segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Pensa

Texto de: Alexandre Paredes

Quando a sombra do desencanto vier acompanhar teus sonhos, pensa naqueles que nunca tiveram condições de sonhar, por se encontrarem na vida em constantes pesadelos, na luta incessante contra a fome e a necessidade, que pedem a atenção permanente e que podem levar ao desespero e à loucura.

Quando te acreditares desamparado, pensa nas crianças que perambulam pelas ruas, sentindo o frio das noites medonhas e escuras, pedindo pelo aconchego de um braço materno ou pela orientação de um pai austero, que possam evitar a precipitação nos abismos do vício.

Quando te encontrares enfermo, pensa naqueles que jazem nos leitos dos hospitais, sem a presença de nenhum rosto familiar, tendo por companhia apenas o medo da morte, padecendo terríveis dores físicas e morais de moléstias incuráveis.

Quando perderes a esperança, pensa nos criminosos que se amontoam nas celas inóspitas dos presídios, torturados pelo remorso e a revolta, algemados nas correntes do ódio e do sentimento de vingança.

Quanto te queixares pelo cansaço, pensa nos paralíticos, nos aleijados, nos deficientes de toda sorte, que, na imobilidade das forças físicas, dariam tudo para poderem trabalhar e servir.

Quando perderes alguma posição no mundo, pensa naqueles que já abandonaram a vestimenta carnal, a fim de assinalares o verdadeiro significado da riqueza, da fama, do poder ou do sucesso temporal.

Quando te encontrares satisfeito em todas as tuas necessidades, pensa naqueles que dormem nos prazeres efêmeros da vida material - esquecidos de que a vida é simples passagem, que requer de nós trabalho e engrandecimento - para depois despertarem na vida espiritual sob completa miséria moral.

Quando te sentires feliz, pensa nos desvalidos, nos estropiados, nos desequilibrados, nos tristes, a fim de que, compartilhando da tua felicidade, possas multiplicá-la.

Quando te considerares sem motivos para viver, pensa naqueles que estão à beira do precipício do suicídio, ou naqueles que já tiraram a própria vida, socorrendo-os com a tua solidariedade e, assim, certamente encontrarás uma forte razão para viver.

E quando nada disso vier a sensibilizar ou transformar a tua posição mental, pensa naquele que se deixou imolar na cruz, humilhado e abandonado, a fim de aliviar os nossos pesados sofrimentos; aquele que pronunciou o "vinde a mim" e ofereceu-nos o "jugo suave" e o "fardo leve". Embora não tenhamos, com frequência, pensado nele, ele continua, até hoje, pensando em nós.

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