domingo, 22 de maio de 2011

Sem alarde

Texto de: Alexandre Paredes

A tempestade surge em meio à noite escura e densa, relâmpagos ameaçadores cortam o céu, o mar se agita, o vento forte varre o chão. Contudo, por mais assustadora que tenha sido a tempestade, aparecerá, mais tarde, despontando no horizonte, discretamente, o primeiro raio de Sol e com ele o frescor de uma nova manhã.

As águas do rio caudaloso seguem revoltas, chocam-se violentamente contra as rochas do caminho, arrastam consigo tudo o que está pela frente: folhas, galhos, pedras; parecem querer ultrapassar o limite das margens. Entretanto, visto de cima, o rio mantém o seu curso natural, imperturbavelmente, há milênios.

A humanidade, de tempos em tempos, atira-se deliberadamente às paixões avassaladoras, arrasta consigo o ódio, o crime e todo sentimento insano, parece querer ultrapassar os limites das leis da vida. No entanto, a Justiça Divina segue seu curso natural, infalivelmente, através das sucessivas reencarnações de aprendizado e lutas, trabalho e aflições, a fim de conduzir-nos ao progresso.

A revolta blasfema, vocifera, arma-se contra tudo e contra todos. Porém, mais cedo ou mais tarde, o chamamento do Alto virá, silenciosamente, no íntimo de cada um, em forma de dor oculta, a fim de renovar os caminhos e inocular nos corações novos valores, para uma vida mais bela e elevada.

As guerras que assolam a face da terra espalham o medo e o terror, a morte e a crueldade, destroem cidades e os gérmens da paz e da felicidade entre os homens, mas não conseguirão conter a flor tenra da esperança que desabrocha, sem ser notada, no terreno fértil dos corações oprimidos.

As trevas, de vez em quando, lançam-se contra a luz, numa tentativa desesperada de conter-lhe a ação benéfica de clarear os destinos da humanidade. Contudo, serenamente e sem temor, a luz continua, até hoje, despertando os homens para as grandes realidades da vida.

O orgulho e a vaidade criam monumentos de pedra, constroem muros de prepotência, que separam o mundo entre ricos e pobres, fortes e fracos, grandes e pequenos. Porém, todas as construções do mundo não resistirão à ação do tempo, que segue, inexoravelmente, transformando-as em pó e ruínas, e nivelando a todos, como irmãos, na eternidade.

O mal precisa de muito espalhafato para apoiar-se no vazio que o sustenta, usa da violência para sentir-se percebido, não tem consistência, pois que, no íntimo de cada consciência, todos querem a paz e a felicidade, a luz e a verdade. O bem é calmo, sereno, e por isso mesmo raramente o encontramos, procuramo-lo onde ele não está e o encontramos onde menos esperávamos achá-lo.

A ciência do mundo ostenta sabedoria e conhecimento, gaba-se de suas descobertas e de suas verdades transitórias, que são como pequenas estrelas cintilando na escuridão; ironiza a fé que brota límpida na alma humana. Entretanto, um dia, ao contato das experiências e das lutas terrestres, a verdade há de inundar o interior de cada um, como uma luz insofismável, revelando-nos, secretamente, uma nova ciência, ainda desconhecida: a ciência da vida.

Muitas vezes, procuramos, avidamente, a felicidade na agitação do mundo, no prazer efêmero e fugaz das coisas materiais, nos ruídos da alegria vazia, no brilho das vestes coloridas e das riquezas que não nos pertencem de fato. Contudo, um dia, quando cansados e frustrados, vazios ou amargurados, recolhidos no silêncio de nós mesmos, buscaremos a paz do bem e do amor, e, assim, a felicidade irá nos procurar, pelos canais da espiritualidade superior e entrará devagarinho em nossas vidas, sem fazer alarde.

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