúvida, a maior das vitórias neste mundo.

 


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