Poema de: Alexandre Paredes
No modelo de sucesso, em nosso tempo, vigente
Não importa o quão cada um de nós seja diferente
Não interessa o que se passa dentro da gente
O que mais vale é ser alguém importante
É conseguir fazer na vida alguma obra relevante
Mesmo que de si mesmo se esteja tão distante
É galgar os melhores postos na sociedade
Ainda que os meios usados para tal finalidade
Sejam menos dignos ou não tão nobres na realidade
Para ser alguém de sucesso, alguém considerado
O mundo enxerga muito mais o fim, o resultado
Enquanto o esforço nem sempre é tão valorizado
Aquele que lutou uma vida inteira, se esforçou
Foi honesto e bom, mas o pódio não alcançou
Para o mundo, será só um loser,
um perdedor
Ainda que ele esteja em paz consigo mesmo
E embora não traga nenhuma medalha no peito
Faça do bem e da arte de viver o seu melhor feito
Quantas pessoas de sucesso existem no mundo
Que para si mesmas não têm um só segundo
Ou que lá no poço já alcançaram o seu fundo
Que sorriem nas selfies
ou que exibem um corpão
Mas que vivem infelizes, à base de medicação
Têm milhares de seguidores, mas sentem solidão
Os bem-sucedidos, em suas dicas, nem sempre falam
Dos seus funcionários e amigos que o ajudaram
Dos pais, mães e professores que o educaram
Às vezes, se esquecem de que nada fizeram sozinhos
E que muitas pedras, por “sorte”, apartadas do caminho
Foram movidas pelo invisível, que guia nosso destino
As dicas de autoajuda para qualquer um se dar bem
São inócuas para aqueles que nem sequer têm
A opção de saírem do leito sem a ajuda de alguém
São frágeis diante daquele que sofre e não superou
A dor ou a violência que, emocionalmente, o arruinou
Pois ninguém passa, exatamente, o que o outro passou
A ideologia do sucesso é movida pela competição
Num mundo governado pelo capital e pela exploração
Numa corrida desigual que nos gera a bela ilusão
De que dos melhores postos todos podem ser ganhadores
E os que não conseguirem é porque são perdedores
Tal sistema de ideias só interessa aos exploradores
Mas é possível entender o sucesso de outro jeito
Na mãe que amamenta e aconchega em seu seio
No que nasce diferente e enfrenta o preconceito
Naquele que descobre a si mesmo e não usa disfarce
No que enfrenta a própria dor e resolve curar-se
Em quem recebe desamor e oferece a outra face
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